Sobreviventes Descrevem Ataques de Drones Militares Burquinabês que Mataram Civis
EQUIPA DA ADF
A utilização de drones pelas forças armadas do Burquina Faso está a ser alvo de críticas e de apelos à contenção, perante relatos de pesadas baixas civis. Os ataques de drones militares burquinabês mataram mais de 60 civis e feriram muitos outros durante um período de quatro meses no final de 2023, informou a Human Rights Watch (HRW). A junta militar liderada pelo capitão Ibrahim Traoré informou que os ataques dos drones tinham como alvo os terroristas.
Os civis terão sido mortos durante três ataques que tiveram início no princípio de Agosto, quando membros da organização extremista violenta Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM) entraram de mota num mercado da aldeia de Bouro, no sudoeste do país.
Quando os terroristas chegaram ao mercado, este foi atingido por um ataque de drones que foi descrito pela Radiodiffusion Télévisiondu Burquina (RTB), a rede de televisão estatal do Burquina Faso, como uma operação aérea bem-sucedida “baseada em informações” de que um grupo de terroristas estava “a preparar ataques em grande escala.”
“O mercado estava cheio de civis quando foi atingido pelo drone,” disse um homem de 25 anos à HRW. “Pessoas de toda a região vêm ao mercado para comprar e vender animais.”
No final de Setembro de 2023, a RTB transmitiu imagens de um ataque de um drone militar burquinabê a 18 motorizadas que entravam na aldeia de Bidi, perto da fronteira com o Mali. A RTB noticiou que os combatentes rebeldes foram “atingidos com sucesso” por um ataque de um drone quando “pararam numa aldeia.” As forças da JNIM têm sitiado Bidi desde 2021.
A reportagem da RTB contradiz os relatos de pessoas entrevistadas pela HRW, que disseram que cerca de 100 pessoas estavam a assistir a um funeral quando o drone atacou e que não estavam presentes terroristas. Testemunhas disseram que 24 homens e um rapaz foram mortos e 17 ficaram feridos, todos civis.
“O ataque foi apenas um erro terrível,” disse uma testemunha de 45 anos à HRW.
Em meados de Novembro, um drone militar burquinabê atingiu um mercado cheio de pessoas do outro lado da fronteira com o Mali, perto da cidade de Boulkessi. Pelo menos sete homens morreram e pelo menos outros cinco ficaram feridos. Testemunhas disseram que havia vários combatentes armados da JNIM no mercado, mas apenas civis foram mortos ou feridos.
“Os corpos estavam enegrecidos e carbonizados,” disse um sobrevivente de 42 anos à HRW. “Tivemos dificuldades com as identificações: os corpos estavam retalhados.”
Um sobrevivente de 30 anos disse que quase morreu devido a um ferimento de estilhaço no estômago.
“Agarrei na parte ferida, rastejei… para me afastar da área,” disse o sobrevivente à HRW.
O exército burquinabê utiliza drones Bayraktar TB2 de alta precisão com bombas guiadas por laser, de acordo com. Ilaria Allegrozzi, investigadora sénior sobre o Sahel na HRW, que caracterizou as mortes de civis como “aparentes crimes de guerra.”
“O exército do Burquina Faso efectuou repetidamente ataques com drones em áreas com muita gente, com pouca ou nenhuma preocupação com os danos causados aos civis,” afirmou Allegrozzi, na página da internet da HRW. “Os governos que transferem para o Burquina Faso armas que os militares utilizam com flagrante desrespeito pela vida dos civis arriscam-se a ser cúmplices de crimes de guerra.”
A JNIM é apenas uma das muitas organizações terroristas que operam no Burquina Faso.
A Amnistia Internacional descobriu recentemente que o grupo extremista Ansaroul Islam e outros grupos armados estão a matar e a raptar mulheres e raparigas burquinabês durante “cercos brutais” em várias comunidades.
“Não só impuseram cercos em todo o país, como também mataram milhares de civis e destruíram infra-estruturas civis, incluindo pontes e fontes de água,” Samira Daoud, directora regional da Amnistia Internacional para a África Ocidental e Central, disse numa reportagem da Associated Press.
As tácticas dos terroristas limitaram o acesso dos residentes à saúde e à educação, forçando uma em cada 12 pessoas em todo o país a fugir das suas casas, disse a organização.
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