EQUIPA DA ADF
Muitas comunidades rurais da África Ocidental dependem de burros como uma fonte de trabalho, transporte e rendimento.
A medicina tradicional chinesa valoriza os burros pela sua pele.
Nos últimos anos, a China tem sido incapaz de satisfazer as suas altas demandas de ejiao, uma gelatina criada a partir de couro fervido de burro.
Por isso, a China desviou as suas atenções para África, onde os burros agora sofrem juntamente com os seus proprietários, à medida que o roubo, o abate ilegal e o tráfico aumentam.
“O abate de burros está a causar um grande impacto nos meios de subsistência a nível rural,” Dra. Monicah Maichomo, uma investigadora queniana, da área da pecuária, disse à plataforma Devex.
Apesar da ausência de provas científicas, o ejiao é utilizado na medicina tradicional chinesa como um remédio para uma variedade de doenças incluindo tonturas, tosse seca, fadiga crónica, insónia e tumores cancerígenos.
Anualmente, milhares de burros são abatidos no mundo inteiro. O processo é grosseiro e cruel, muitas vezes, com recurso a martelo ou espada.
Estima-se que a demanda da China seja de cerca de 5 milhões de peles por ano, enquanto o fornecimento anual daquele país é inferior a 1,8 milhões.
Tendo sido outrora o lugar de origem da maior população de burros do mundo, a China viu esta população baixar em mais de 76% desde 1992.
Actualmente, na África Ocidental, a população de burros também está a reduzir drasticamente.
- Uma instituição de caridade para o bem-estar dos animais comunicou que uma empresa chinesa, no Mali, abate 300 burros por dia, para exportar o seu couro para a China.
- No Burquina Faso, cerca de 19 toneladas métricas de couro de burro foram exportadas para a China, entre Outubro de 2015 e Janeiro 2016.
- No Níger, as exportações de couro aumentaram de 27.000 para 80.000, entre 2015 e 2016.
Simon Pope, líder da resposta táctica do The Donkey Sanctuary [o santuário de burros], disse que o Gana desempenha um papel fundamental no tráfico de couro de burro da África Ocidental.
“Os burros podem ser transportados de uma distância tão longa quanto o Norte de África, Chade e Camarões, através do Burquina Faso, onde existe um grande mercado,” disse ao jornal sul-africano, The Daily Maverick.
“A partir daquele ponto, os burros são transportados para o Gana onde são abatidos. Estima-se que 100.000 burros sejam abatidos naquele ponto anualmente e o seu couro exportado para China e Hong Kong.”
Em Junho de 2022, a Tanzânia tornou-se o mais recente país africano a banir o abate de burros para o comércio de couro, afirmando que a população daquele país se encontrava em risco de extinção.
Vários outros países africanos possuem proibições, incluindo Burquina Faso, Níger e Nigéria.
Um memorando de 2016, feito pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental estabelece que os países membros não devem abater ou exportar burros para o comércio. Contudo, visto que não se trata de uma lei, o édito não é executório.
Entretanto, o roubo e o tráfico na África Ocidental continuam a aumentar.
“Enquanto alguns países da África Ocidental, como Senegal, tomam algumas medidas para conter o tráfico de burros, o Gana continua em silêncio,” disse Pope.
“Enquanto nos papéis Acra colocou em vigor algumas leis, estas nunca são aplicadas. Existe apenas um conjunto de registos de couro de burro e exportações da carne do Gana para China, sendo o mais recente de 2021.”
Os carregamentos de couro de burro também são utilizados para esconder outras partes ilegais de animais e drogas ilícitas.
No seu relatório de Maio de 2022, o The Donkey Sanctuary, afirmou que existe uma “vasta rede online de criminosos do crime organizado, que oferece couro de burro para a venda, muitas vezes, juntamente com outros produtos ilegais da vida selvagem, incluindo chifres de rinoceronte, escamas de pangolim, marfim de elefantes e peles de tigre.”
Marianne Steele, directora-executiva do The Donkey Sanctuary, disse que o comércio e o tráfico de couro de burro devem ser paralisados imediatamente.
“O comércio global de couro de burro é cruel e desumano, não regulado e desnecessário, o que resulta em sofrimento para os burros e para as comunidades dependentes de burro numa escala devastadora,” disse num comunicado de Novembro de 2022.
“Eu imploraria que os consumidores, governos e o público em geral para tomar nota dos riscos para os animais e para a saúde dos seres humanos.”