Turquia Envia Mercenários Sírios para Níger
EQUIPA DA ADF
A poucos quilómetros da fronteira entre a Turquia e a Síria, na base de Al-Muksourah, na zona rural de Tel Abyad, oficiais militares turcos supervisionaram um curso de formação destinado a preparar os seus participantes para operações no Níger.
Centenas de militantes de várias facções armadas que operam sob a bandeira do “Exército Nacional Sírio” foram recrutados nos últimos meses por oficiais dos serviços secretos turcos e treinados pelos militares turcos nas zonas do centro-norte e noroeste da Síria controladas pelo seu vizinho do norte.
Rami Abdulrahman, director do Observatório Sírio de Direitos Humanos, confirmou que a Turquia enviou mercenários sírios para o Níger para proteger “projectos e interesses” de Ancara.
“Confirmámos que cerca de 1.100 combatentes sírios já foram enviados para o Níger desde Setembro do ano passado,” disse à Voz da América, acrescentando que a sua motivação é puramente financeira — um salário mensal de 1.500 dólares.
“Os feridos em combate recebem até 30.000 dólares de indemnização. Para os que morrem, as suas famílias recebem até 60.000 dólares.”
Um mercenário, conhecido pelo pseudónimo Omar, explicou por que razão estava entre o primeiro grupo de combatentes sírios que aproveitaram a oportunidade.
“A principal razão pela qual parti é porque a vida é difícil na Síria,” disse à Agence France-Presse a partir do Níger. “Não há oportunidades de emprego [no norte da Síria] para além de juntar-se a uma facção armada e ganhar não mais de 1.500 liras turcas (46 dólares) por mês.”
Omar e um outro combatente, de nome Ahmed, alistaram-se na facção do Sultão Murad, um dos mais fiéis substitutos da Turquia no norte da Síria. Assinaram contratos de seis meses com a Sadat International Defense Consultancy, uma empresa militar privada turca.
“Os oficiais de Sadat entraram na sala [no quartel-general do Sultão Murad] e assinámos o contrato com eles,” Ahmed disse à AFP.
Os mercenários pró-Turquia foram destacados para a região de Liptako-Gourma, também conhecida como a zona da tríplice fronteira entre o Burquina Faso, o Mali e o Níger. Desde 2012, a zona tem sido o epicentro do terrorismo levado a cabo por grupos afiliados à al-Qaeda e ao grupo Estado Islâmico.
“No Níger, os mercenários sírios devem guarnecer minas, instalações petrolíferas ou bases militares,” Abdulrahman disse ao jornal francês Le Monde num artigo de 7 de Junho. “Mas depois vêem-se envolvidos em combates contra grupos jihadistas. Nove destes combatentes sírios morreram até à data.”
Com os mercenários russos já destacados para o Níger, a adição de combatentes sírios pró-turcos suscitou preocupações quanto ao agravamento das tensões étnicas e religiosas já latentes na região.
Embora Abdulrahman tenha dito que os turcos e os russos estão a cooperar no Níger, o chefe da Sadat, Melih Tanriverdi, tentou distanciar e diferenciar a sua empresa do famoso Grupo Wagner russo, agora conhecido como Africa Corps.
“Chamo ao sector em que nos encontramos o sector de serviços da indústria da defesa,” disse numa entrevista em vídeo de 2023 ao site noticioso turco Haberler. “O que [o Grupo Wagner] está a fazer em África é muito obscuro.
“Prestamos serviços de consultoria estratégica ao sector dos serviços da indústria da defesa. Trabalhamos no departamento de serviços de educação e também temos serviços de logística.”
Nicholas Heras, especialista sobre Médio Oriente, na organização de investigação New Lines Institute, afirmou que as recentes acções da Turquia no Níger são outro exemplo da sua intenção de expandir a sua influência em África.
“É muito claro que, no Níger, a Turquia está apenas a alargar uma política que vê África como uma área clara de crescimento para a Turquia em termos de interesses comerciais e militares, e em termos de alargamento do poder da Turquia no mundo,” disse à VOA.
As relações entre a Turquia e o Níger cresceram na última década, sobretudo através de “ajuda humanitária, desenvolvimento e comércio,” segundo a investigadora do Sahel, Gabriella Korling, da Agência Sueca de Investigação em Defesa.
“A componente de defesa da relação entre o Níger e a Turquia tornou-se mais importante ao longo do tempo com a assinatura de um acordo de cooperação militar em 2020 e a venda de drones armados,” disse à AFP.
Os peritos em segurança também prevêem que Sadat continuará a sua expansão na região do Sahel, principalmente porque os regimes de junta procuram uma alternativa às forças mercenárias fornecidas pela Rússia, como o Grupo Wagner.
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