Drones e Armas Pesadas Dominam Luta da RDC Contra o M23
EQUIPA DA ADF
Um fluxo constante de civis feridos caminha ou é transportado pelas tendas que rodeiam o hospital de Ndosho em Goma, a capital da província de Kivu do Norte, na República Democrática do Congo (RDC).
O hospital, que é apoiado pelo Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), tem mais do dobro da sua capacidade normal, o que exigiu camas suplementares nas tendas.
“Ver os níveis de sofrimento aqui é muito angustiante, e isso é apenas um retrato da escala e complexidade dos desafios humanitários na RDC,” disse o então Director-Geral do CICV, Robert Mardini, num comunicado de Março no hospital de Ndosho.
Um dos conflitos mais mortíferos no leste da RDC, com várias forças aliadas a enfrentarem o grupo rebelde M23 apoiado pelo Ruanda, continua a intensificar-se devido à proliferação de drones de ataque e de outras armas sofisticadas.
O CICV afirmou que, desde o início de Fevereiro, centenas de civis feridos em consequência dos combates deram entrada nas unidades sanitárias do Kivu Norte. Estima-se que 40% dos doentes tratados foram vítimas de bombardeamentos ou de outras armas pesadas utilizadas em zonas urbanas densamente povoadas.
“O que estamos a ver agora no leste da RDC é, em muitos aspectos, sem precedentes e extremamente preocupante,” disse Mardini. “Esta nova dinâmica está a aumentar o profundo sofrimento de um grande número de civis já desgastados por décadas de conflito.”
De entre os cerca de 7 milhões de pessoas deslocadas das suas casas, o CICV afirmou que 2,5 milhões se encontram no Kivu do Norte. Os rebeldes do M23 e o exército ruandês mataram pelo menos 35 congoleses nos bombardeamentos de 3 de Maio nos campos de deslocados de Lac Vert e Mugunga, perto de Goma. As Nações Unidas consideraram-no um possível crime de guerra.
“O uso de armas explosivas em áreas povoadas, incluindo perto de campos de deslocados, é muito susceptível de ter efeitos indiscriminados, o que significa que podem matar e ferir civis,” disse Mardini. “É precisamente isso que vemos acontecer hoje no Kivu do Norte, com consequências devastadoras.”
A crescente corrida às armas entre a RDC e o Ruanda contrasta fortemente com o conflito de baixo nível que começou quando o Movimento 23 de Março organizou uma revolta em 2012. Antes de o M23 ressurgir em 2022, após quase uma década de dormência, a sua táctica preferida era emboscar as forças congolesas.
Em Fevereiro, um drone de vigilância da ONU identificou soldados ruandeses e o seu veículo blindado de transporte de pessoal a cerca de 19 quilómetros no interior do Kivu Norte, antes de estes dispararem um míssil terra-ar contra o drone, de acordo com vários relatórios confirmados por analistas militares.
Apesar de ter negado repetidamente qualquer associação com o M23, o Ruanda enviou cerca de 3.000 soldados para o leste da RDC e treina os rebeldes num campo remoto perto da fronteira, segundo a Bloomberg. Inundou os campos de batalha com drones de asa fixa, bloqueadores de drones e armamento pesado, como os lançadores de granadas antitanque russos SPG-9, segundo investigadores da ONU e a Bloomberg.
“O M23 é actualmente mais poderoso do que alguma vez foi, por isso, o Ruanda está claramente a flexionar os seus músculos ao máximo,” Richard Moncrieff, analista do Crisis Group, disse à Bloomberg, numa reportagem de Abril.
A RDC contra-atacou adquirindo as suas próprias armas sofisticadas, incluindo drones da Bulgária, da China e da Turquia. Seis drones de combate chineses CH-4 de asa fixa, capazes de transportar bombas e mísseis ar-superfície, já foram entregues e outros estão para chegar, de acordo com um artigo de 20 de Maio do blogue Military Africa.
Os dois lados do conflito acusam-se mutuamente de utilizar drones para atacar zonas densamente povoadas e, à medida que a retórica e os combates se agravam, aumenta o risco de uma guerra regional.
“Provavelmente, nunca estivemos tão perto do potencial de uma guerra real entre o Ruanda e a RDC como agora,” Stephanie Wolters, analista do Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais, disse à Bloomberg. “Todos os elementos estão no seu auge, o que é incrivelmente mau para o Congo Oriental e para a região como um todo.”
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