Fluxo Ilegal de Armas Alimenta Criminalidade Urbana em Lagos

EQUIPA DA ADF

Em meados de Julho, os serviços aduaneiros da Nigéria apreenderam 31 armas, incluindo espingardas de acção rápida, várias pistolas e 442 munições, em dois portos de Lagos. As armas estavam escondidas em bidões de plástico e sacos de carvão vegetal.

A apreensão, que resultou em duas detenções, foi feita quando as autoridades denunciaram a proliferação de armas ilegais na cidade, uma vez que as armas são frequentemente utilizadas em crimes como o tráfico de droga, assaltos à mão armada, raptos, homicídios e violência sexual e baseada no género.

“O mais preocupante em todos estes [crimes] é uma tendência notória que indica uma crescente especialização local no [fabrico] de vários tipos de armas de fogo, incluindo réplicas de pistolas de fabrico estrangeiro, AK47 e outras espingardas de assalto,”  Idowu Owohunw, chefe do Comando da Polícia do Estado de Lagos, afirmou numa reportagem do jornal nigeriano Vanguard.

A maior parte das armas ilegais que entram em Lagos passam por portos da África Ocidental, enquanto algumas são importadas ilegalmente através de fronteiras terrestres ou são originárias de outros continentes, segundo o Instituto de Estudos de Segurança (ISS).

Em Lagos, os participantes no comércio ilegal de armas incluem ferreiros que fabricam armas, pessoal de segurança corrupto e homens de negócios, enquanto os utilizadores finais são frequentemente raptores, assaltantes à mão armada, vândalos de oleodutos, milícias urbanas, milícias étnicas e cultistas que aterrorizam a cidade e os seus arredores, refere o relatório do ISS.

Tal como noutras áreas urbanas, muitos dos envolvidos no tráfico de armas em Lagos e arredores são jovens. Cerca de 70% da população da Nigéria tem menos de 30 anos.

De acordo com o Departamento de Estatísticas da Nigéria, 70 milhões de jovens do país estão em idade activa, mas mais de 54% estão desempregados. Muitos jovens nigerianos deixaram as zonas rurais para procurar emprego nas cidades, mas recorrem ao crime quando não conseguem encontrar empregos legítimos.

Uma vez que África é o continente mais jovem do mundo, estes desafios são generalizados. Cerca de 40% da população do continente tem menos de 15 anos de idade.


Henrik Urdal, investigador do Instituto Internacional de Investigação para a Paz, na Noruega, concluiu que a instabilidade económica em zonas com um grande número de jovens subempregados pode aumentar o risco de eventos terroristas.

“Nos países mais pobres, onde os custos de oportunidade dos jovens são particularmente baixos, a incapacidade de facilitar a integração dos jovens no mercado de trabalho pode, de facto, aumentar o risco de violência política,” afirmou Urdal num relatório do Wilson Center, um grupo de reflexão dos Estados Unidos.

Um dos principais problemas é o facto de as autoridades verem frequentemente os jovens como ameaças e não como oportunidades, escreveu Stephen Commins para o Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS).

“A necessidade de pertencer e de encontrar uma identidade atrai os jovens para as gangues, as redes criminosas, os grupos extremistas e o vigilantismo,” escreveu Commins. “De facto, os jovens encontram a sua identidade nestes grupos, especialmente quando confrontados com a desigualdade económica e o desemprego.”

Tal como Commins relatou, o aumento da juventude em África é apenas um dos factores que impulsionam a violência nas zonas urbanas. O crescimento não planeado, a desconfiança em relação às forças de segurança, o aumento das zonas controladas por redes criminosas e a incapacidade das instituições do Estado para resolverem os litígios sobre a terra, os serviços e os meios de subsistência são factores que contribuem para a violência urbana.

“Isto, por sua vez, estimula a criação de organizações de vigilantes e a imposição da justiça de rua, uma vez que vários grupos procuram proteger ou fazer valer os seus interesses próprios,” escreveu Commins.

 

No entanto, é insensato estereotipar os jovens como condutores de violência, afirmou o Dr. Olawale Ismail, professor do King’s College em Londres, durante um webinar do ACSS intitulado “Trends: Youth Bulges, Security and Peace in Africa (Tendências: Jovens, segurança e paz em África).”

Ismail argumentou que os jovens em África são as maiores vítimas da violência e os maiores promotores da paz. Nas últimas duas décadas, Ismail referiu que os jovens organizaram protestos em massa a favor de eleições justas e dos direitos humanos, o que conduziu a mudanças sociais positivas.

As estatísticas sugerem que o número de jovens desempregados nas cidades africanas continuará a aumentar. Prevê-se que a população urbana de África aumente de mais de 652 milhões em 2023 para 1,2 bilhões em 2050.

Porém, o número de postos de trabalho disponíveis não acompanha o crescimento da população. Cerca de 10 a 12 milhões de africanos entram no mercado de trabalho todos os anos, mas só são criados cerca de 3 milhões de empregos formais.

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