Apesar da Perda do Líder, Grupo Wagner Poderá Continuar a Operar em África
EQUIPA DA ADF
Nada poderia abalar mais os alicerces do Grupo Wagner de mercenários russos do que a morte do seu fundador, Yevgeny Prigozhin. No entanto, mesmo esta notícia dramática não deverá ter um impacto significativo nas operações do grupo em África.
“Com base na experiência e num olhar sobre o passado do Grupo Wagner, é evidente que veio para ficar,” afirmou o antigo comandante do Grupo Wagner, Marat Gabidullin, numa análise recente para a revista Foreign Policy, escrita em conjunto com o analista John Lechner. “Em África, o Estado russo precisa mais do Grupo Wagner do que este precisa do Estado. O Grupo Wagner não tem uma estrutura permanente; transforma-se, adaptando-se rapidamente em função da situação e das circunstâncias.”
A viabilidade do Grupo Wagner como instrumento da política externa russa começou a mudar profundamente a 23 de Junho, quando a sua luta pelo poder com o Ministério da Defesa (MoD), que durava há anos, levou Prigozhin a liderar uma revolta abortada contra os principais líderes militares em Moscovo.
Prigozhin morreu num acidente de avião perto de Moscovo a 23 de Agosto. Dias antes, filmou um vídeo de propaganda, supostamente no Mali, no qual afirmava que o Grupo Wagner estava a aumentar a sua presença em África.
“Prigozhin começou uma campanha nos meios de comunicação social para retratar os nigerinos como implorando a intervenção do Grupo Wagner, a fim de ajudá-lo a garantir um contrato com o Níger e, assim, salvá-lo,” comunicou o Instituto de Estudos de Guerra numa avaliação de 21 de Agosto, citando fontes afiliadas ao Grupo Wagner.
Passou também algum tempo na República Centro-Africana (RCA), onde assegurou ao Presidente Faustin-Archange Touadera que o motim de Junho na Rússia não iria afectar os planos de trazer novos caças do Grupo Wagner e investimentos para os seus parceiros comerciais nesse país, segundo o The Wall Street Journal.
No dia seguinte, um helicóptero do Grupo Wagner aterrou perto de Bangui com cinco comandantes das Forças de Apoio Rápido paramilitares do Sudão, noticiou o Journal. Ofereceram a Prigozhin barras de ouro das minas de Darfur que os seus combatentes ajudam a controlar. Ele pediu mais.
Os observadores especularam que ele estava a visitar África num esforço para influenciar o Kremlin.
“Não estamos a diminuir e, mais do que isso, estamos prontos para ir mais longe e aumentar os nossos vários contingentes,” Prigozhin disse à Afrique Media, com sede nos Camarões, em Julho. “De momento, todas as nossas obrigações estão cumpridas, e sê-lo-ão, independentemente do que nos acontecer.”
No dia seguinte à queda do avião de Prigozhin, Putin ordenou os mercenários do Grupo Wagner que fizessem um juramento de fidelidade à Rússia e prometessem seguir estritamente as regras dos comandantes e dos líderes superiores.
A morte de Prigozhin “não muda nada,” disse um funcionário dos serviços secretos nigerianos ao Journal. “A Rússia ainda lá está. Quando o líder do Grupo Wagner desaparece, eles continuam activos em África. … Talvez agora as mãos do Kremlin estejam mais fortes.”
Apesar dos numerosos relatos de combatentes do Grupo Wagner que cometem crimes de guerra e violações de direitos humanos em África, o grupo de mercenários expandiu-se na última década com operativos destacados na RCA, na Líbia, no Mali e no Sudão.
O Grupo Wagner procura governos instáveis e autoritários — daí o seu apoio a golpes militares no Níger e no Burquina Faso.
Normalmente, fornece treino militar, serviços de segurança e operações de desinformação, recebendo o pagamento sob a forma de concessões mineiras lucrativas.
“Em África, o Grupo Wagner transformou-se de uma entidade apoiada pelo Estado para uma entidade semelhante ao Estado,” escreveram Gabidullin e Lechner. “Há pouca vontade ou capacidade de intervenção do Ministério da Defesa.”
Não há dúvida de que o Grupo Wagner vai ficar em África, segundo Cameron Hudson, associado sénior do programa para África, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.
“Não muda muito em sítios como o Mali e a RCA, porque já havia relações e contratos,” disse à Al Jazeera. “E os russos disseram que iriam honrar esses contratos.
“A verdadeira questão é saber o que acontece nos países onde o Grupo Wagner estava a tentar expandir a sua presença, lugares como o Burquina Faso e o Níger. Será que essa expansão vai continuar sob o governo russo?”
Gabidullin considera que “a rede mais importante permanece intacta.”
E muito activa em África.
“Os governos ilegítimos de África precisam de assistência em matéria de segurança para se manterem no poder e no regime,” afirmou Hudson. “É esse o objectivo disso tudo: não é a oferta de mercenários armados, é a procura de mercenários armados.”
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