Conflito do Sudão Alastra-se para o Norte da RCA e Complica a Segurança
EQUIPA DA ADF
A guerra do Sudão começou a alastrar-se para a República Centro-Africana numa altura em que ambos os lados da luta conduzem operações ao longo da fronteira sudoeste do Sudão.
De acordo com as Nações Unidas, as Forças Armadas do Sudão (SAF) lançaram ataques aéreos contra as posições das milícias ao longo da fronteira e as Forças de Apoio Rápido (RSF) paramilitares recrutaram combatentes de grupos rebeldes da RCA.
Entretanto, a RCA, que continua mergulhada no seu próprio conflito violento de 11 anos, tornou-se um refúgio para mais de 31.000 sudaneses que fogem dos combates no seu próprio país. Muitos desses sudaneses estão abrigados em zonas remotas das prefeituras de Vakanga e Haute-Kotto, na RCA, onde estão fora da protecção do governo.
Os observadores disseram à Corbeau News Centrafricaine que os sudaneses deslocados estão a viver sem água potável, medicamentos e alimentos. Os líderes locais da RCA apelaram ao governo para que fizesse mais para ajudar.
“O efeito de propagação do conflito no Sudão afectou significativamente a situação na República Centro-Africana,” afirmou o Painel de Peritos das Nações Unidas sobre a RCA no seu relatório ao Conselho de Segurança.
As RSF controlam os postos fronteiriços com a RCA no Darfur Central e no Darfur do Sul. O General Mohamed Hamdan “Hemedti” Dagalo, líder das RSF, ordenou o encerramento da fronteira em 2022 para impedir uma presumível tentativa de derrube da liderança da RCA.
Hemedti reabriu a fronteira e Um Dafuq em Janeiro de 2023, três meses antes do início dos combates com as SAF, no dia 15 de Abril de 2023. Desde então, a fronteira com a RCA tornou-se um ponto de trânsito para a livre circulação de armas e combatentes que alimentam os conflitos na RCA e no Sudão.
“Foi relatado que grupos armados da oposição da República Centro-Africana recrutaram activamente e enviaram membros dos seus próprios grupos para combater no Sudão sob a égide das RSF,” relatou o Painel de Peritos.
Entre esses recrutas encontram-se combatentes rebeldes da Frente Popular para o Renascimento da África Central (FPRC), que controla partes da prefeitura de Vakanga, no norte da RCA, junto à fronteira sudanesa. Por sua vez, os combatentes da FPRC estão a utilizar o território sudanês para lançar os seus próprios ataques na RCA.
Os observadores notam que a relação das RSF com a FPRC é contrária ao apoio de Hemedti à liderança da RCA em Bangui. Ambos os grupos partilham uma relação de longa data com o Africa Corps da Rússia, o grupo de mercenários anteriormente conhecido como Grupo Wagner.
O relatório da ONU identifica Habib Hareka, figura das RSF, como um dos recrutadores que faz passar os combatentes através da fronteira a partir de Am Dafok, Sam Ouandja, das minas de Ndah e da prefeitura de Haute-Kotto. Os combatentes acabam por ir parar a Nyala, a capital do Darfur do Sul e uma ligação estratégica entre a RCA e o Sudão. As RSF controlam Nyala desde Outubro de 2023.
Para além dos esforços de recrutamento das RSF, as repercussões da guerra no Sudão estão a ter outros efeitos na RCA. A região fronteiriça entre Am Dafok e Um Dafuq é um ponto crucial para o transporte de mercadorias dos portos do Sudão para as zonas orientais da RCA sem litoral. A guerra do Sudão está a perturbar esse comércio, aumentando drasticamente o preço dos alimentos e de outros recursos em Vakanga e noutros locais.
Os peritos da ONU para a RCA instaram o governo de Bangui a bloquear os recrutadores das RSF e os combatentes estrangeiros no seu território e a pôr termo ao fluxo de armas impulsionado pelo conflito sudanês.
O movimento de combatentes e de armas através da fronteira entre a RCA e o Sudão e os ataques aéreos das SAF em resposta representam “uma ameaça grave e duradoura para a estabilidade regional,” referiram os peritos.
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