O Motim do Grupo Wagner Traz Lições e Implicações para África
EQUIPA DA ADF
Enquanto a poeira assenta após a rebelião de 36 horas do Grupo Wagner, de Yevgeny Prigozhin, contra Vladimir Putin, alguns observadores vêem paralelos com os combates no Sudão.
Tal como o Grupo Wagner, as Forças de Apoio Rápido do Sudão (RSF) são um poderoso grupo paramilitar que foi financiado e fortemente armado pelo seu governo. O Grupo Wagner e as RSF foram acusados de numerosas violações de direitos humanos.
Ambos os grupos se recusaram a integrar-se nas forças armadas do seu país. Em vez disso, cada um optou por se virar contra os seus governos.
Bakary Sembe, director regional do Centro Africano de Estudos para a Paz do Instituto Tombuctu, espera que os líderes africanos sejam mais cautelosos em relação ao recurso a mercenários e milícias.
“Têm de deixar de pensar em terceirizar a sua segurança,” disse à Al-Jazeera. “Não é uma estratégia viável e agora, tendo em conta a nova situação, os países africanos serão mais cuidadosos quando se trata de utilizar o Grupo Wagner.”
Para os poucos países africanos que têm uma parceria com o Grupo Wagner, a marcha amotinada em Moscovo sublinhou os perigos de trabalhar com grupos paramilitares.
No dia 26 de Junho, o Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros da Grã-Bretanha, James Cleverly, disse ao Parlamento que tinha falado com os líderes dos Estados africanos que utilizam o Grupo Wagner e sugeriu que estes passariam a considerar a sua segurança “inerentemente vulnerável.”
Os mercenários do Grupo Wagner, disse, “não são pessoas de confiança em nenhum país cuja defesa dependa deles, tal como os russos descobriram agora.”
O mundo assistiu, chocado, a 23 de Junho, ao momento em que Prigozhin conduziu uma coluna armada a meio caminho de Moscovo, alegadamente com a intenção de capturar o Ministro da Defesa da Rússia e o mais alto dirigente militar, antes de recuar e negociar uma retirada para a Bielorrússia.
Tal como no Sudão, o conflito agravou-se quando o governo insistiu em absorver os combatentes paramilitares nas forças armadas.
Enquanto combatiam na Ucrânia, os mercenários do Grupo Wagner tiveram de assinar contratos com o Ministério da Defesa da Rússia até 1 de Julho, o que os colocaria sob controlo militar oficial.
Prigozhin recusou a ordem e optou pela rebelião armada.
“Prigozhin foi levado a isso por entender que estava a ser encurralado,” Ruslan Pukhov, director do Centro de Análise de Estratégias e Tecnologias, um grupo de reflexão militar com sede em Moscovo, disse ao jornal The Wall Street Journal.
“Ele simplesmente não se queria afundar no esquecimento.”
No Sudão, as tensões crescentes entre os dois principais dirigentes da junta — o chefe das forças armadas, General Abdel-Fattah Burhan, e o dirigente das RSF, conhecido por Hemedti — deram origem a actos de violência a 15 de Abril.
Os combatentes das RSF viraram as suas armas contra as Forças Armadas do Sudão por causa da disputa central sobre a forma de integrar as RSF nas forças armadas e sobre qual dos generais controlaria os combatentes e as armas.
Numa altura em que o Sudão está à beira de uma guerra civil total, o Grupo Wagner enfrenta a possibilidade de uma dissolução após o motim, com o seu líder no exílio.
A incerteza provocou uma onda de preocupação em algumas partes de África, segundo Charles Bouessel, analista sénior do Grupo Internacional de Crise para a República Centro-Africana (RCA).
“Assistimos a um pouco de tensão por parte das autoridades,” disse à Al-Jazeera. “Vemos este tipo de tensão, porque eles não têm 100% de certeza do que vai acontecer, se o Grupo Wagner vai sobreviver nos próximos meses ou não.”
Samual Ramani, investigador do Royal United Services Institute for Defence and Security Studies, disse que a tentativa de golpe do Grupo Wagner pressagia tempos difíceis para os mercenários e para a Rússia em África.
“Sem o fornecimento constante de armas, é difícil perceber como é que essa relação se mantém,” disse à VICE News. “De qualquer forma, se se conseguir manter no Mali e na RCA, o Grupo Wagner não irá provavelmente angariar novos clientes.”
Alguns malianos interpretaram rapidamente o motim do Grupo Wagner como um exemplo de precaução.
“Nem mesmo o governo russo os controla,” um residente de Bamako disse à Deutsche Welle. “O que devemos fazer agora? Isso mostra que este exército não é controlável. Isso é muito perigoso para nós.”
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