Forças Armadas do Sudão Aceitam Base Russa no Mar Vermelho em Troca de Armas

EQUIPA DA ADF

Atoladas na sua luta contra as Forças de Apoio Rápido (RSF) paramilitares, as Forças Armadas do Sudão (SAF) parecem dispostas a conceder à Rússia, em troca de armas, um ponto de apoio há muito desejado no Mar Vermelho.

“O Exército precisa desesperadamente de armas, munições e peças sobresselentes para os seus aviões de guerra de fabrico russo,” o analista sudanês Osman Al Mirghany disse ao North Africa Post. “Oferecer à Rússia uma base naval em troca destes é a sua melhor opção.”

Autoridades sudanesas reuniram-se com os seus homólogos russos à margem do recente Fórum Económico Internacional em São Petersburgo para discutir a criação de uma base naval russa. A reunião reavivou as conversações iniciadas em 2007, durante o regime do antigo ditador Omar al-Bashir.

As conversações foram interrompidas após o golpe de Estado de 2019 que afastou al-Bashir do poder, mas o chefe das SAF, General Abdel Fattah al-Burhan, chefe do Conselho de Soberania de Transição do Sudão e presidente de facto do Sudão, reavivou-as face à forte oposição das RSF.

Durante as conversações em Abril, o Vice-Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Mikhail Bogdanov, prometeu ao governo sudanês “ajuda militar qualitativa sem restrições,” segundo o Sudan Tribune. Isso poderia incluir tropas russas em solo sudanês, disse Bogdanov.

O tenente-general sudanês, Yasir al-Atta, sublinhou que a base russa se destinaria à logística e ao reabastecimento, e não a uma instalação naval totalmente equipada. Afirmou que o Sudão poderia estar aberto à possibilidade de outras nações estabelecerem operações em solo sudanês, à semelhança do que acontece em Djibouti.

Os analistas dizem que o acordo é mais uma prova das ambições da Rússia de expandir as suas operações em África. Estas operações incluem dois países que fazem fronteira com o Sudão — a Líbia e a República Centro-Africana — através dos quais as RSF receberam ajuda do mercenário Grupo Wagner.

Uma questão mais importante é saber se o acordo com a Rússia marca uma mudança na estratégia russa de jogar em ambos os lados do conflito sudanês.

Desde o início dos combates, o governo russo tem apoiado as SAF, enquanto o seu grupo mercenário Africa Corps (antigo Grupo Wagner) continua aliado das RSF, que controlam importantes minas de ouro no oeste do Sudão. A Rússia depende dessas minas de ouro para contornar as sanções internacionais e financiar a sua invasão à Ucrânia.

Dados do Banco Central do Sudão mostram que, entre Fevereiro de 2022 e Fevereiro de 2023, o Grupo Wagner e as suas filiais Meroe Gold e M Invest contrabandearam cerca de 1,9 bilhões de dólares em ouro para fora do país, um montante quase igual ao das operações mineiras legítimas do Sudão em 2022.

Os combates entre as SAF e as RSF interromperam algumas das operações russas de ouro, o que poderá levar a Rússia a reduzir a sua relação com as RSF, segundo o analista Liam Karr, do Instituto para o Estudo da Guerra.

As SAF têm o seu próprio acesso às reservas de ouro do Sudão.

“A mudança do apoio russo a favor das SAF pode libertar recursos russos para serem utilizados na Ucrânia e noutras partes de África,” Karr escreveu recentemente. Por outro lado, Samuel Ramani, investigador do Royal United Services Institute, argumenta que a estratégia sudanesa da Rússia de jogar em ambos os lados é uma forma de proteger as suas apostas.

“Eles reconhecem que, no final, nenhum dos lados será capaz de destruir completamente o outro,” Ramani disse ao The New Arab. “Os russos gostariam de manter laços estreitos com quem quer que esteja no poder quando tudo isto acabar.”

Uma coisa está clara para os observadores: o acordo da Rússia com os militares sudaneses poderá aumentar o nível de violência no país devastado pela guerra.

“Embora seja improvável que as manobras diplomáticas da Rússia venham a dar um apoio decisivo às SAF, a criação de alianças baseadas na aquisição de armas e no reforço da cooperação militar não é um bom presságio para a possibilidade de uma resolução política do conflito sudanês a curto prazo,” o analista Elfadil Ibrahim escreveu recentemente para o The New Arab.

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