Grupo Estado Islâmico Usa ‘Da’wah’ para Ganhar Apoio em Moçambique

EQUIPA DA ADF

Os extremistas ligados ao grupo Estado Islâmico (EI) na província moçambicana de Cabo Delgado são conhecidos por invadirem e incendiarem cidades inteiras, decapitarem civis e atacarem as forças de segurança.

No entanto, segundo os analistas, os grupos ligados ao EI estão a tentar mudar a sua imagem num esforço para ganhar o apoio do público e recrutar novos combatentes. Nomeadamente, intensificaram as actividades de “da’wah” nos distritos de Chiure, Macomia, Meluco, Mocímboa da Praia, Nangade e Quissanga, que 300 combatentes rebeldes terão capturado em Março.

Da’wah é um termo árabe que significa, grosso modo, proselitismo. Como observou Caleb Weiss no Long War Journal, da Fundação para a Defesa das Democracias, os grupos terroristas tentam muitas vezes converter as pessoas à sua versão do Islão e criar boa vontade nas comunidades — mesmo naquelas que conquistam.

Fotografias recentemente divulgadas pelo EI mostram os líderes do grupo a dirigir orações e a oferecer comida a grandes ajuntamentos de habitantes locais. As crianças estão presentes em muitas das imagens.

Estas actividades “são parte integrante do projecto jihadista de construção do Estado e a divulgação de tal propaganda ajuda a fornecer provas de uma forma de governação sobre uma área específica,” escreveu Weiss, analista sénior da Bridgeway Foundation, que trabalha para prevenir o genocídio.

De acordo com o jornal moçambicano Zitamar News, o movimento da’wah faz parte de uma estratégia de sensibilização utilizada desde finais de Janeiro, quando 30 rebeldes apareceram em Mocímboa da Praia, alegando que estavam ali apenas para comprar alimentos e telemóveis.

Depois, permaneceram durante várias horas na aldeia de Calugo e disseram que não havia razão para os temer, mas também avisaram os residentes para não informarem as forças de segurança sobre a sua presença.

Dias depois, um grupo de jovens insurgentes chegou a uma mina de ouro em Meluco. Dividiram os trabalhadores das minas em grupos de muçulmanos e cristãos, mas disseram que não os iam matar. Em vez disso, compraram comida, roupa e outros artigos antes de partirem. A maioria dos combatentes tinha entre 14 e 22 anos, e alguns eram do Quénia, informou o Zitamar News.

Nos meses que se seguiram, foram registadas várias iniciativas deste tipo.

Estas tácticas ajudam o EI a tirar partido da má governação, a explorar as queixas locais e a recrutar novos membros — dentro e fora do país. Em Moçambique, o EI atraiu combatentes estrangeiros do Ruanda, da África do Sul e da Tanzânia, segundo o Centro Soufan, uma organização de investigação independente sem fins lucrativos.

Os esforços mais diplomáticos do grupo surgiram numa altura em que as forças internacionais se esforçam por evitar uma falha de segurança numa altura em que a Missão da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) em Moçambique (SAMIM) sai de Cabo Delgado. Prevê-se que a missão, na sua totalidade, parta em Julho.

As tropas estão a partir no momento em que o EI lança novas ofensivas a partir do seu coração em Cabo Delgado, no centro da costa, em direcção ao sul, onde 27 aldeias foram atacadas durante um período de quatro semanas em Fevereiro e Março, informou a The Associated Press.

Weiss escreveu que acredita que a expansão do grupo a sul vai continuar, “levando a mais eventos da’wah para solidificar o seu controlo e, mais importante, as relações públicas com as comunidades locais.”

Mais de 100.000 pessoas, incluindo mais de 61.000 crianças, fugiram da expansão sul do grupo, de acordo com as Nações Unidas. Estima-se que 72 crianças tenham sido dadas como desaparecidas na sequência dos recentes ataques, Albertina Ussene, Directora Provincial de Género, Criança e Acção Social de Nampula, disse à agência Lusa. 


Piers Pigou, do Instituto de Estudos de Segurança, disse que as recentes deslocações em massa mostraram como a segurança em Cabo Delgado continua frágil.

“O governo reconhece que apenas um punhado de insurgentes pode gerar uma incerteza generalizada,” disse Pigou à The Associated Press. “Esta situação só mudará se as comunidades acreditarem muito mais que as forças de segurança serão capazes de proporcionar a estabilidade necessária.”

O Ruanda, que não é um Estado-membro da SADC, comprometeu-se a enviar mais tropas para Cabo Delgado quando a SAMIM partir. O Ruanda já tem cerca de 2.500 soldados e pessoal da polícia nos distritos de Ancuabe, Mocímboa da Praia e Palma.

Durante uma semana, no final de Abril e início de Maio, as tropas moçambicanas e ruandesas conduziram operações conjuntas contra terroristas nas densas florestas do distrito de Nampula e em pequenas ilhas ao longo do Rio Lúrio, o segundo maior rio do país.

“Eles [terroristas] têm estado escondidos nestas florestas desde que foram desalojados pelas RSF [Forças de Segurança do Ruanda] e pelas forças moçambicanas da floresta de Catupa [no distrito de Macomia, província de Cabo Delgado] no ano passado,” o Brigadeiro-General Ronald Rwivanga, porta-voz das Forças de Defesa do Ruanda, disse ao jornal ruandês The New Times.
Eles continuam a deslocar-se para sul à medida que são desalojados.”

Cerca de 300 soldados da Tanzânia, membro da SADC, deverão permanecer em Cabo Delgado ao abrigo de um acordo de segurança bilateral separado, segundo o Zitamar News.

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