Com o Fim da Missão da SADC em Moçambique, o Terrorismo Ressurge

EQUIPA DA ADF

Desde o seu destacamento em 2021, a Missão da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) em Moçambique (SAMIM) ajudou a reduzir a presença de terroristas afiliados ao Estado Islâmico na província de Cabo Delgado de vários milhares para algumas centenas. No entanto, o fim da SAMIM, que se aproxima a 15 de Julho, preocupa alguns observadores, que receiam um recrudescimento do terrorismo na região.

Nos últimos meses, o contingente da SAMIM de 16 países, cronicamente subfinanciado, começou a diminuir. O Botswana e o Lesoto retiraram as suas forças em Abril. Angola e a Namíbia estão a preparar-se para sair. Os terroristas do grupo conhecido como Estado Islâmico em Moçambique estão a aproveitar a oportunidade para restabelecer a sua posição na zona norte do país.

Grupos militantes atacaram comunidades costeiras, bem como residentes das ilhas Quirimbas, ao largo da costa. Os terroristas emboscaram patrulhas militares, executaram brutalmente civis e saquearam comunidades.

Em meados de Maio, os insurrectos saquearam de madrugada a comunidade de Macomia, em Cabo Delgado. Os meios de comunicação social locais informaram que mais de 20 soldados poderão ter sido mortos no ataque.

“O risco é que os extremistas voltem a ganhar terreno, uma vez que as questões que estiveram na origem do conflito continuam por resolver,” recentemente o analista Thomas Mandrup, do Instituto de Segurança para a Governação e Liderança em África da Universidade de Stellenbosch, na África do Sul, escreveu para o The Conversation.

O aumento das actividades terroristas inspirou a África do Sul e o Ruanda a alterarem as suas estratégias de destacamento. A África do Sul, que forneceu cerca de 1.500 dos 2.200 soldados da SAMIM, manterá as suas forças no terreno até ao final do ano. Depois disso, 200 soldados permanecerão no terreno até Março de 2025 para proteger contra actividades marítimas ilegais.

A África do Sul tem contribuído com 45 milhões de dólares por ano para a SAMIM, que tem funcionado continuamente sem financiamento total. Os próprios problemas orçamentais da África do Sul mantiveram os seus helicópteros imobilizados, deixando as tropas da SAMIM sem apoio aéreo.

O Ruanda destacou 1.000 militares separadamente da SAMIM em 2021. Moçambique anunciou, em Maio, que o Ruanda vai juntar mais 2.500 soldados para combater a insurgência.

A SAMIM e as forças ruandesas têm tido dificuldade em coordenar os seus esforços devido às barreiras linguísticas e às diferenças de equipamento.

Apesar destes problemas, as forças de segurança permitiram que mais de 570.000 pessoas que tinham sido expulsas das suas casas pelo terrorismo regressassem em 2023. Algumas dessas mesmas pessoas começaram a fugir de novo das suas casas à medida que as novas vagas de actividade terrorista se espalham.

Por essa razão, Webster Zambara, líder sénior de projecto do Instituto de Justiça e Reconciliação, sediado na África do Sul, recomenda que as forças da SAMIM trabalhem com Moçambique para assegurar uma presença mais prolongada no país, a fim de abordar uma questão que afecta toda a região.

“O panorama geral é que as questões relacionadas com o terrorismo tendem a ser muito longas, se olharmos para o al-Shabaab na África Oriental e também para o Boko Haram na África Ocidental,” Zambara disse à Voz da América. “Por isso, talvez seja necessário que a SADC reveja a sua posição nesta matéria.”

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