As autoridades apreenderam 3.000 espingardas, centenas de caixas de munições e mísseis antitanque de uma embarcação de pesca no Golfo de Omã, no dia 15 de Janeiro. As armas iranianas estavam destinadas à milícia Houthi, do Iémen.
Onze dias antes, 2.000 armas iranianas diversas destinadas ao Iémen foram interceptadas numa embarcação de pesca, na mesma área, de acordo com o Centro de Fusão de Informação Marítima Regional (RMIFC) do Madagáscar.
Sem informações sobre as embarcações que o RMIFC partilha com as autoridades locais, algumas das armas podem ter terminado na Somália e vendidas aos grupos extremistas violentos como o al-Shabaab e o Estado Islâmico na Somália. O Irão tem utilizado o país para canalizar armas para a milícia Houthi desde por volta do ano de 2016.
De acordo com o RMIFC, o tráfico de armas nas regiões da África Oriental e África Austral e na região do Oceano Índico (ESA-IO) está a aumentar. O centro combate o problema partilhando e trocando informações de segurança marítima sobre embarcações suspeitas de cometer crimes.
O centro ajuda a identificar embarcações suspeitas antes de serem apreendidas por tráfico de armas e outros crimes marítimos, como contrabando de droga, migração humana ilegal e pesca ilegal. A monitoria constante feita pela sala de controlo do centro ajuda a alertar as agências de aplicação das leis marítimas sobre as ameaças de forma oportuna.
As apreensões de Janeiro “não apenas destacam que o uso de embarcações de pesca e canoas continua a ajudar as actividades dos criminosos, mas a existência activa de contrabando e rotas de tráfico conhecidos também está a contribuir para o comércio ilegal,” Tenente Saïd Lavani, originário das Ilhas Comores,pessoa de contacto internacional do RMIFC, disse à ADF num e-mail.“A falta de detenção de suspeitos criminosos interceptados no mar também está a permitir que as redes e o contrabando persistam.”
O RMIFC partilha informação com o seu centro irmão, o Centro Regional de Coordenação Operacional (RCOC) das Seicheles e com qualquer país que enfrenta uma ameaça marítima. Se o país não for capaz de interditar, pode solicitar ajuda do RCOC.
As frequentes apreensões de armas destacam uma “ameaça preocupante na região,” de acordo com Lavani, que recomendou que todos os países da região se juntassem à arquitectura do Programa de Segurança Marítima (MASE) para que possam receber informação dos centros regionais.
As Ilhas Comores, o Djibouti, a França em nome das Ilhas Reunião, Quénia, Madagáscar, Ilhas Maurícias e Seicheles são os actuais membros do MASE, embora Lavani tenha dito que a Tanzânia provavelmente venha a aderir em breve.
Um novo relatório do Instituto de Estudos de Segurança revelou que a rede de contrabando de armas iranianas provavelmente se expanda para grupos ligados ao al-Shabaab, na Etiópia, no Quénia e em Moçambique. As armas iranianas também acabam por chegar à República Centro-Africana, Sudão do Sul e Tanzânia.
O Irão também confirmou ligações com muitas redes de contrabando de drogas na região do Corno de África, de acordo com Abdul Salam Mohammed, director do Centro de Estudos e Pesquisa de Abaad, no Iémen.O Irão “beneficia-se da criação de um caos no Corno de África — algo que faz com que seja fácil que ele penetre [na região] com a sua agenda e ameace a comunidade internacional,” disse Mohammed ao site almashareq.com.De acordo com Lavani, os contrabandistas de drogas na região também frequentemente utilizam embarcações de pesca e canoas, que também são utilizadas para a imigração humana ilegal.
Em finais de Janeiro, por exemplo, uma embarcação de pesca sob monitoria do RMIFC foi apreendida, no Golfo de Omã, transportando cerca de 4.000 quilogramas de haxixe e 512 quilogramas de metanfetamina, avaliados em aproximadamente 33 milhões de dólares.
Em meados de Janeiro, a Gendarmaria Marítima, uma componente da Marinha da França, descobriu 69 suspeitos migrantes humanos ilegais a bordo de uma embarcação de pesca atracada nas Ilhas Reunião, comunicou o centro.