EQUIPA DA ADF
O conflito armado regressou à cidade de Alamata, no norte da Etiópia, com os combates mais graves desde o fim da guerra de Tigré, em 2022.
A cidade e o woreda ou distrito circundante situam-se num dos dois territórios disputados pelas regiões de Tigré e de Amhara — terras contestadas que têm sido um foco de descontentamento étnico durante décadas.
Mais de 50.000 pessoas, principalmente Amhara, foram obrigadas a fugir das suas casas no woreda de Alamata, devido aos confrontos esporádicos entre militantes tigrenhos e amhara em Fevereiro, Março e Abril.
“A situação humanitária é terrível, com milhares de mulheres e crianças a necessitarem de apoio humanitário para sobreviverem,” disseram as Nações Unidas no dia 22 de Abril.
O recrudescimento dos combates resulta da aplicação do frágil Acordo de Pretória, que pôs fim a uma guerra de dois anos, mas deixou por resolver a questão do território em disputa.
As milícias Amhara lutaram ao lado do exército federal contra a Frente de Libertação do Povo do Tigré (TPLF) durante a guerra e assumiram o controlo dos territórios contestados, designados na Constituição federal como Zona Ocidental e Zona Sul da região de Tigré.
Centenas de milhares de tigrenhos fugiram dos dois territórios quando os combatentes de Amhara criaram os seus próprios órgãos de governo e cometeram o que dois grupos internacionais de defesa de direitos humanos descreveram como uma limpeza étnica dos tigrenhos.
Durante o período que antecedeu as conversações de paz, a TPLF declarou que a devolução dos territórios disputados ao controlo de Tigré era uma condição prévia “inegociável.”
“Muito permanece por resolver, incluindo a disputa entre Tigré e Amhara sobre os territórios ocidentais e meridionais, conhecidos pelo povo Amhara como Welkait e Raya,” o grupo de reflexão do Crisis Group escreveu numa comunicação de Novembro de 2023.
“O nó das queixas entrelaçadas na Etiópia será difícil de desemaranhar.”
De 1991 a 2018, a TPLF dominou o governo federal da Etiópia. O povo Amhara afirma que, depois de a TPLF ter chegado ao poder, deslocou violentamente milhares de pessoas Amhara ao anexar Welkait e Raya às zonas ocidental e meridional da região de Tigré, respectivamente.
Por outro lado, os tigrenhos consideram que a sua etnia era maioritária nos dois territórios em disputa, o que justificava as suas anexações.
No dia 1 de Maio, o vice-presidente da administração interina de Tigré, Tenente-General Tadesse Werede, disse que as autoridades de Tigré chegaram a um acordo com o governo federal sobre os planos de retorno de centenas de milhares de tigrenhos deslocados pela guerra.
O plano prevê que a Região Sul seja restaurada ao controlo administrativo de Tigré até 30 de Maio e que a Região Oeste seja restaurada até 30 de Junho, disse.
“Foi acordado que um plano detalhado sobre quem deve ser desarmado, quais as administrações que devem ser desmanteladas e como as pessoas deslocadas devem ser devolvidas seria implementado sob a supervisão do Grupo de Monitorização e Verificação da União Africana,” disse Tadesse, de acordo com a rede de televisão e rádio etíope Dimtsi Weyane.
“Não há nada nos desenvolvimentos até agora que convide ao conflito.”
Beyene Alamaw, um representante Amhara da região de Gondar, discordou veementemente. Apesar de terem sido aliados durante a guerra de Tigré, os combatentes Amhara lutam contra as forças federais em toda a região de Amhara desde Julho passado, numa luta pela autonomia.
“Estão a tocar um tambor de guerra,” disse numa conferência de imprensa online, no dia 2 de Maio. “Não toleraremos ninguém que tente impor a força e invadir.”