Com o Fim da SAMIM, Tanzânia Permanece em Moçambique para se Proteger do Terrorismo
EQUIPA DA ADF
À medida que os membros da Missão da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral em Moçambique (SAMIM) começam a retirar-se da região de Cabo Delgado, a Tanzânia está a desenvolver uma estratégia para se proteger do ressurgimento do terrorismo na sua fronteira sul.
A Força de Defesa Popular da Tanzânia (TPDF) faz parte da SAMIM, ao mesmo tempo que opera uma missão separada de 300 pessoas no distrito de Nangade, em Cabo Delgado, que fica no interior dos principais focos costeiros da região, Palma e Mocímboa da Praia.
Nangade está separada da Tanzânia pelo pouco profundo Rio Rovuma. Aqui, a pobreza e o ressentimento da população face à falta de oportunidades económicas criam um ambiente propício ao recrutamento de extremistas.
Nos últimos dois anos, Nangade tem sido um ponto focal para a SAMIM, que pôs termo, em grande medida, aos ataques transfronteiriços na Tanzânia. No entanto, o recrutamento de extremistas está a decorrer, segundo informou o General Jacob John Mkunda, chefe das forças de defesa da Tanzânia, no início deste ano.
“As redes terroristas têm estado a recrutar os nossos jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 35 anos e a transportá-los para se juntarem a grupos terroristas em países como a RDC (República Democrática do Congo), Moçambique e Somália,” Mkunda disse aos comandantes da defesa em Janeiro.
No ano passado, as forças da SAMIM, juntamente com as tropas da Força de Defesa do Ruanda e as forças armadas moçambicanas, conseguiram eliminar cerca de 90% dos terroristas da al-Sunna Wal Jammah (ASWJ) ligados ao grupo do Estado Islâmico. As forças reduziram o grupo de vários milhares de combatentes espalhados pelo nordeste de Moçambique para algumas centenas escondidos na floresta de Catupa.
Também conhecidos como Estado Islâmico de Moçambique, os terroristas do ASWJ começaram a fazer sentir a sua presença novamente nos últimos meses, encorajados pela retirada das tropas da SAMIM, planeada para Julho. O Botswana e o Lesoto já retiraram as suas forças. Angola e Namíbia estão a preparar-se para sair.
Recentemente, os extremistas invadiram zonas que tinham estado à margem da luta com a SAMIM.
Em Março, 300 terroristas ocuparam Quissanga, uma capital de distrito na costa a sul de Mocímboa da Praia. Enquanto lá estavam, decapitaram três membros das forças de segurança na vizinha Ilha das Quirimbas. Em Maio, 100 terroristas atacaram a cidade de Macomia, obrigando as tropas moçambicanas a recuar e provocando a fuga dos habitantes da cidade. Os combatentes saquearam lojas e armazéns de alimentos antes de se retirarem, segundo o site Cabo Ligado, que acompanha o terrorismo naquela zona.
Em resposta à mudança de condições, a África do Sul, que enviou a maior parte das tropas da SAMIM, comprometeu-se a permanecer em Moçambique até ao final do ano. No entanto, as forças sul-africanas estão subfinanciadas e enfrentam escassez de equipamento crucial, como helicópteros. O Ruanda, que fez recuar uma incursão terrorista na província de Nampula, planeia aumentar o seu número de tropas para compensar a diminuição das forças da SAMIM.
Por seu lado, a Tanzânia tenciona permanecer no terreno em Cabo Delgado para se proteger contra novos recrutamentos transfronteiriços. As autoridades tanzanianas receiam que os recrutas do Estado Islâmico de Moçambique possam regressar para lançar ataques terroristas contra a Tanzânia. Consequentemente, a TDPF iniciou uma campanha de “desradicalização” nas comunidades fronteiriças da Tanzânia para combater o potencial recrutamento de terroristas.
A missão da TDPF em Nangade representa uma estratégia destinada a confrontar os terroristas antes que estes possam atravessar o rio para causar caos na Tanzânia.
“É importante notar que a fronteira com Moçambique tem sido historicamente difícil de defender, e a Tanzânia teve muitas vezes de posicionar os seus contingentes prontos para a batalha nas proximidades,” o analista Dastan Kweka escreveu recentemente para o The Chanzo.
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