Drones Fornecidos por Irão e EAU Ameaçam Prolongar o Conflito no Sudão

EQUIPA DA ADF

Desde Janeiro, aviões de carga iranianos têm sido vistos regularmente no aeroporto de Port Sudan, sede da junta governativa do Sudão liderada pelo General das Forças Armadas do Sudão (SAF), Abdel Fattah al-Burhan. Pouco depois de esses aviões terem começado a chegar, as SAF lançaram ataques contra as Forças de Apoio Rápido (RSF) rivais, utilizando drones Mohajer-6 de fabrico iraniano.

Entretanto, os Emirados Árabes Unidos e a Rússia, através da organização mercenária Africa Corps, forneceram às RSF armas, combustível e outros recursos, incluindo drones do tipo quadricóptero equipados para transportar e lançar morteiros de 120 mm. As SAF também recorreram a esta técnica.

Os drones tornaram-se uma componente fundamental da guerra entre as SAF e as RSF, em que dois generais concorrentes lutam pelo controlo dos recursos naturais do país. Muitos desses veículos aéreos não tripulados são provenientes do Irão, da Rússia ou dos Emirados Árabes Unidos. Estes países apoiam as forças opositoras do Sudão na esperança de obterem os seus próprios benefícios quando a guerra terminar.

Embora alguns drones sejam fabricados no Sudão, o afluxo de drones provenientes do estrangeiro viola o embargo de armas imposto pelas Nações Unidas ao Sudão.

Grande parte da ajuda da Rússia e dos EAU tem chegado através dos países vizinhos de Chade e Líbia. De acordo com um relatório das Nações Unidas, os EAU forneceram às RSF ajuda disfarçada de entregas humanitárias a pessoas deslocadas abrigadas no Chade.

O Africa Corps, anteriormente conhecido como Grupo Wagner, utilizou as suas ligações na Síria e no leste da Líbia para contrabandear mísseis terra-ar e outras armas para as RSF. Entretanto, o governo russo está a apoiar oficialmente as SAF, enquanto o Presidente Vladimir Putin procura um ponto de apoio russo ao longo da costa sudanesa do Mar Vermelho.

Os EAU, que procuram o seu próprio posto avançado no Mar Vermelho, no Sudão, forneceram os mesmos drones quadricópteros a aliados em zonas de conflito como a Etiópia e o Iémen, segundo Brian Castner, especialista em armas, na Amnistia Internacional.

As RSF utilizaram os seus drones para atacar posições das SAF, mas também os utilizaram para lançar ataques a instituições civis, como um hospital em Omdurman em 2023. As SAF também utilizaram drones no início do conflito contra locais civis, incluindo um mercado frequentado por combatentes das RSF, onde pelo menos 40 pessoas morreram durante um ataque de drones das SAF.

A chegada dos drones iranianos ajudou as SAF a passar à ofensiva contra as RSF e a recapturar a emissora estatal e as zonas circundantes de Omdurman, a maior cidade do Sudão, este ano.

Desde o início dos combates, em Abril de 2023, mais de 15.000 pessoas morreram e milhões de outras foram obrigadas a fugir para salvar as suas vidas. Os peritos acreditam que estes números estão dramaticamente subestimados porque uma grande parte do país continua inacessível às equipas de avaliação.

Os peritos médicos dizem que as crianças e as mulheres grávidas estão a morrer de doenças facilmente tratáveis no Darfur do Norte porque os ataques aos hospitais fecharam as infra-estruturas médicas da região.

De acordo com os especialistas, dado o impacto que tiveram no conflito, é provável que os drones que entram no Sudão mantenham o conflito, apesar dos apelos internacionais para uma resolução negociada. Em Maio, as SAF recusaram-se a regressar às conversações de paz em Jeddah, na Arábia Saudita.

“Se os EAU retirarem o seu apoio e cortarem os laços com a RSF hoje, há 80% de hipóteses de a guerra acabar amanhã,” Hamid Khalafallah, especialista sobre o Sudão e investigador doutorado da Universidade de Manchester, no Reino Unido, disse ao Financial Times, em Janeiro.

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