EQUIPA DA ADF
Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) foram destacadas para o leste da República Democrática do Congo (RDC) desde Dezembro, o que suscitou preocupações entre alguns observadores militares sul-africanos.
A decisão de enviar as tropas foi tomada numa cimeira da SADC em Maio de 2023. A força da SADC, conhecida como a Missão da SADC na RDC (SAMIDRC), inclui tropas do Malawi e da Tanzânia.
As tropas estão encarregues de combater mais de 120 grupos rebeldes, incluindo o notoriamente violento M23, que no final de 2023 lançou novos ataques mortais perto da fronteira com o Ruanda. Controla várias estradas e cidades na província do Kivu do Norte, incluindo Bunagana, Kitchanga, Kiwanja, Mweso, Rubaya e Rutshuru.
O destacamento coincide com a retirada faseada da missão de manutenção da paz das Nações Unidas na RDC (MONUSCO), que deverá retirar todas as tropas do país até ao final de Dezembro de 2024. A Força Regional da Comunidade da África Oriental (EACRF) começou a retirar as tropas da RDC em Dezembro de 2023.
Kobus Marais, ministro-sombra da Defesa e dos Veteranos Militares, da Aliança Democrática da África do Sul, denunciou o destacamento da Força Nacional de Defesa da África do Sul (SANDF) como “imprudente,” argumentando que esta não tem capacidade para prosseguir eficazmente os esforços de contra-insurgência.
“Talvez o maior risco que as SANDF enfrentam é o facto de o seu adversário — o M23 — ter operado no leste da RDC durante muitos anos e estar familiarizado com o terreno,” disse Marais à defenceWeb. “A menos que a força de intervenção, aparentemente liderada pela SANDF, esteja bem constituída em termos de dimensão e de mobilidade rápida, ficará à mercê dos rebeldes do M23, peritos em tácticas de guerrilha.
“É precisamente por isso que a MONUSCO e a Força Regional da Comunidade da África Oriental (EACRF) não conseguiram acabar com a rebelião do M23 no leste da RDC.”
As autoridades congolesas lamentaram o fracasso da MONUSCO em proteger os civis muito antes de o Conselho de Segurança da ONU ter votado, em Dezembro, o início da retirada faseada dos seus 14.000 soldados. A MONUSCO tem sido objecto de protestos persistentes e de agitação civil.
O Presidente da RDC, Felix Tshisekedi, também se mostrou insatisfeito com a falta de empenho militar da EACRF em relação ao M23 e acusou as suas forças de conluio com o grupo. A EACRF é composta por tropas do Burundi, do Quénia, do Sudão do Sul e do Uganda.
Fazendo eco das preocupações de alguns peritos militares, Marais disse que as tropas da SADC precisarão de uma cobertura aérea adequada para operarem no terreno hostil do Kivu do Norte.
O Tenente-General Fall Sikabwe, coordenador das operações militares da RDC no Kivu do Norte, manifestou, no entanto, confiança nas forças da SADC.
“Trata-se de profissionais bem equipados e bem treinados — unidades que podem inverter a situação no terreno,” Sikabwe disse à Agence-France Presse.
Encarregue de supervisionar o progresso operacional da SAMIDRC, o Secretário-Executivo da SADC, Elias Magosi, visitou em finais de Janeiro o Comandante da Força da SAMIDRC, o Major-General Monwabisi Dyakopu, da África do Sul, onde observou que as tropas estavam “devidamente equipadas e prontas para executar o seu mandato.”
“Como SADC, estamos determinados a restaurar a paz e a segurança no leste da RDC e a acrescentar ao registo das nossas realizações e marcos em matéria de defesa, institucional, socioeconómica e de paz e segurança,” declarou a SADC num comunicado.
Delphin R. Ntanyoma, investigador visitante da Universidade de Leeds, escreveu no The Conversation que é arriscado para as forças concentrarem-se apenas no M23 enquanto tantos outros grupos, incluindo as Forças Democráticas Aliadas, causam estragos na região.
“A missão da SADC na RDC irá … enfrentar múltiplas forças rebeldes numa vasta área com políticas complexas,” escreveu Ntanyoma. “Corre o risco de ver os seus esforços criticados, tal como os da Comunidade da África Oriental, devido à sua capacidade limitada de combater as causas subjacentes à violência no leste do Congo.”
Ntanyoma, que é congolês, também avisou que a força da SADC poderia estar em menor número na vasta região, enquanto a sua presença poderia antagonizar a Comunidade da África Oriental, à qual a RDC aderiu há dois anos. Ntanyoma disse também que o destacamento da SADC pode oferecer ao Ruanda mais oportunidades para “explorar” o M23, embora o Ruanda negue que apoie o grupo.
Embora a RDC e o M23 tenham acordado um cessar-fogo antes das eleições gerais de Dezembro, as tensões na região não mostram sinais de abrandamento.
A RDC foi acusada de violar o cessar-fogo em meados de Janeiro, quando ataques de drones alegadamente mataram dois comandantes do M23 em território controlado pelos rebeldes no Kivu do Norte.
“O M23 compreendeu a mensagem que lhe foi enviada pelo regime de Kinshasa e responderá adequadamente,” o porta-voz do M23, Lawrence Kanyuka, disse num comunicado.