Após Décadas de Guerra, Angola é Exportadora de Paz
EQUIPA DA ADF
Angola passou a maior parte do seu tempo como nação independente em guerra. Conhece os custos dos conflitos e os dividendos da paz.
Actualmente, mais de 20 anos após a assinatura de um acordo de paz que pôs fim à guerra civil no país, Angola está a tentar exportar a paz para toda a África, através de esforços de mediação e de manutenção da paz.
“Aprendemos todas essas lições e pensamos que um país não se pode desenvolver com a guerra. Desenvolve-se um país com paz,” Samwel Abilio Sianga, embaixador de Angola no Quénia, disse à plataforma Nation.Africa.
A guerra civil angolana, que durou 27 anos, matou cerca de 1 milhão de pessoas e deslocou 4 milhões. Na altura em que foi assinado um acordo de paz, em 2002, a maior parte do país não tinha acesso à água potável e quase uma em cada três crianças morria antes dos 5 anos de idade.
“Separámos famílias, destruímos o nosso país e não conseguíamos comunicar uns com os outros,” disse Sianga. “Isso se deve ao facto de as pontes terem sido destruídas, de não haver hospitais, fornecimento de energia, tudo.”
Actualmente, Angola quer ser uma força de pacificação. De dois em dois anos, o país acolhe o Fórum Pan-Africano para a Cultura da Paz, um evento patrocinado pela ONU e pela União Africana para promover intercâmbios culturais e explorar estratégias de prevenção e mediação da violência. O último fórum teve lugar de 22 a 24 de Novembro.
O Presidente de Angola, João Lourenço, é o principal mediador da UA do conflito no leste da República Democrática do Congo. Em Julho de 2022, representantes de Angola, da RDC e do Ruanda reuniram-se no país para assinar o “Roteiro de Luanda para a Paz.” O roteiro tinha como objectivo abrir o diálogo e normalizar as relações entre a RDC e o Ruanda, criar condições para que os refugiados regressassem às suas casas e facilitar a retirada do grupo rebelde M23 dos territórios ocupados.
“Chegámos a um ponto em que não podemos parar; temos de dar o próximo passo. E é isso que estamos a fazer; estamos empenhados e continuamos,” afirmou João Lourenço durante uma visita de Estado ao Quénia, em Outubro de 2023. “Não vamos ceder para que possamos finalmente alcançar a tão esperada paz no leste da República Democrática do Congo e também para restabelecer as boas relações de amizade e cooperação que costumavam existir entre os dois países irmãos: a República Democrática do Congo e o Ruanda.”
O roteiro prevê o acantonamento dos grupos rebeldes M23. Assim que isso acontecer, Angola comprometeu-se a enviar 500 soldados para proteger as zonas de acantonamento.
João Lourenço admitiu que a etapa de acantonamento do roteiro se revelou difícil. “Conseguimos um cessar-fogo, agora temos de os levar para o acantonamento e iniciar o processo de desarmamento e reintegração destes cidadãos congoleses na sociedade congolesa,” disse à France24 em Maio.
Angola também tem desempenhado um papel de liderança no processo de paz na República Centro-Africana, tentando reunir as partes da conturbada nação e mediando as disputas entre a RCA e o vizinho Chade.
Em reconhecimento dos seus esforços, Lourenço foi nomeado “Campeão da Paz e da Reconciliação” da UA.
Durante o seu discurso anual sobre o Estado da Nação, em Outubro, João Lourenço exortou os angolanos a protegerem a paz duramente conquistada.
“As gerações actuais e futuras têm o dever para com a sua pátria de defender, proteger e perpetuar este legado, construindo uma pátria reconciliada, condição incontornável para a construção de uma Angola para todos,” disse.
No mesmo mês, Angola acolheu a assembleia anual da União Interparlamentar (UIP), uma organização com mais de 100 anos que reúne líderes parlamentares de 150 países para discutir questões de interesse comum.
O presidente da UIP e deputado português, Duarte Pacheco, considerou Angola “o local certo para falar de paz.”
“Os angolanos sabem como a paz é fundamental para garantir o desenvolvimento económico e social que todos desejamos para os nossos países,” disse Pacheco. “Com a paz tudo é possível, com a paz é possível voltar a ter esperança e acreditar que o futuro tem oportunidades.”
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