Com a MINUSMA a Planear a Retirada, os Especialistas Receiam ‘Anarquia’ no Mali
EQUIPA DA ADF
Confrontada com uma violência extremista sem tréguas e um governo anfitrião hostil, a missão das Nações Unidas (MINUSMA) anunciou que irá terminar a sua missão até ao final do ano.
Numa votação unânime a 30 de Junho, o Conselho de Segurança das Nações Unidas decidiu iniciar imediatamente a retirada da missão de 15.000 pessoas e transferir as suas tarefas para o governo de transição do Mali até 31 de Dezembro. A medida surge na sequência de um pedido apresentado em Junho pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros do Mali, Abdoulaye Diop, para que as forças de manutenção da paz da ONU abandonem o país.
O anúncio foi recebido com preocupação pelos observadores que receiam um agravamento das condições no país onde os ataques são quase diários e onde cerca de 1.700 pessoas morreram este ano na sequência de ataques de terroristas, das forças de segurança ou de outros grupos armados. A Human Rights Watch considerou a retirada como um “golpe sério para o futuro da monitorização dos direitos humanos e da protecção dos civis na região dilacerada pelo conflito.”
Julie Gregory, do Centro Stimson, um grupo de reflexão sobre política externa, afirmou que o fim da missão pode ser uma luz verde para o aumento dos ataques extremistas.
“É provável que os extremistas violentos aproveitem a oportunidade para aumentar a violência, com potencial para um maior confronto com as forças nacionais, especialmente no norte”, disse Gregory à France 24.
Alguns especialistas disseram que a ONU estava a enfrentar duas más opções.
“Se saírem, temos anarquia e guerra civil, especialmente contra os civis e os fracos. Se ficarem, estamos quase desacreditados”, Ahmedou Ould-Abdallah, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros da Mauritânia, que foi um dos principais funcionários da ONU na África Ocidental, disse à Voz da América.
O que quer que aconteça no Mali reflecte-se em toda a África Ocidental. Os extremistas violentos têm estado a atacar há mais de uma década no país, expandindo-se para países vizinhos como o Burquina Faso e o Níger. Nos últimos anos, os extremistas não fizeram segredo do seu desejo de se expandirem para as nações costeiras a sul, como o Benin, a Costa do Marfim, o Gana e o Senegal.
A ONU lançou a MINUSMA em 2013, depois de os rebeldes separatistas e os extremistas ligados à al-Qaeda terem tomado o controlo da parte norte do país. Mais de 170 soldados da paz morreram nos combates, o que faz da MINUSMA a missão de combate mais perigosa da ONU.
A França lançou a sua própria operação militar no Mali em 2013, com o objectivo de evitar uma tomada de controlo pelos extremistas, mas retirou as suas forças no ano passado. A Alemanha anunciou que vai retirar os seus 1.100 soldados da MINUSMA e comprometeu-se a prestar assistência civil.
O actual governo militar do Mali aliou-se à Rússia e aos seus mercenários do Grupo Wagner. Por volta de Setembro de 2020, o governo do Mali concordou em aceitar 1.000 elementos do Grupo Wagner “para garantir formação, protecção pessoal e operações de combate ao terrorismo”, de acordo com o Foreign Policy Research Institute.
Uma coligação de grupos armados do país, o Quadro Estratégico Permanente para a Paz, Segurança e Desenvolvimento, tem estado em desacordo com o governo militar e abandonou as conversações de paz em Dezembro de 2022. A coligação afirmou que só voltará às negociações num país neutro e sob mediação internacional, segundo a Al-Jazeera.
Ould Mohamed Ramdane, representante de um grupo rebelde, disse à Reuters que a MINUSMA era a chave para a continuação das negociações. Para além do seu papel nas conversações de paz, a MINUSMA trouxe “calma e segurança” às áreas onde foi destacada e distribuiu ajuda humanitária no norte do Mali.
O Instituto Egmont, sediado em Bruxelas, referiu que “não há dúvida” de que as forças de manutenção da paz da MINUSMA tenham conseguido reduzir a violência contra civis durante a última década, embora em graus variáveis ao longo de diferentes períodos. O Instituto Egmont também referiu que “muitas vezes não é referido que é o governo do Mali que tem a principal responsabilidade de proteger os civis no seu território.”
A missão da MIMUSMA nunca foi simples. Mais recentemente, teve de trabalhar com líderes militares de golpes de Estado, em Agosto de 2020 e Maio de 2021. Guterres reconheceu os resultados desiguais da MINUSMA, mas salientou a importância do próximo ano, com a junta a prometer um regresso ao regime civil. Esta promessa tem sido vista com cepticismo.
Os líderes militares do Mali têm sido cada vez mais condenados desde que, em Maio, a ONU divulgou um relatório que responsabilizava combatentes estrangeiros, alegadamente membros do Grupo Wagner, pelo massacre de pelo menos 500 pessoas na cidade de Moura, em Março de 2022, numa operação supostamente antiterrorista.
Especialistas em segurança, de acordo com o Instituto Egmont, disseram que a retirada da MINUSMA a pedido de uma junta militar cria um precedente perigoso, encorajando os líderes a “ditar se, quando e como as operações da ONU devem ser retiradas.”
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