Actividades de Militantes no Parque W do Benin Constituem Uma Preocupação Crescente

EQUIPA DA ADF

O Parque Nacional W do Benin situa-se na fronteira norte daquele país, que se tornou a linha da frente na batalha para conter organizações extremistas violentas do Sahel.

Com o Parque W como um ponto de entrada conveniente, esta linha da frente está a movimentar-se em direcção ao sul.

O parque de 8.000 quilómetros quadrados tornou-se um local seguro e de esconderijo para militantes, levando o Benin a reavaliar a sua abordagem para a segurança.

“Eles transformaram o parque em algum tipo de sede, ou pelo menos a sua base de operações,” analista do Grupo da Crise, Ibrahim Yahaya Ibrahim, disse à rede de radiodifusão, RFI.

“Eles tiram vantagem do facto de que o parque é de difícil acesso para as forças de defesa e de segurança para montarem acampamentos que geralmente ficam escondidos por baixo de camadas espessas de árvores, fazendo com que eles sejam invisíveis para os drones e aeronaves militares.”

Os militantes operam no parque desde 2018, montando pequenas bases estratégicas localizadas e movimentando-se frequentemente para controlar os recursos de água disponíveis.

O Benin experimenta um aumento de incidentes de violência desde Maio de 2019.

Houve 26 ataques organizados perpetrados pelo afiliado da al-Qaeda, Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM), registados no norte do Benin, entre 1 de Novembro de 2021 e 14 de Setembro de 2022, de acordo com o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Evento.

O JNIM, o afiliado do Estado Islâmico no Sahel, e outros grupos extremistas dominam grandes faixas do Parque W, tirando vantagem das fronteiras porosas, terrenos irregular e uma escassez de fiscais armados.

O Parque W tornou-se um centro de actividade de militantes e um ponto de lançamento de incursões para Benin, Burquina Faso, Níger e Togo.

“O parque também se tornou numa fonte importante de rendimento,” disse Ibrahim. “[Os militantes] utilizam uma rede intensa de caminhos e rios que atravessam o parque para praticarem o contrabando.

“Eles também armazenam gado que obtêm nas suas incursões e organizam a venda deste gado em muitos mercados de venda de gado das zonas rurais existentes na região. Para além disso, cobram impostos aos mineiros.”

Secas recorrentes obrigaram as populações das zonas áridas do Sahel, na região da fronteira tríplice, onde eles vivem, nos arredores do parque. Esses movimentos aumentam a concorrência para terras de pastagem e água.

Os grupos extremistas têm como alvo as populações locais, exacerbando as disputas sobre os recursos naturais, causando conflitos intercomunitários e posteriormente recrutando jovens descontentes.

As reservas da fauna bravia também oferecem aos grupos militantes acesso a redes criminosas que lidam com contrabando, caça furtiva e comércio de madeira ilegal.

É uma mistura nociva que os analistas como Ibrahim já viram antes.

Um relatório de Janeiro de 2023, do Grupo da Crise, com o título “Conter a Militância no Parque W da África Ocidental,” concluiu que o parque “se arrisca a sofrer um destino semelhante ao da floresta de Sambisa, uma reserva de caça que antes prosperou, no norte da Nigéria, onde a insurgência do Boko Haram transformou-a em sua base, em meados da década de 2010.”

“Ao longo dos anos, Sambisa tornou-se um centro de contrabando para militantes e uma fortaleza impenetrável para as forças de segurança, que tentam desalojar o grupo através de bombardeamentos aéreos. Actualmente, a floresta está completamente degradada e a sua fauna e flora raras esvaneceram-se por completo.”

A enfrentar um aumento da ameaça do terrorismo, o governo do Benin aumentou o seu orçamento do exército de pouco mais de 101 milhões de dólares em 2022 para 140 milhões de dólares solicitados para 2023 — um aumento em 38,6%.

As forças de segurança do Benin estão a trabalhar para capacitar e recrutar mais de 2.000 soldados e agentes da polícia nos próximos três anos.

Em Abril de 2022, o Benin também informou as Nações Unidas que iria retirar as suas tropas enviadas para a missão de manutenção da paz no Mali de modo a fortalecer a sua segurança da fronteira com o Burquina Faso e o Níger.

Ibrahim acredita que a ameaça terrorista do Benin exige acção militar, mas recomenda que seja combinada com abordagens não cinéticas.

“Não existe uma solução milagrosa,” disse. “A acção militar pode centrar-se em contenção, tentando impedir que o grupo expanda a sua presença para além do parque.

“A acção militar também pode ser acompanhada pela iniciativa de diálogo.”

Gilles Yabi, fundador e director-executivo do West Africa Think Tank, com sede no Senegal, apelou para o envolvimento da sociedade civil na resolução de conflitos.

“A urgência é de conter estes grupos armados em zonas limitadas e se possível procurar desalojá-los,” disse ao site Benin Intelligent. “A prevenção deve desempenhar um papel muito importante.

“Visto que estas situações de insegurança afectam primeiramente a sociedade civil, sem dúvidas que esta tem um papel importante a desempenhar … ao prevenir o extremismo violento e o estabelecimento de grupos armados nesta região.”

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