Relatório da ONU: Ameaça da al-Qaeda e do Grupo Estado Islâmico Atinge Seu Máximo Histórico em África

EQUIPA DA ADF

Com milhares de adeptos espalhados pelo Sahel e pela Somália, a al-Qaeda e o grupo do Estado Islâmico (EI) atingiram um nível de ameaça sem precedentes em África, mesmo quando parecem estar em declínio acentuado no Médio Oriente.

Esta é a avaliação de uma nova análise das Nações Unidas sobre os grupos e a sua capacidade de semear terror nos países onde operam. O relatório baseia-se em dados fornecidos pelos Estados-membros da ONU sobre os membros, a liderança e as finanças dos grupos.

De um modo geral, a presença de organizações ligadas à al-Qaeda e ao EI conduziu a uma deterioração da segurança em partes da África Ocidental e do Sahel, escreveram os analistas.

Nos últimos anos, membros das forças armadas derrubaram os governos do Burquina Faso, do Mali e do Níger, em grande parte, devido à frustração com a incapacidade dos governos civis eleitos para controlar o Estado Islâmico no Grande Sahel (ISGS) e a organização afiliada à al-Qaeda, Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM).

Até há pouco tempo, os dois grupos mantinham-se sob controlo enquanto disputavam o seu território. No entanto, isso mudou.

“No centro do Mali e no sudoeste do Burquina Faso, um desanuviamento localizado entre o ISGS e a JNIM levantou preocupações sobre o possível estabelecimento de um santuário terrorista,” escreveram os analistas da ONU.

O ISGS e a JNIM dividiram, essencialmente, o território do Burquina Faso e do Mali entre si, o que lhes permite concentrarem-se na luta contra as forças de segurança, enquanto continuam a inserir-se nas comunidades locais — nalguns casos fornecendo segurança e outros serviços em vez do governo local.

No Níger, a história é diferente. Antes do golpe de Estado de 2023 que depôs o Presidente Mohamed Bazoum, o Níger tinha sido um pilar dos esforços antiterroristas em toda a região. Desde o golpe de Estado, os grupos terroristas cometeram actos de extrema violência contra alvos civis e de segurança.

À medida que o EI, referido como Da’esh no relatório da ONU, aumenta a sua presença na África Ocidental, comunidades inteiras estão a jurar fidelidade ao grupo, segundo Guillaume Soto-Mayor, do Instituto do Médio Oriente. Nalguns casos, os membros da comunidade são atraídos pela imposição da Sharia pelos extremistas. Outros simplesmente não podem ir a lado nenhum e têm de fazer cedências para sobreviver, disse Soto-Mayor ao The Washington Post.

Nas comunidades em que tem influência, o EI recuou nos ataques e começou a abrir escolas para formar mais soldados de infantaria. “Há mais organização em termos de doutrinação e recrutamento,” disse Soto-Mayor. “E há alguns tipos de violência que eles agora parecem relutantes em usar.”

Noutras partes de África:

  • As campanhas militares regionais contra as Forças Democráticas Aliadas, na República Democrática do Congo,incluindo as campanhas de bombardeamento pelo exército do Uganda, reduziram o número de elementos do grupo em um quarto a um terço, embora alguns dos principais líderes continuem activos.
  • Os extremistas enfrentam fortes acções antiterroristas no Egipto e Marrocos, enquanto continuam a operar no sul e sudoeste da Líbia.
  • Em Moçambique, os esforços sustentados de combate ao terrorismo contra a Ansar al-Sunna mataram o seu líder e reduziram o número de extremistas na região de Cabo Delgado para 200 ou menos, que estão escondidos na floresta de Catupa.
  • Na Nigéria, a Província da África Ocidental do Estado Islâmico é o grupo mais activo do EI e é capaz de se projectar nos países da Bacia do Lago Chade, apesar do seu actual confronto com o Boko Haram.
  • Na região de Puntland, na Somália, a presença do EI tem sido mantida sob controlo, com 150 combatentes ou menos, através de combates com o al-Shabaab, filiado na al-Qaeda.

Em todo o continente, a insegurança continua a alimentar o extremismo, de acordo com a análise da ONU.

“A evolução da ameaça nas zonas de conflito em África continua a preocupar os Estados-Membros, em especial na África Ocidental e no Sahel, onde o défice de capacidades antiterroristas tem sido explorado pelo Da’esh,” escreveram os analistas.

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