ONU: Aumento do Tráfico de Droga no Sahel Ameaça Segurança

EQUIPA DA ADF

Em meados de Abril, as autoridades senegalesas apreenderam mais de uma tonelada de cocaína escondida em pacotes e em sacos num camião perto da fronteira com o Mali.

Avaliada em 146 milhões de dólares, foi a maior apreensão de cocaína no interior do país. Em Novembro de 2023, a Marinha Senegalesa interceptou três toneladas de cocaína de um navio ao largo da costa.

Estas apreensões põem em evidência uma tendência actual de drogas, incluindo cannabis e opiáceos farmacêuticos, que são cada vez mais traficados para a África Ocidental e o Sahel.

Um novo relatório do Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Crime

tráfico de droga nestas zonas — outrora consideradas centros de trânsito, uma vez que a droga fluía da América do Sul para a Europa — está a aumentar devido à procura local e internacional. O comércio ilícito agrava uma série de desafios em matéria de segurança, dificulta o desenvolvimento económico e ameaça a saúde pública.

A resina de cannabis foi a droga traficada internacionalmente mais frequentemente apreendida no Burquina Faso, no Chade, no Mali, na Mauritânia e no Níger, seguida da cocaína e dos opiáceos farmacêuticos.

De acordo com o UNODC, as apreensões de cocaína dispararam no Sahel em 2022, passando de uma média de 13 quilogramas apreendidos anualmente entre 2015 e 2020 para 1.466 quilogramas em 2022, o que sugere a existência de um tráfico de cocaína em grande escala. A ONU não tinha estimativas de apreensões anuais para 2023, mas informou que a Mauritânia tinha apreendido 2,3 toneladas métricas de cocaína até meados do ano.

As maiores apreensões de cocaína em 2022 foram feitas no Burquina Faso (488 quilogramas), no Mali (160 quilogramas) e no Níger (215 quilogramas), mas é provável que haja grandes quantidades de carregamentos de cocaína não detectados a passar pela região, de acordo com o UNODC.

“Não se trata apenas de uma questão de segurança, porque os grupos armados estão a obter receitas para financiar as suas operações, mas também de uma questão de saúde pública, visto que os grupos criminosos aproveitam o crescimento da população para expandir os mercados de drogas ilícitas,” Amado Philip de Andres, que dirige o gabinete regional do UNODC para a África Ocidental e Central, disse num relatório da ONU.

A resina de cannabis traficada no Sahel é geralmente originária de Marrocos, onde a produção crescente atingiu um valor estimado de 901 toneladas métricas em 2022. É habitualmente traficada por via terrestre de Marrocos para Mauritânia, Mali, Burquina Faso, Níger e Chade, seguindo depois para Argélia, Egipto e Líbia. Desde 2020, os países do Sahel informaram que a resina de cannabis também está a ser transportada por via marítima, normalmente a partir de Marrocos, ao longo da costa da África Ocidental, para portos do Benin e do Togo.

Entre 2011 e 2021, a prevalência anual do consumo de opiáceos aumentou de 0,33% para 1,24% em África, de acordo com o UNODC.

O uso não médico de opiáceos farmacêuticos aumentou significativamente desde 2017, quando apenas o Níger e o Togo citaram o analgésico tramadol como a droga mais abusada pelas pessoas que procuram tratamento. Em 2022, o tramadol era o opiáceo mais utilizado entre as pessoas que procuravam ajuda no Burquina Faso, Mauritânia, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa e Togo.

A corrupção é um dos principais factores que facilitam o tráfico de droga no Sahel. Entre os intervenientes contam-se políticos, forças de segurança, o poder judicial e vários grupos rebeldes locais armados que obtêm receitas através da cobrança do “zakat,” uma forma de imposto, e da tributação das colunas que entram nas zonas que controlam. No entanto, geralmente não se trata de grupos extremistas violentos ligados à al-Qaeda ou ao grupo Estado Islâmico. No Mali, por exemplo, grupos como a Plateforme des mouvements du 14 juin 2014 d’Alger, ou Plateforme, e a Coordination des Mouvements de l’Azawad, ou CMA, traficam drogas para sustentar o seu envolvimento no conflito, nomeadamente através da compra de armas, segundo o UNODC.

A competição pelas rotas do tráfico de droga no Sahel e as interceptações de colunas de droga por grupos armados conduziram a violentos confrontos e contra-ataques, dos quais resultaram numerosos mortos e feridos.

O relatório deve servir de “alerta,” disse Leonardo Santos Simão, Representante Especial do Secretário-Geral da ONU para a África Ocidental e o Sahel.

“Os Estados da região do Sahel — juntamente com a comunidade internacional — devem tomar medidas urgentes, coordenadas e abrangentes para desmantelar as redes de tráfico de droga e dar às pessoas destes países o futuro que merecem,” Simão disse num relatório da ONU.

Comentários estão fechados.