Fronteira Entre RDC e Uganda Constitui Ponto Cego das Forças de Segurança
EQUIPA DA ADF
O ataque à Escola Secundária de Lhubiriha, em Mpondwe, no Uganda, começou na sexta-feira, 16 de Junho, à noite, e prolongou-se pela madrugada.
Entre os 42 mortos, contam-se 20 raparigas que foram executadas com catanas quando fugiam. Dezassete rapazes resistiram e foram trancados no seu dormitório.
“Este grupo terrorista não conseguiu entrar, por isso, atiraram uma bomba, atiraram uma bomba de gasolina,” disse a Ministra da Educação e Primeira-Dama do Uganda, Janet Museveni, num comunicado.
Foram queimados até ficarem irreconhecíveis.
Os combatentes das Forças Democráticas Aliadas, uma afiliada do grupo do Estado Islâmico, atravessaram a fronteira a partir da República Democrática do Congo (RDC) e terão passado dois dias em Mpondwe a considerar alvos antes de escolherem a escola.
O ataque sublinhou o perigo que as comunidades fronteiriças entre a RDC e o Uganda enfrentam, que também são vulneráveis ao recrutamento por grupos militantes.
“O ataque foi bem planeado, uma vez que cada um dos 10 terroristas entrou no país individualmente e não como um grupo,” o Ministro da Defesa e dos Assuntos dos Veteranos do Uganda, Vincent Bamulangaki Ssempijja, disse ao Parlamento.
Historicamente, os alunos têm sido atacados, porque as escolas são consideradas alvos fáceis. As crianças são recrutadas pelos rebeldes ou raptadas e utilizadas como carregadores de alimentos e abastecimentos. Os ataques a alunos também proporcionam a desejada cobertura dos meios de comunicação social.
As fronteiras porosas são frequentemente um ponto cego para as forças de segurança. Mpondwe, o mais movimentado dos três postos fronteiriços do Uganda com a RDC, tem várias trilhas não monitorizadas pelas autoridades.
Grandes áreas do leste da RDC não têm lei, o que permite que grupos como as Forças Democráticas Aliadas actuem com impunidade. O governo federal, sediado a mais de 2.000 quilómetros de distância, na capital da RDC, Kinshasa, tem uma autoridade limitada.
No Uganda, os grupos militantes exploram uma série de factores: a entrada de refugiados do leste da RDC, as elevadas taxas de desemprego e a circulação não regulamentada de pessoas e bens.
Muhsin Kaduyu, um especialista em prevenção do terrorismo baseado em Kampala, disse que apesar dos milhões de dólares em comércio transfronteiriço nesta região, os indivíduos que voluntariamente se juntam a grupos armados fazem-no sobretudo por razões económicas.
“Os desafios estruturais que evidenciam um sentimento crescente de exclusão social, marginalização ou injustiça tornam as comunidades mais vulneráveis à radicalização,” disse ao Instituto de Estudos de Segurança (ISS), sediado na África do Sul.
Geoffrey Ngiriker, Presidente do Município de Nebbi, no noroeste do Uganda, disse que os jovens da sua comunidade e de outras zonas fronteiriças atravessam frequentemente a RDC em busca de emprego. À chegada, são coagidos a juntarem-se a grupos militantes.
Quando estes grupos não conseguem recrutar voluntários em número suficiente, recorrem à violência para preencher as suas fileiras.
O Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, prometeu enviar mais tropas para o lado ugandês da fronteira.
O Centro Africano de Estudos e Investigação sobre o Terrorismo apelou igualmente a uma maior presença de segurança. Mas, ao analisar o atentado, chegou a uma conclusão contundente: “O facto de os terroristas terem passado duas noites sem serem detectados enquanto atacavam os residentes locais indica uma extrema falta de sensibilização da comunidade, resultante de um envolvimento inadequado da comunidade na luta contra o terrorismo e o extremismo violento.
“O Uganda precisa de embarcar numa estratégia de envolvimento da comunidade nas zonas fronteiriças como uma componente crítica de uma abordagem eficaz contra o terrorismo.”
Em 2021, as forças ugandesas deslocaram-se para o leste da RDC numa operação militar conjunta denominada Shujaa, que utilizou uma força esmagadora no solo e no ar para destruir vários esconderijos das Forças Democráticas Aliadas nas densas florestas da província do Kivu do Norte.
Kaduyu acredita que o ataque à escola poderá ter sido uma resposta à Operação Shujaa, visto que o grupo militante sofreu pesadas perdas e recorreu a tácticas de guerrilha contra alvos vulneráveis.
De acordo com o comandante da Operação Shujaa do Uganda, o Major-General Dick Olum, quando os combatentes das Forças Democráticas Aliadas estão sob pressão, normalmente “desviam” a atenção das forças de segurança, dividindo-se em pequenos grupos para lançar ataques violentos noutros locais.
Ngiriker sublinhou a necessidade de confiança entre as comunidades locais e as forças de segurança. O Uganda deve melhorar a capacidade das autoridades policiais e dos serviços governamentais para combater as causas profundas do extremismo violento.
O investigador do ISS, Isel Ras, acredita que o governo pode fazer mais.
“A partilha de informações deve ser melhorada e pode ser oferecido apoio financeiro e técnico aos programas locais para aliviar os factores de insegurança,” escreveu numa publicação de 4 de Julho na página da internet do ISS.
Kaduyu disse que as comunidades fronteiriças precisam de ajuda para melhor compreender e identificar os desafios de segurança que enfrentam.
“Quanto mais conscientes estiverem, mais capacidades têm de resistir às ameaças,” afirmou.
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