EQUIPA DA ADF
A Marinha da Guiné encontrou mais de 1,5 toneladas de cocaína a bordo de uma embarcação de pesca ao largo da sua costa, durante uma inspecção, no início de Abril.
A apreensão ilustra uma tendência na África Ocidental, onde pelo menos 57 toneladas de cocaína foram apreendidas na região ou a caminho da região, entre 2019 e 2022, de acordo com um relatório do Escritório das Nações Unidas Contra as Drogas e o Crime (UNODC).
Naquele período, as autoridades apreenderam 16,6 toneladas de cocaína em Cabo Verde, 4,7 toneladas no Senegal e 3,9 toneladas no Benin.
O relatório classificou os países da África Ocidental — incluindo Benin, Costa do Marfim, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Nigéria e Senegal — e da África Central como novo foco de concentração de cocaína numa altura em que a produção da droga aumentou em 35% no mundo inteiro, entre 2021 e 2022.
Embora a pandemia global tenha causado interrupções no comércio ilegal de drogas, “os dados mais recentes sugerem que esta quebra teve um pequeno impacto sobre as tendências a longo prazo,” afirma o relatório. “O fornecimento global de cocaína encontra-se em níveis recordes.”
O relatório destacou uma tendência observada por analistas há anos: a cocaína traficada a partir da América do Sul, através da África Ocidental, deixou de ter como destino quase exclusivo a Europa. É cada vez mais vendida e consumida por pessoas do continente africano.
“Muitas regiões estão a ter um aumento firme no número de consumidores de cocaína,” porta-voz do UNODC, Stéphane Dujarric, disse numa conferência de imprensa. “O relatório alerta que, enquanto os mercados de cocaína continuam mais concentrados na América e em partes da Europa, existe um forte potencial para expansão em África e na Ásia.”
O relatório concluiu que os sindicatos do crime em África trabalham para produzir para os “provedores de serviços” locais, que gerem algumas partes da cadeia de fornecimento de cocaína — e vendem-na aos residentes locais.
Geralmente, os provedores de serviços recebem a cocaína nos seus locais de entrada. Muitas vezes, fazem a entrega da droga em troca do pagamento de uma taxa, que pode ser paga em dinheiro ou em espécie de serviços, a última destas transacções “impulsiona a disponibilidade de cocaína nos mercados domésticos dos países de trânsito,” afirma o relatório.
Na África Ocidental, o epicentro do mundo da pesca ilegal, evidências sugerem que pequenas embarcações estão cada vez mais a ser utilizadas para traficar cocaína. A droga é habitualmente descarregada a partir de embarcações antes de chegar ao porto e é transferida para armazéns em terra por embarcações preparadas para transportar 1 a 1,5 toneladas de cocaína, de acordo com o relatório.
O trabalho de um sindicato internacional do crime foi exposto em Setembro de 2022, quando a Agência Nacional de Aplicação da Lei Sobre Drogas da Nigéria (NDLEA) apreendeu 1,8 toneladas de cocaína, num armazém, no Estado de Lagos.
Tratou-se da “maior apreensão de cocaína, de uma única vez”, na história da agência, porta-voz da NDLEA, Femi Babafemi, disse numa reportagem da Channels Television, da Nigéria. Babafemi acrescentou que o carregamento tinha um valor de mercado de mais de 278 milhões de dólares.
Babafemi falava enquanto cinco homens algemados, com aparência de deprimidos, permaneciam em pé por detrás de cocaína que estava em exposição, empacotada numa pasta em grandes blocos bem embrulhados em plásticos. Ele disse que os homens eram membros de um sindicato do crime que a agência procura desde 2018.
“Pela graça de Deus, fomos capazes de os rastrear até a esta beleza,” disse Babafemi enquanto abria os braços e olhava para um edifício antiquado que se encontrava atrás dele. “Parece desocupado, no entanto, é um armazém para este cartel internacional.”
Grandes apreensões de cocaína continuaram em 2023. A Marinha Senegalesa apreendeu cerca de 770 quilogramas de cocaína numa embarcação que navegava nas águas ao largo de Dakar, em finais de Janeiro.
Em finais de Março, a Marinha Francesa apreendeu 6 toneladas de cocaína num barco que navegava no Golfo da Guiné. Tratou-se da maior apreensão na região desde 2019, quando aproximadamente 10 toneladas de cocaína foram retiradas de um navio que navegava nas águas de Cabo Verde, de acordo com o serviço de notícias marítimas, gCaptain.