EQUIPA DA ADF
Os drones têm sido uma parte constante do conflito que dura há um ano entre as Forças Armadas do Sudão (SAF) e os combatentes paramilitares das Forças de Apoio Rápido. No entanto, nos últimos meses, os ataques de drones das SAF tornaram-se mais precisos e mortíferos, dizem os especialistas, graças à adição de tecnologia iraniana.
Em resposta, as RSF aumentaram a utilização de drones contra alvos militares e civis associados às SAF. Tal como tem acontecido desde o início do conflito, a 15 de Abril de 2023, os civis sudaneses são frequentemente apanhados no meio.
“Nas últimas semanas, o exército começou a usar drones precisos em operações militares, o que forçou as RSF a fugir de muitas áreas e permitiu que o exército enviasse forças para o terreno,” Mohamed Othman, de 59 anos, residente de Omdurman, disse à Reuters.
Os drones ajudaram as SAF a fazer progressos depois de meses a perder terreno. Os drones das SAF desempenharam um papel crucial na capacidade do exército de retomar partes de Omdurman, incluindo a sede da emissora nacional de rádio e televisão do Sudão.
Ambas as partes utilizam regularmente drones para vigilância, para filmar combates e, em alguns casos, para efectuar ataques kamikaze ou lançar bombas sobre os combatentes.
Os chefes militares sudaneses negaram que estejam a receber drones do Irão. No entanto, as RSF têm mostrado repetidamente nas suas contas das redes sociais imagens de drones iranianos controlados pelas SAF que afirma ter abatido.
O Sudan War Monitor confirmou em Janeiro a chegada de aviões de carga iranianos a Port Sudan, onde as SAF estão sediadas. Poucos dias depois, funcionários sudaneses em nome das SAF estavam de novo no Irão a negociar o restabelecimento das relações diplomáticas após uma interrupção de sete anos.
Também em Janeiro, imagens de satélite divulgadas pela Planet Labs Inc. mostraram drones iranianos Mohajer-6 e um veículo de controlo terrestre na pista da base aérea de Wadi Sayyidna, cerca de 22 quilómetros a norte de Cartum.
O Exército do Sudão produziu drones desenvolvidos pelo Irão ao abrigo de um programa conjunto até os dois países romperem relações em 2016. Desde o início do conflito entre o chefe das SAF, o General Abdel Fattah al-Burhan, presidente de facto do Sudão, e o seu rival, o General Mohamed Hamdan “Hemedti” Dagalo, al-Burhan restabeleceu laços com o Irão.
As RSF responderam à utilização de drones iranianos pelas SAF intensificando os seus próprios ataques com drones. No início de Abril, as RSF lançaram ataques com drones contra alvos das SAF no Estado de Gedaref e na cidade de Atbara, no leste do Sudão, uma região que tinha evitado o derramamento de sangue.
Testemunhas em Atbara disseram à Agence France-Presse que o ataque matou 12 pessoas e feriu outras 30. O ataque teve como alvo uma base da milícia durante a refeição iftar, durante o Ramadão, quando civis e combatentes pró-SAF se reuniram para comer.
Os recentes ataques com drones fazem eco dos ataques com drones efectuados por ambas as partes. As RSF lançaram drones contra um hospital em Omdurman em Julho de 2023. Antes disso, os ataques com drones das SAF causaram vítimas civis quando o exército tentou, no início do conflito, expulsar os combatentes das RSF dos seus esconderijos em edifícios residenciais e mercados públicos.
Enquanto al-Burhan e Hemedti lutam pelo controlo do Sudão, drones como o Mohajer-6 do Irão parecem estar a desempenhar um papel cada vez mais importante na luta, segundo os analistas. Segundo o analista Cameron Hudson, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, é provável que haja mais mortes e destruição no futuro.
“As batalhas iminentes por Wad Madani e pela capital de Darfur, El Fasher, irão provavelmente provocar novas baixas e deslocações substanciais de civis — talvez as piores da guerra até agora,” escreveu Hudson recentemente.