RSF Usam Alimentos Como Arma para Recrutar Combatentes à Força

EQUIPA DA ADF

Entre avisos desesperados de fome iminente em todo o Sudão, as Forças de Apoio Rápido (RSF) paramilitares continuam a usar a fome como arma de guerra.

O conflito, que dura há um ano, causou a morte de mais de 12.000 pessoas e a deslocação de cerca de 8,3 milhões. De acordo com as Nações Unidas, 5 milhões de pessoas no Sudão estão em risco de fome “catastrófica” e mais de 18 milhões estão a lidar com níveis agudos de fome.

As RSF utilizam sistematicamente a alimentação e a fome como instrumentos de controlo da população civil. Agora está a utilizar esses instrumentos para forçar homens e rapazes do Estado de Al Jazira a juntarem-se à sua luta contra o exército do Sudão.

Em meados de Dezembro, as milícias entraram pela primeira vez em Jazira, o centro agrícola do país, a cerca de 180 quilómetros a sul de Cartum, assumindo o controlo depois de o exército se ter retirado.

As RSF terão atacado civis, saqueado casas, roubado carros, confiscado terras e subjugado comunidades inteiras. Os seus objectivos iniciais eram a recolha de alimentos e mantimentos, mas as RSF rapidamente se apoderaram dos principais aparelhos de produção alimentar do país.

Os especialistas dizem que as consequências serão terríveis.

“Não há outra forma de contornar o que está prestes a acontecer no Sudão,” o director do Conselho Norueguês para os Refugiados no Sudão, William Carter, disse à Agence France-Presse. “A menos que a paz chegue magicamente ao Sudão, vai haver fome. Nesta altura, não são apenas os ataques aéreos e a guerra urbana que estão a matar pessoas.”

Uma investigação recente da CNN revelou que as RSF recrutaram à força cerca de 700 homens e 65 crianças no âmbito da sua incursão pelo Estado de Jazira entre Janeiro e Março. As testemunhas afirmaram que as RSF recorreram à tortura, a execuções, a ameaças contra as suas famílias e à retenção de alimentos e de ajuda médica.

A cadeia de televisão por cabo transmitiu vídeos de telemóveis de aldeões que descreviam um ataque em Janeiro, no qual as RSF executaram seis homens que se tinham recusado a alistar-se.

No dia 27 de Fevereiro, a milícia entrou numa outra aldeia para recrutar 20 jovens. Quando estes se recusaram, as RSF saquearam e queimaram casas, mercados e armazéns de alimentos.

As testemunhas também contaram como os novos recrutas das RSF eram “recompensados com alimentos e ajuda roubados a outros.”

Mohamed Badawi, advogado do Centro Africano de Estudos para a Justiça e a Paz, disse à CNN que as tácticas das RSF eram semelhantes a um “sistema de trabalho forçado.”

“As pessoas precisam de sobreviver,” disse. “Não têm outra alternativa, não têm ninguém a quem se queixar. Se não matares por eles, serás preso.”

No dia 18 de Janeiro, as RSF invadiram a sede da empresa Jazira Scheme, um dos maiores projectos de irrigação do mundo. Omar Marzoug, governador da empresa Jazira Scheme, enviou uma lista ao governo sudanês de tudo o que roubaram — tractores, sementes, fertilizantes e armazéns cheios de alimentos.

“Quem controla Jazira controla a produção alimentar do país,” Alex de Waal, especialista sobre o Corno de África, disse à CNN.

Ambas as partes beligerantes no conflito foram acusadas de obstruir ou de se recusarem a facilitar os esforços de ajuda, e os peritos dizem que a epidemia de fome generalizada está a piorar.

“Já se observa um aumento sem precedentes no tratamento da desnutrição grave, a manifestação mais letal da desnutrição, em áreas acessíveis,” escreveu o chefe da ajuda das Nações Unidas, Martin Griffiths, numa nota de 15 de Março ao Conselho de Segurança da ONU.

O Sudão registou o pior nível de fome alguma vez registado durante a época de colheitas de Outubro a Fevereiro, de acordo com um relatório de Fevereiro do Instituto Clingendael, um grupo de reflexão independente.

A investigadora Anette Hoffmann, autora do relatório do Clingendael, afirmou que a gravidade e a dimensão da fome na próxima época de escassez, em meados de 2024, serão “catastróficas.”

Acusou as RSF de bloquearem as colheitas dos agricultores e de colocar cerca de 7 milhões de pessoas em risco de “fome em massa” até Junho.

“Esta colheita era extremamente necessária para compensar as enormes perdas de produção que já ocorreram devido aos combates noutros Estados,” disse à CNN. “Os avanços violentos das RSF no Estado de Jazira, a sua destruição selectiva de armazéns, do banco de genes do Sudão e dos sistemas de irrigação irão inevitavelmente agravar ainda mais a enorme escassez de alimentos no Sudão.

“Aqueles que impedem a ajuda que salva-vidas devem ser responsabilizados pela fome que causam.”

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