Grupos Terroristas Atacam Zonas Vulneráveis e Lesam o Continente em Bilhões

EQUIPA DA ADF
 

Moustapha estava a ficar sem esperança. O nigeriano tinha uma família para alimentar, mas poucos meios para o fazer.

Assim como muitas outras pessoas do continente, ele foi persuadido a juntar-se e lutar por uma organização extremista violenta.

 

“Eu juntei-me, porque senti-me frustrado com as condições da vida diária, a vida que eu levava,” disse Moustapha num relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), de 2023. “Eu era tão pobre e vulnerável, com uma família por cuidar.”

Este é um refrão comum das pessoas que se juntam aos grupos terroristas na região do Sahel, que emergiu como um dos novos epicentros do extremismo violento do mundo.

Em todo o continente, grupos como o  al-Shabaab, Ansaroul Islam, Boko Haram, Estado Islâmico do Sahel, Província do Estado Islâmico da África Ocidental (ISWAP) e Jama’at Nusrat al-Islam wal Muslimeen, ou JNIM, continuam a expandir o seu alcance. Em zonas com fraca segurança, eles assumem o controlo das estradas principais, administram uma justiça brutal e cobram impostos às empresas locais.

No Estado de Borno, Nigéria, o Boko Haram é acusado de atacar intencionalmente os mercados, as rotas de comércio e as infra-estruturas para sufocar a economia local. Até 2019, os mercados estavam encerrados em 16 das 27 zonas de governos locais do Estado e cerca de 80% dos agricultores não tinham acesso aos seus mercados de preferência, de acordo com um relatório do PNUD de 2019.

Esse relatório calculou o custo económico do terrorismo em África como sendo de pelo menos 119 bilhões de dólares, de 2007 a 2016. Mas o total é muito mais elevado quando factores como a segurança adicional, os custos com os refugiados e a perda de actividade económica informal são tidos em conta. Líbia, Mali, Nigéria e Somália — os quatro países considerados como o epicentro do extremismo violento de África — representam 103 bilhões de dólares ou 94% do total.

“A deterioração no crescimento económico e do desenvolvimento por conta do extremismo violento pode contribuir para um ciclo vicioso onde impulsionadores particulares e insatisfações aumentam,” afirma o relatório. “O desempenho económico mais fraco, combinado com a fragmentação social e política, num contexto vulnerável, pode contribuir para a deterioração da paz.”

A Força-Tarefa Conjunta Multinacional, uma missão para trazer a paz na Bacia do Lago Chade e que inclui tropas de Benin, Camarões, Chade, Níger e Nigéria, recentemente obteve sucesso. Em meados de Março, a força-tarefa anunciou que tinha apreendido mais de 900 suspeitos, familiares e colaboradores do Boko Haram e do ISWAP, ao longo da fronteira entre o Níger e a Nigéria.

Contudo, ambos grupos continuam a prosperar, e ataques indiscriminados continuam a ser comuns.

Menos de uma semana depois, o Boko Haram matou pelo menos 37 pescadores nigerianos, próximo da cidade de Dikwa, no Estado de Borno. Os pescadores estavam a separar a sua captura na margem do rio quando sofreram uma emboscada.

“Os terroristas perseguiram os pescadores quando estes tentavam fugir, alvejando-os até à morte, mas três deles conseguiram escapar e alertaram [as autoridades de] Dikwa sobre o ataque,” membro da milícia, Umar Ari, disse à Agence France-Presse.

Alguns analistas afirmam que as abordagens militares para acabar com a violência extremista parece não estar a funcionar. Em Fevereiro, mais de 50 soldados do Exército de Burquina Faso foram mortos num ataque brutal perpetrado pelo grupo ligado ao Estado Islâmico, na província de Oudalan, da região do

“A luta das forças governamentais para evitar ataques mortais, especialmente como emboscadas contra colunas, é uma grande preocupação, visto que vem numa altura em que o Estado procura afirmar a sua presença e perseguir [os terroristas], retirando-os das zonas que eles controlam,” Rida Lyammouri, membro sénior do Policy Center for the New South, um grupo de reflexão do Marrocos, disse à France 24.

“Se colunas forem várias vezes atacadas, a recuperação de territórios e a garantia da protecção aos civis irão levar muito tempo e muita gente morrerá,” acrescentou Lyammouri.

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