Enquanto as Forças de Manutenção da Paz da ONU Enfrentam Resistência, Crescem Apelos a Mais Missões Lideradas por Africanos
EQUIPA DA ADF
O massacre, de 46 pessoas deslocadas no campo de Lala, ocorrido em Junho, em Ituri, na República Democrática do Congo, alimentou o ressentimento dos residentes em relação à missão de manutenção da paz das Nações Unidas, que dura há décadas.
A MONUSCO, a Missão de Estabilização da Organização das Nações Unidas na República Democrática do Congo, é a maior missão de manutenção da paz do mundo. Custando um bilhão de dólares por ano, é também a missão de manutenção da paz mais cara.
A missão foi lançada em 1999 e, no seu auge, contava com 20.000 membros. Actualmente, conta com mais de 12.500 militares.
Apesar da dimensão, duração e orçamento da missão, os especialistas e os residentes afirmam que esta não trouxe paz a uma região dilacerada por conflitos interétnicos e pela tentativa de controlar o tesouro de ouro e outros recursos naturais da região.
O facto de o massacre da CODECO, a Coopérative pour le développement du Congo, ter ocorrido a 5 quilómetros de uma base da MONUSCO aumenta a frustração do público em relação à missão da ONU.
A ONU iniciou o ano com missões de manutenção da paz na República Centro-Africana, na RDC, no Mali, no Sudão do Sul, na região de Abeyi, disputada entre o Sudão do Sul e o Sudão, e no Sahara Ocidental.
A missão do Mali começou a retirar-se a 1 de Julho, depois de ter sido expulsa pela junta militar no poder. A missão da RDC deverá ser encerrada no próximo ano. As seis missões foram criticadas por não terem conseguido desmantelar os extremistas violentos ou os combates interétnicos. Os apoiantes dizem que as forças de manutenção da paz são prejudicadas pela proliferação de grupos extremistas armados, que empregam tácticas de guerrilha que as forças de manutenção da paz não estão preparadas para enfrentar.
Em resposta, o Mali e outros países recorrem a mercenários como o Grupo Wagner russo. O Grupo Wagner promete uma acção agressiva contra os extremistas, mas não pôs termo à violência nos países onde opera.
O ataque da CODECO, um grupo composto por agricultores de etnia Lendu, contra membros do grupo étnico pastoril Hema, reflecte um dos principais problemas que as forças de manutenção da paz enfrentam nos países africanos, segundo o analista ganês de segurança, Fidel Amakye Owusu.
“São as dimensões étnicas dos Estados africanos que criam algumas expectativas irrealistas por parte dos governos em relação às missões de manutenção da paz da ONU no continente,” disse Owusu à ADF.
Demasiadas vezes, os governos liderados por membros de um grupo étnico esperam que as forças de manutenção da paz da ONU actuem em seu nome contra os seus rivais étnicos.
“Quando a ONU não está a fazer isso, a ONU é vista como ineficiente e ineficaz,” disse Owusu.
As forças de manutenção da paz da ONU só podem usar força letal em autodefesa ou em defesa do seu mandato.
O bode expiatório da ONU permite que os líderes se eximam à responsabilidade pela sua própria incapacidade de pôr em campo forças de segurança bem financiadas e que reflictam a diversidade étnica do seu país, acrescentou.
Para tornar as missões de manutenção da paz mais eficazes, a ONU precisa de desenvolver melhores ligações com os civis nos locais onde as missões operam. A MONUSCO é um exemplo de uma missão que beneficiaria com essa mudança, segundo George Okach.
“Não existe uma apropriação local da missão. Até à data, alguns congoleses vêem a MONUSCO como uma entidade estrangeira que não tem qualquer interesse para a população local,” escreveu Okach para a DW.com.
Como alternativa à manutenção da paz da ONU, a União Africana lançou os seus próprios esforços de manutenção da paz em torno de blocos regionais, como a Comunidade da África Oriental, que interveio no leste da RDC. A UA apelou à ONU para que financiasse essas missões.
“É a alternativa mais adequada,” disse Owusu à ADF.
Embora esses esforços dêem um rosto africano à manutenção da paz, também podem enfrentar problemas de credibilidade, particularmente quando se trata de disputas étnicas em que os grupos étnicos atravessam fronteiras internacionais, acrescentou Owusu.
“São coisas que requerem um planeamento cuidadoso,” disse Owusu.
Juntamente com as tropas africanas, as forças de manutenção da paz da UA seriam sensatas se empregassem líderes idosos respeitados para desanuviar as tensões, acrescentou.
“Estas são algumas das coisas que temos de analisar se quisermos trabalhar de modo africano,” disse Owusu. “Em África, a utilização dos idosos na resolução de conflitos funciona.”
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