EQUIPA DA ADF
Vários soldados malianos morreram quando foram emboscados por terroristas ligados ao grupo do Estado Islâmico (EI) no nordeste da região de Ménaka, perto da fronteira com o Níger, no início de Agosto. Os soldados encontravam-se numa coluna que se dirigia para o Níger, nove dias após o golpe militar naquele país.
Um funcionário eleito disse que os mercenários russos do Grupo Wagner também estão destacados na zona.
“De acordo com uma avaliação inicial, perdemos seis homens,” disse um oficial militar à Agence France-Presse (AFP). “Lançámos hoje a busca de outros (desaparecidos), mas os terroristas perderam pelo menos 15 combatentes.”
O Mali é, desde há muito, um campo de batalha para grupos terroristas como o Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM), ligado à al-Qaeda, e o Estado Islâmico no Grande Sahel (ISGS). Há anos que os dois grupos atacam civis, forças de segurança e um ao outro.
A junta no poder no Mali utilizou a ameaça terrorista como justificação para os golpes de Estado de 2020 e 2021, mas desde então a violência ficou fora de controlo. No dia 22 de Abril, o Mali foi palco de uma série de ataques terroristas em todo o país. O primeiro ataque ocorreu em Sévaré, na região de Mopti, no centro do Mali.
Amadou Djiguiba disse que tinha acabado de rezar quando ouviu por uma série de ruídos fortes. Não se apercebeu que era o som de carros-bomba a detonar perto de um acampamento militar do Mali. O ataque resultou na morte de 10 civis, três soldados e 88 terroristas, segundo a junta no poder no Mali.
“No início, pensámos que a tragédia tinha acontecido em casa,” Djiguiba disse à AFP. “Algumas pessoas pensaram que tinha sido um edifício a ruir, mas vieram pedir-nos ajuda na estação. Fomos ao acampamento para informar o comandante. Alertámos também a protecção civil. Por volta das 6 horas da manhã, as autoridades chegaram e, em conjunto, evacuámos os feridos e os mortos. Foi muito difícil.”
Em Julho, o Mali estava a caminho de registar mais de 1.000 eventos violentos envolvendo grupos militantes islâmicos em 2023, eclipsando os níveis recorde de violência do ano passado e um aumento de quase três vezes desde que a junta tomou o poder pela primeira vez, de acordo com o Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS).De meados de 2022 a meados de 2023, os eventos violentos ligados a “grupos islâmicos militantes” aumentaram para 1.024, contra 862 no período anterior, de acordo com o relatório do ACSS. Os acontecimentos violentos incluem ataques às forças de segurança e a civis.
No primeiro semestre de 2023, registaram-se 16 episódios de “violência militante islâmica” num raio de 150 quilómetros de Bamako, a capital do país, em comparação com cinco desses eventos nos seis meses anteriores. Desde 2021, a violência contra civis aumentou 278%, com mais de 1.600 vítimas mortais registadas, segundo o relatório.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas votou por unanimidade, em Junho, pelo fim da sua missão de manutenção da paz de 10 anos, vulgarmente conhecida por MINUSMA, depois de a junta militar do Mali, liderada pelo Coronel Assimi Goïta, ter pedido à força de 13.000 homens que partisse “sem demora.” Em Agosto de 2022, as últimas tropas francesas saíram do país devido a tensões com Goïta.
Com a partida da MINUSMA e das tropas francesas, o Grupo Wagner entrou com um custo de quase 11 milhões de dólares por mês para garantir segurança e formação – ao mesmo tempo que explorava a extracção de ouro.
Mas, em vez de conter o derramamento de sangue, o grupo parece estar a causá-lo. No total, 71% do envolvimento do Grupo Wagner na violência política no Mali assumiu a forma de ataques contra civis, de acordo com o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos.
O grupo tem como alvo civis durante os ataques nas regiões de Mopti, Koulikoro, Segou e Tombuctu. Centenas de civis morreram nesses ataques, que incluíram o massacre de mais de 500 pessoas em Moura, na região de Mopti, em Março de 2022. O ataque foi perpetrado pelas tropas malianas e pelo Grupo Wagner.
Testemunhas disseram à Reuters que as tropas e os mercenários chegaram em helicópteros, espalharam-se pela cidade e dispararam contra civis.
Um homem chamado Amadou disse que foi capturado e levado para uma margem do rio, onde milhares de homens estavam sentados com as mãos atadas. Durante quatro dias, foram mantidos com pouca comida ou água e sem protecção contra o sol escaldante. Os homens foram levados em pequenos grupos para a beira de uma vala comum e fuzilados.
“Foi inimaginável,” disse Amadou à Reuters. “Vinham, pegavam 15, 20 pessoas e punham-nas em fila. Obrigavam-nas a ajoelhar e disparavam contra elas.”