Antigas Rotas Comerciais do Sahel Utilizadas para Traficar Armas Ilegais e Drogas

EQUIPA DA ADF

As organizações criminosas e os grupos terroristas teceram uma complexa rede de tráfico de mercadorias ilícitas, tais como espingardas de assalto, munições, explosivos e medicamentos falsificados em toda a região do Sahel.

Outrora utilizadas para o comércio legítimo, as rotas atravessam fronteiras porosas no Burquina Faso, nos Camarões, no Chade, na Gâmbia, na Guiné, no Mali, na Mauritânia, no Níger, na Nigéria e no Senegal.

“O crime organizado está a alimentar-se das vulnerabilidades e também a minar a estabilidade e o desenvolvimento no Sahel,” afirmou François Patuel, chefe da Unidade de Investigação e Sensibilização do Gabinete das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (UNODC), num novo relatório. “A conjugação de esforços e a adopção de uma abordagem regional conduzirão ao êxito da luta contra a criminalidade organizada na região.”

A economia ilícita financia e ajuda a abastecer os grupos extremistas. A violência extremista matou mais de 19.100 pessoas em África, em 2022, um aumento de 48% em relação ao ano anterior, de acordo com o Centro de Estudos Estratégicos de África. A maior parte da violência registou-se no Sahel — principalmente no Burquina Faso, no Mali e no Níger — e na Somália. Estas áreas representam 77% de todos os incidentes violentos registados no continente em 2022.

Uma operação conjunta de uma semana conduzida pelo

UNODC e pela Interpol, em Dezembro de 2020, ofereceu um vislumbre da questão.

A operação, conhecida como Operação KAFO II, visava os pontos críticos de contrabando no Burquina Faso, Costa do Marfim, Mali e Níger. As autoridades examinaram mais de 12.000 pessoas, detiveram vários suspeitos de terrorismo e interceptaram 50 armas de fogo, mais de 6.000 cartuchos de munições, mais de 40.000 barras de dinamite e 28 cordões detonadores.

O tráfico de armas na região beneficia grupos extremistas violentos como o al-Shabaab, o Ansaroul Islam, a Província do Estado Islâmico no Sahel, o Estado Islâmico na Somália e o Jama’at Nusrat al-Islam wal Muslimeen. Os explosivos, como a dinamite, são normalmente utilizados nas operações de extracção ilegal.

“O tráfico de armas de fogo é um negócio lucrativo que, por sua vez, alimenta e financia outros tipos de crimes graves,” afirmou o Secretário-Geral da Interpol, Jürgen Stock, num relatório da ONU. “A operação KAFO II mostra a necessidade de ligar os pontos entre os casos de crime que envolvem armas de fogo e terroristas em diferentes países.”

A operação apreendeu ainda 1.500 quilos de canábis e de khat, cerca de 60.000 litros de combustível roubado e mais de 2.000 caixas de medicamentos contrabandeados.

Um Rescaldo Mortífero

O tráfico de drogas e medicamentos ilegais é um flagelo que mata anualmente cerca de 500.000 pessoas na África Subsaariana, de acordo com um relatório do UNODC de Fevereiro de 2023 intitulado “Tráfico de produtos médicos no Sahel.”

Cerca de 267.000 mortes por ano estão ligadas a medicamentos antimaláricos falsificados e de qualidade inferior, enquanto mais de 169.200 mortes estão ligadas a antibióticos falsificados e de qualidade inferior utilizados no tratamento de pneumonia grave em crianças.

De acordo com o relatório, as autoridades apreenderam mais de 605 toneladas de produtos médicos na África Ocidental, entre Janeiro de 2017 e Dezembro de 2021. Os produtos chegam normalmente ao Sahel provenientes dos principais países exportadores, como China, Bélgica, França e Índia, enquanto alguns são fabricados nos países vizinhos.

Uma vez na África Ocidental, os contrabandistas transportam os produtos médicos em autocarros, automóveis e camiões para o Sahel para evitar os controlos fronteiriços. O relatório identificou os traficantes como funcionários de empresas farmacêuticas, funcionários públicos, agentes da autoridade, trabalhadores de agências de saúde e traficantes de rua.

O UNODC apresentou recomendações para travar o fluxo ilícito de drogas e medicamentos falsos, incluindo a introdução de legislação mais rigorosa para dissuadir crimes como o contrabando, o branqueamento de capitais e a corrupção.

“A apreensão e a alienação de bens de origem criminosa, a extradição e o auxílio judiciário mútuo devem ser introduzidos para garantir que nenhuma fase da cadeia de abastecimento de medicamentos falsificados seja negligenciada,” afirma o relatório de Fevereiro.

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