EQUIPA DA ADF
Enquanto as Forças de Apoio Rápido (RSF) paramilitares do Sudão continuam a reclamar território às Forças Armadas Sudanesas (SAF), os peritos alertam para a possibilidade de uma guerra civil prolongada com implicações regionais desastrosas.
Após nove meses de combates, as RSF controlam a maior parte da região ocidental do país e grande parte da capital, Cartum, enquanto as SAF se mantém em zonas do leste. Ambos os lados parecem ter o armamento e o apoio externo para continuar a lutar durante meses, o que torna esta nova fase da guerra particularmente perigosa, de acordo com uma análise do Grupo Internacional da Crise (ICG).
“Os paramilitares ganharam essencialmente a primeira fase da guerra, derrotando o exército na maior parte da região ocidental e em Cartum, e dividindo efectivamente o país em duas zonas de controlo, pontuadas por bolsas detidas por outros grupos armados,” segundo o ICG. “A questão é saber se a segunda fase — já em curso — pode ser travada antes que o Sudão sofra um fracasso histórico.”
O conflito causou a morte de 12.000 pessoas, deslocou 8 milhões de pessoas e encerrou escolas frequentadas por 19 milhões de crianças. O país enfrenta uma escassez de alimentos a nível nacional. No entanto, segundo o ICG, parece pouco provável que as partes em conflito respeitem o cessar-fogo de Dezembro, mediado pelo bloco regional Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento, e recusaram-se a negociar pessoalmente.
“Infelizmente, as coisas parecem estar a ir na direcção errada. Na ausência de uma correcção de rumo, o conflito continuará a expandir-se,” escreveu o ICG. “Muitos se perguntam se o exército, que ainda não ganhou uma batalha importante na guerra, estará à beira do colapso, embora não seja uma conclusão precipitada.”
Em meados de Dezembro, as RSF anunciaram no X, antigo Twitter, que tinham tomado o controlo da Primeira Divisão de Infantaria das SAF em Wad Madani, capital do Estado de Al-Jazira, cerca de 180 quilómetros a sul de Cartum. A força militar conduziu uma campanha altamente móvel contra a postura principalmente reactiva das SAF e afirmou que também tinha tomado uma esquadra de polícia e um hospital após uma batalha de uma hora.
Wad Madani era anteriormente considerado um porto seguro para muitas pessoas que fugiam da violência.
Alguns residentes pró-SAF em Wad Madani receiam que as RSF cometam atrocidades na sua cidade, tal como são acusadas de o fazer em Cartum e na região de Darfur, no oeste do Sudão.
“As pessoas já estão a criticar fortemente o exército,” uma mulher que usou o pseudónimo Omonia Kheir disse à Al-Jazeera. “Wad Madani é a segunda maior cidade do Sudão e a que acolhe o maior número de deslocados… toda a gente esperava que o exército a protegesse” das RSF.
Dias depois da vitória em Wad Madani, as RSF reivindicaram a cidade de Rufaa, cerca de 40 quilómetros a norte de Wad Madani. As RSF começaram então a deslocar-se para o leste, estabelecendo bases num bairro a leste de Wad Madani, informou a agência noticiosa New Arab.
As RSF também afirmaram no X ter tomado a Segunda Divisão de Infantaria das SAF em al-Hasaheisa.
Os analistas afirmam que a reivindicação do controlo do Estado de Al-Jazira permitirá às RSF, lideradas pelo General Hemedti, continuar a avançar para os Estados controlados pelas SAF no leste, centro e sudeste, enquanto tentam cercar as SAF, lideradas pelo General Abdel Fattah al-Burhan. Quatro dos cinco Estados de Darfur, quase 80% da província ocidental, são actualmente controlados pelas RSF.
Al-Burhan e Hemedti concordaram em reunir-se pessoalmente e iniciar conversações sobre um possível cessar-fogo, mas os progressos têm sido escassos.
Alguns analistas acreditam que Hemedti quer governar o Sudão, em vez de tirar partido do sucesso militar nas negociações para pôr fim ao conflito. No final de Dezembro, embarcou numa viagem diplomática para Djibouti, Etiópia, Quénia, África do Sul e Uganda.
“Hemedti precisa desesperadamente que as pessoas sintam que as RSF são uma força governamental. Penso que foi por isso que Hemedti se encontrou com chefes de Estado,” Kholood Khair, especialista sobre Sudão e director fundador do grupo de reflexão Confluence Advisory, disse à Al-Jazeera. “Hemedti vai tentar, tanto quanto possível, moldar-se a esta ideia de ser um líder.”
Khair disse acreditar que Hemedti e al-Burhan estão a participar — e a impedir — os esforços de mediação para ganhar tempo para as suas operações militares.
“Isto é tudo uma manobra de diversão … para ganhar algum reconhecimento internacional e, ao mesmo tempo, tentar ganhar algum terreno [na guerra],” Khair disse à Al-Jazeera.
Apesar dos relatos de que as SAF estão altamente desmoralizadas e a sofrer de elevadas taxas de deserção e abandono, al-Burhan, no início de Janeiro, indicou que a guerra iria continuar.
“Não temos nenhuma reconciliação com eles,” disse al-Burhan numa reportagem do jornal árabe Asharq Al-Awsat. “Não temos qualquer acordo com eles. A nossa batalha continua até que todos os sítios do Sudão sejam recuperados.”
Al-Burhan acusou as RSF de terem cometido crimes de guerra e prometeu que as suas forças tratariam dos assuntos “no terreno.”
“Lutaremos até que o inimigo desapareça,” disse.