Acusações de Suborno Revelam Expansão da ‘Legião Africana’ Russa na Líbia

EQUIPA DA ADF

No final de Abril, as autoridades russas detiveram um alto funcionário da defesa acusado de suborno em grande escala. Uma investigação que levou à detenção do Major-General Timur Ivanov revelou um rasto de corrupção e os esforços contínuos do Kremlin para expandir a sua influência na Líbia, informou o jornal The Libyan Observer.

A investigação sobre Ivanov, responsável pelos trabalhos de construção do Ministério da Defesa, revelou a sua relação com a “Legião Africana,” que coopera directamente com o Marechal Khalifa Haftar, líder do Exército Nacional Líbio (LNA), baseado em Benghazi.

Haftar está empenhado em tomar Trípoli e derrubar o Governo de Acordo Nacional da Líbia, reconhecido internacionalmente.

A Legião Africana foi criada após reuniões no final de 2023 entre representantes líbios e russos, incluindo o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, e Haftar, que pediu apoio adicional para o seu lado da actual guerra civil na Líbia.

A sede do novo grupo situar-se-á na Líbia. Espera-se que seja activado este Verão e que também opere no Burquina Faso, na República Centro-Africana, no Mali e no Níger, de acordo com um artigo da revista Military Africa, produzido com base numa reportagem do jornal russo Vedomosti.

A Legião Africana estará directamente subordinada ao Ministério da Defesa da Rússia. Será composta por cerca de 50.000 antigos membros do Grupo Wagner paramilitar russo — agora conhecido como Africa Corps — e por consultores de segurança privada associados a empresas russas que trabalham em África.

“O objectivo estratégico do Kremlin é reforçar a sua influência no continente africano, onde já controla uma parte das minas de diamantes, reservas de petróleo e depósitos minerais valiosos, tirando partido da força militar para garantir e expandir os seus interesses na região,” Dylan Malyasov, editor do Defence Blog, uma plataforma internacional de notícias militares e de segurança sediada na Polónia, escreveu em Abril.

De acordo com a rede Diplomatic Courier, a Legião Africana terá três objectivos principais:

  • Exercer controlo sobre as bases militares africanas e explorar os depósitos de recursos minerais. O Grupo Wagner começou a controlar minas de ouro na República Centro-Africana e no Mali há vários anos.
    “Este papel será provavelmente entregue à Legião Africana,” o analista Elia Preto Martini escreveu para o Diplomatic Courier.
  • Prestar serviços de segurança e de formação militar às forças africanas. Uma unidade de 100 especialistas militares russos chegou ao Burquina Faso este ano para proteger o líder da junta, Ibrahim Traoré, de tentativas de assassinato.
  • Influenciar os fluxos migratórios no Mar Mediterrâneo, uma táctica destinada a exercer pressão sobre a Europa. O The Telegraph noticiou recentemente que a Rússia tem um plano secreto para criar uma força policial fronteiriça com 15.000 efectivos para controlar as rotas migratórias.“Esta força pode afectar as eleições europeias, restringindo ou inundando o fluxo de pessoas em alguns momentos particularmente críticos,” escreveu Martini.

A Rússia já planeia construir uma base naval na cidade portuária líbia de Tobruk, onde os seus efectivos poderão influenciar o tráfego no Mediterrâneo, aumentar o contrabando e talvez perturbar a navegação, noticiou a Newsweek. Os membros da Legião Africana receberão um salário mensal de 280.000 rublos (cerca de 3.100 dólares), superior aos salários anteriormente auferidos pelos combatentes do Grupo Wagner.

A Legião Africana é completamente separada do Grupo Wagner, que tem treinado tropas sob o comando de Haftar desde, pelo menos, 2018. O Grupo Wagner permaneceu na Líbia após a morte, em Agosto de 2023, do seu líder, Yevgeny Prigozhin, e os analistas acreditam que o grupo permanecerá — como Africa Corps.

“Haftar precisa do Grupo Wagner,” Tarek Megerisi, membro sénior do Conselho Europeu de Relações Externas, disse à Al Jazeera em Fevereiro. “Além disso, enquanto os acolhe na Líbia, [o Grupo Wagner] pode utilizar a sua posição para apoiar operações na Síria, no Sudão e em outros locais.”

Megerisi disse que o grupo também usa a sua posição para traficar drogas da Síria, traficar migrantes e transportar ouro ilegalmente.

“A Líbia é uma zona extremamente lucrativa” para o grupo, afirmou.

Em meados de Abril, os caças e o equipamento militar do Africa Corps começaram a chegar através de aviões de carga a Brak al-Shati, no sul da Líbia, e de navios de carga a Tobruk.

As 6.000 toneladas de equipamento militar incluíam veículos ligeiros e pesados, tais como camionetas, e artilharia antiaérea ZU-23-2, noticiou a Newsweek. As anteriores remessas russas incluíram equipamento de radar, ferramentas de comunicação e tanques T-72.

Os combatentes do grupo também estão “pessoalmente envolvidos na operação de contrabando de combustível que está a dominar a Líbia,” Alia Brahimi, membro sénior não residente dos Programas do Médio Oriente no Atlantic Council, escreveu para a Newsweek.

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