EQUIPA DA ADF
Durante quase cinco meses, as forças leais aos generais beligerantes do Sudão têm-se batido mutuamente e inúmeros civis são apanhados no meio, matando muitos e destruindo grandes partes de Cartum e das suas cidades irmãs no processo.
“O impacto na capital tripartida de Cartum, Omdurman e Cartum do Norte tem sido devastador para os civis,” Suliman Baldo, director-executivo do Sudan Transparency and Policy Tracker, disse à ADF por e-mail. “Muitas das vítimas civis na capital e em todas as grandes cidades foram mortas por balas e projécteis perdidos.”
Desde que o General Abdel Fattah al-Burhan e o seu rival, conhecido como Hemedti, iniciaram a sua luta pela supremacia militar no Sudão, os dois lados têm-se mantido equilibrados em termos de efectivos. Cada um dos generais conta com cerca de 100.000 soldados e tem mantido um ponto de apoio nas principais cidades do Sudão.
Al-Burhan e Hemedti têm uma longa história de rivalidade e cooperação. O antigo ditador Omar al-Bashir criou as Forças de Apoio Rápido (RSF) como protecção contra o poder das Forças Armadas do Sudão (SAF). Al-Burhan e Hemedti cooperaram para depor al-Bashir em 2019 e novamente em 2021, no golpe que interrompeu a transição planeada para um governo civil.
Os confrontos eclodiram quando al-Burhan apelou à integração das RSF nas suas SAF — uma medida que, segundo os observadores, teria ajudado al-Burhan a evitar um desafio à sua autoridade, retirando a Hemedti o seu próprio poder. Hemedti opôs-se a este projecto.
As RSF de Hemedti, há muito treinadas como combatentes de rua, têm usado a sua mobilidade e agilidade na guerra urbana em torno da região da capital. Al-Burhan contra-ataca utilizando a capacidade de bombardeamento aéreo das SAF, os ataques com drones e a artilharia para destruir os esconderijos das RSF entre a população civil e as suas linhas de abastecimento provenientes de Darfur.
Cada lado possui aliados estrangeiros para o apoiar e os seus próprios recursos financeiros para manter a luta. As RSF são financiadas pelas décadas de contrabando de ouro de Hemedti, enquanto as SAF beneficiam do seu vasto envolvimento na economia do Sudão, desde a agricultura ao petróleo.
No entanto, em última análise, nenhum dos lados tem a base política sólida necessária para governar o país sem contestação, segundo Hager Ali, investigador do GIGA, Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais.
A Secretária-Geral Adjunta das Nações Unidas, Martha Pobee, disse ao Conselho de Segurança da ONU que nenhum dos lados do conflito está a ganhar ou a obter ganhos significativos, enquanto a população civil sofre.
“Quanto mais tempo durar esta guerra, maior será o risco de fragmentação, de interferência estrangeira, de erosão da soberania e de perda do futuro do Sudão, em particular da sua juventude,” afirmou.
Os combates destruíram infra-estruturas cruciais na região da capital, onde vastas zonas não dispõem de electricidade, água e telecomunicações. Estima-se que o conflito tenha também obrigado cerca de 4 milhões de sudaneses a abandonar as suas residências.
“O que os combates pouparam foi mais tarde saqueado e queimado por grandes bandos de criminosos e destituídos urbanos que invadiram residências e mercados e saquearam tudo o que não tinha sido roubado pelos soldados das RSF,” Baldo disse à ADF.
Nyalam Phar, residente de Cartum, fugiu para o actual Sudão do Sul, onde nasceu, em busca de segurança.
“Quando fugi, não levei comigo uma única peça de roupa,” disse Phar à Voz da América. “A minha vizinha foi baleada juntamente com a sua filha pequena, que tinha apenas 3 anos de idade.”
Enquanto os combates devastam a região da capital do Sudão, as RSF tem vindo a apertar o cerco na região de Darfur. As RSF começaram há 20 anos como Janjaweed, uma milícia de base árabe que o então ditador Omar al-Bashir criou para acabar com as rebeliões da população não-árabe de Darfur.
As RSF, que têm a sua sede no Darfur Oriental, controlam actualmente o Darfur Central e o Darfur Ocidental e é provável que venham a tomar Nyala, a capital do Darfur do Sul. Depois disso, os combatentes voltarão a sua atenção para o Darfur do Norte, de acordo com Baldo.
Segundo os especialistas, Hemedti poderia usar o seu controlo sobre a região de Darfur para criar um Estado dentro de um Estado e continuar a lutar mesmo que al-Burhan expulsasse as suas forças da região da capital.
“Não vai haver vencedores nesta guerra,” disse Baldo.