Países Utilizam uma Abordagem Antiterrorista Alternativa: Desenvolvimento Económico

EQUIPA DA ADF

Após anos de luta contra o terrorismo no Sahel, os especialistas dizem que um instrumento antiterrorista tem sido muito negligenciado: o desenvolvimento económico.

A criação de emprego e o crescimento económico podem dar resposta às queixas das pessoas que se sentem ignoradas pelos seus governos, bem como dar aos jovens esperança no futuro, segundo Mutaru Mumuni Muqthar, director-executivo do Centro de Combate ao Extremismo da África Ocidental, sediado no Gana.

“Os elevados níveis de desemprego juvenil, a pobreza e o acesso limitado à educação e às oportunidades económicas podem criar um sentimento de desespero e frustração,” escreveu Muqthar no site do seu grupo. “Os grupos extremistas podem explorar estas queixas oferecendo incentivos financeiros, oportunidades de emprego ou serviços sociais para recrutar jovens vulneráveis.”

Segundo Muqthar, os terroristas aproveitam-se das vulnerabilidades da sociedade e transformam frequentemente as queixas, como o desemprego elevado ou a falta de serviços públicos, em violência contra as populações locais.

As políticas de desenvolvimento social e económico, por outro lado, contribuem para a expansão de uma nova classe média nas comunidades que tradicionalmente apoiam os grupos terroristas, segundo Kim Cragin e Peter Chalk, investigadores da Rand Corp.

“Em muitos casos, esta parte da população reconhece os benefícios económicos da paz e, consequentemente, trabalha para inibir o apoio local às actividades terroristas,” escreveram Cragin e Chalk na sua análise.

A este respeito, os países ao longo do extremo sul do Sahel oferecem um exemplo de como utilizar o desenvolvimento económico como um instrumento de luta contra o terrorismo. As juntas militares que governam o Burquina Faso, o Mali e o Níger continuam envolvidas em confrontos militares mortíferos com os extremistas — confrontos que alimentam as queixas que levam ao extremismo.

Em contrapartida, o Grupo Internacional de Crise (ICG) salientou recentemente que a Costa do Marfim respondeu às incursões extremistas com uma combinação de reforços de segurança e investimentos económicos destinados a afastar o extremismo, aliviando a pobreza nas regiões do norte do país. O aspecto económico inclui estágios para jovens e facilidades financeiras que podem conceder crédito aos residentes para ajudar a expandir as oportunidades de negócio.

Em parte, devido a esse facto, o país não assistiu a um ataque de grandes proporções desde o início de 2022, observou o ICG num relatório de 2023.

“A abordagem dupla que o governo da Costa do Marfim adoptou na gestão da ameaça jihadista contribuiu provavelmente para impedir os ataques,” escreveu o ICG. “No entanto, a Costa do Marfim não se pode dar ao luxo de ser complacente.”

As fronteiras porosas com os países do Sahel tornam a Costa do Marfim, o Gana e outros países da margem sul do Sahel vulneráveis a incursões de extremistas. Segundo o ICG, este facto torna ainda mais importante que os governos melhorem a segurança e a qualidade de vida ao longo das suas fronteiras setentrionais.

O desafio, porém, é este: o extremismo que os países do Sahel poderiam erradicar com o desenvolvimento económico torna esse desenvolvimento quase impossível. A insegurança faz com que os investidores se afastem, segundo os especialistas.

“Com a ameaça do terrorismo, as transacções comerciais normais e as actividades de consumo exigem mais tempo, mais segurança e — porque implicam um risco maior — muitas vezes também uma compensação mais elevada,” escreveu recentemente o economista David Gold numa análise dos impactos económicos do terrorismo.

Os investidores que têm sucesso em países que enfrentam o extremismo tendem a ser aqueles que produzem “bens relacionados com conflitos” em vez de artigos feitos para os consumidores ou para exportação, de acordo com as Nações Unidas. Além disso, as despesas do governo com a segurança representam dinheiro que não é canalizado para a educação e infra-estruturas que podem melhorar a economia de uma região.

Um estudo das Nações Unidas estimou que o terrorismo custou ao continente africano mais de 119 bilhões de dólares em perdas de crescimento económico entre 2007 e 2016.

No Burquina Faso, que actualmente lidera a lista de países em termos de actos de terrorismo, a violência expulsou mais de 2 milhões de pessoas das suas casas, encerrou escolas, fechou hospitais e paralisou praticamente grande parte da economia nacional. Segundo os especialistas, o colapso da economia do país alimenta, por sua vez, uma maior insegurança. No entanto, o investimento em programas sociais e a construção de economias locais podem reduzir essa insegurança e, com ela, a atracção do extremismo — como demonstra a Costa do Marfim.

“De um modo geral, a Costa do Marfim está no caminho certo e deve continuar a seguir as estratégias que o governo pôs em prática para reforçar a segurança ao longo das suas fronteiras do norte, bem como os programas para aliviar a pobreza e o desemprego na região,” escreveram os analistas do ICG.

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