Conflito no Sudão Ameaça Atingir Seus Vizinhos
EQUIPA DA ADF
Enquanto os combates prosseguem no Sudão, não é apenas o povo sudanês que receia pelo seu futuro. Toda a região está a acompanhar ansiosamente os acontecimentos. O êxodo maciço de refugiados e a ameaça de que o conflito possa ultrapassar as fronteiras fazem deste um momento particularmente perigoso para a região do Corno de África e do Mar Vermelho.
“O risco de um alastramento regional é elevado, dada a importância geoestratégica do Sudão na intersecção do Oceano Índico, do Corno de África e do mundo árabe,” escreveu Miriam Berger para o The Washington Post. “De sete lados, os vizinhos do Sudão estão a observar.”
Egipto: Os dois países do Rio Nilo partilham laços culturais, económicos e diplomáticos profundos. Estima-se que cerca de 5 milhões de sudaneses viviam no Egipto antes do início do conflito. Esse número aumentou, com cerca de 87.000 refugiados a atravessar a fronteira desde o início dos combates, a 15 de Abril.
O Egipto juntou-se ao Sudão para se opor à Grande Barragem do Renascimento Etíope (GERD) da Etiópia, um enorme projecto hidroeléctrico no Rio Nilo que os líderes egípcios descrevem como uma “ameaça existencial” devido ao possível impacto no seu abastecimento de água potável. O Egipto não quer perder o Sudão como aliado na defesa dos seus direitos à água.
“Há preocupações crescentes no Egipto de que a instabilidade no Sudão possa ofuscar ou mesmo fazer descarrilar as negociações com a Etiópia,” escreveu Shahira Amin, membro sénior do grupo de reflexão Atlantic Council.
O governo egípcio tem laços estreitos com o General Abdel Fattah al-Burhan, chefe das Forças Armadas do Sudão, e acredita que a sua liderança é melhor para a estabilidade a longo prazo. O presidente egípcio, Abdel Fattah el-Sisi, ofereceu-se para mediar o conflito, mas não fez muitas declarações para além de condenar a detenção de 27 membros da Força Aérea Egípcia pelas Forças de Apoio Rápido do Sudão. As tropas, que el-Sisi afirmou não serem parte no conflito, foram posteriormente libertadas.
“Embora a liderança egípcia tenha insistido que não está a tomar partido no conflito, o Cairo está a observar os desenvolvimentos no Sudão com apreensão,” escreveu Amin. “A crise que se está a desenrolar pode ter implicações de longo alcance para o seu vizinho do norte.”
Etiópia: O país mais populoso da região, a Etiópia está a tentar manter uma paz frágil após a sua própria guerra civil de dois anos. A Etiópia acolhe 900.000 refugiados e cerca de 3 milhões de deslocados internos. Enfrenta também uma grave insegurança alimentar no norte do país e os trabalhadores humanitários receiam qualquer interrupção do fornecimento de ajuda.
Nos últimos anos, a Etiópia entrou em conflito com o Sudão por causa da GERD e de um território fronteiriço disputado, conhecido como al-Fashaga. Receia-se que as milícias Amhara etnicamente alinhadas na Etiópia possam aproveitar a oportunidade para tentar reclamar terras ao Sudão, desencadeando um conflito entre as duas nações.
“As Forças Armadas do Sudão, como o exército nacional do Sudão, seriam obrigadas a responder às ameaças à integridade territorial do país,” disse Jonas Horner, um analista, à Al Jazeera.
Eritreia: Um dos Estados mais repressivos do continente, a Eritreia terá aproveitado o conflito para repatriar à força alguns dos seus cidadãos que viviam do outro lado da fronteira, no Sudão. Estima-se que vivam no país 186.000 refugiados eritreus, muitos dos quais são dissidentes políticos. Segundo activistas eritreus dos direitos humanos, agentes do governo da Eritreia entraram no Sudão e obrigaram alguns refugiados a embarcar em autocarros e a regressar ao país, onde enfrentam a prisão.
“O regime da Eritreia é brutal,” disse um activista eritreu ao The Guardian. “Estou preocupado que alguns deles desapareçam para sempre.”
Líbia: O leste da Líbia é a base de operações do Marechal Khalifa Haftar e dos mercenários russos do Grupo Wagner. Ambos os grupos estão alegadamente a apoiar o general sudanês, Mohamed Hamdan Dagalo, líder das Forças de Apoio Rápido (RSF), o qual é conhecido como Hemedti. De acordo com um relatório do Atlantic Council, este apoio inclui o fornecimento de munições e mísseis, bem como a partilha de informações. O filho de Haftar, Saddam, está a supervisionar um esforço para abastecer as forças das RSF com milhares de barris de petróleo por dia.
Segundo os analistas, a Líbia poderia servir de base de retaguarda para os combatentes das RSF, o que ameaçaria internacionalizar ainda mais o conflito. “A Líbia é um importante centro logístico do mercado negro — para armas, alimentos, combustível, combatentes, dólares frescos — e, portanto, uma base ideal para lançar ataques,” escreveu Alia Brahimi, membro sénior dos Programas para o Médio Oriente, do Atlantic Council. “Se Hemedti se retirar de Cartum para Darfur, os combates tribais na região de Darfur e o colapso do acordo de paz ameaçam arrastar a Líbia para uma conflagração regional.”
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