Caça Furtiva do Abalone Sul-Africano Alimenta Violência e Ameaça Espécies
Uma viatura suspeita passava pelas ruas de Durban, África do Sul, por volta das 03h45 da manhã, com água a escorrer pela parte traseira.
Quando a polícia interceptou o Toyota Condor vermelho descobriu oito sacos de abalone em conchas, avaliado em
500.000 randes (pouco mais de 29.100) dólares, comunicou o jornal sul-africano, Daily Maverick. O condutor foi preso, uma vez que é ilegal colher abalone sem uma licença, nos termos da lei sul-africana.
O incidente de meados de Janeiro é comum na África do Sul, onde a caça furtiva do abalone é, muitas vezes, controlada por gangues e ligada à distribuição devastadora de metanfetamina em cristal e outras drogas.
O país tem sido o foco global de caça furtiva do abalone desde a década de 1990 e está ligado a assassinatos de gangues, corrupção e “a criminalização das comunidades marginalizadas,” de acordo com um relatório da Iniciativa Global Contra o Crime Organizado Transnacional. “A caça furtiva desenfreada daquele que é conhecido localmente como o “ouro branco” tem dizimado as populações locais dos caracóis marinhos.
Mais de 2.000 toneladas de abalone são colhidas anualmente ao longo da linha da costa da África do Sul. O comércio Ilícito do abalone naquele país é avaliado em aproximadamente 60 a 120 milhões de dólares por ano.
O comércio é, “em termos gerais, controlado por grupos criminosos chineses, que adquirem o seu produto de gangues locais que operam em povoados de pescadores próximo de locais conhecidos pela prática da caça furtiva,” comunicou a Wildlife Justice Commission, em 2021.
“O abalone é tipicamente posto a secar em instalações de processamento ilegais, na África do Sul, antes de ser transportado, atravessando a fronteira em camiões, para Namíbia, Zimbabwe ou Moçambique, sendo o abalone escondido em falsos compartimentos ou entre caixas de outros produtos, como frutas secas, a partir de onde é exportado para Hong Kong,” afirma o relatório.
Na China, os grandes moluscos gastrópodes são uma iguaria há séculos. De acordo com a comissão, estima-se que mais de 96 milhões de abalones sul-africanos foram colhidos de 2006 a 2016, com 90% deles sendo enviados para Hong Kong.
“O abalone é um dos itens mais apreciados na culinária cantonesa — um prato essencial em menus de banquete de celebração,” disse Wilson Lau, autor de uma avaliação sobre o abalone sul-africano, feita pela TRAFFIC, uma organização não-governamental que examina o comércio global de espécies de animais selvagens e plantas. “Infelizmente, quando é o abalone seco da África do Sul, pode ter sido colhido e traficado, significando que os consumidores correm o risco de, inadvertidamente, apoiar o crime organizado.”
Citado na página da internet da TRAFFIC, Lau acrescentou que o abalone é especialmente popular durante o Ano Novo chinês.
Quando o abalone colhido chega a Hong Kong, pode ser comercializado abertamente e vendido nos mercados juntamente com abalone adquirido de forma legal.
“O abalone sul-africano não é protegido pela lei de Hong Kong, significando que não existe uma acção jurídica ou acção de aplicação de lei disponível para bloquear a venda de abalone que é produto da caça furtiva quando o produto chega ao mercado,” Markus Burgener, oficial sénior de programas da TRAFFIC, disse na página da internet. “Isso pode ser facilmente resolvido com um alistamento na CITES [a Convenção Sobre o Comércio Internacional de Espécies de Fauna e Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção].”
CITES é um acordo internacional que visa garantir que o comércio internacional de animais e plantas não ameaça a sua sobrevivência.
Outras recomendações da TRAFFIC para a redução da caça furtiva do abalone incluem trabalhar com a indústria para apoiar o comércio de abalone adquirido na África do Sul de forma legal, implementação de métodos para o fortalecimento da aplicação da lei, melhoria de rastreabilidade e sensibilização pública sobre a espécie e o comércio ilícito.
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