EQUIPA DA ADF
Depois de dois anos de guerra no norte da Etiópia, as famílias tigrenhas reencontraram-se em Janeiro e deitaram lágrimas de alegria e de dor.
“A minha mãe chorou quando ouviu a minha voz depois de todos estes meses,” um homem de 42 anos de idade, em Adis Abeba disse à Agence France-Presse. “Eu também chorei.”
Os voos para a capital da região, Mekele, reiniciaram em finais de Dezembro. Os bancos reabriram. A rede de energia foi reconectada. As ligações de telefone e internet estão restauradas.
Os primeiros resultados de um acordo de paz frágil entre o governo federal da Etiópia e a Frente de Libertação Popular do Tigré (TPLF), assassinado em Pretória, África do Sul, no dia 2 de Novembro de 2022, são esperançosos e encorajadores.
Mas em meio a sinais de normalidade existem buracos espalhados ao longo do caminho para a paz duradoura. Especialistas esperam que as partes assumam um ponto de vista a longo prazo.
“Enquanto a TPLF e o governo da Etiópia começam a implementar os termos do seu acordo, eles deviam fazê-lo com o objectivo final de evitar uma catástrofe semelhante no futuro,” investigador da área de governação e desenvolvimento, Addisu Lashitew, disse à revista Foreign Policy.
“Agora é altura de construir instituições duradouras que podem garantir que a guerra não seja mais um meio para resolver as diferenças políticas da Etiópia.”
A ajuda humanitária desesperadamente necessária está a fluir para a região anteriormente bloqueada. Apesar de progressos significativos, um oficial disse, no dia 12 de Janeiro, que apenas 1,5 milhões de pessoas foram alcançadas de uma estimativa de 5,2 milhões que precisam de assistência.
Também em meados de Janeiro, a TPLF começou a entregar o seu armamento pesado. O desarmamento irá levar a retirada da sua designação como grupo terrorista pelo governo federal, numa altura em que a TPLF procura operar como um grupo político.
Mas não irá governar Tigré a curto prazo, uma vez que a TPLF e o governo federal irão nomear um administrador interino até que sejam realizadas as eleições.
“Em termos gerais, a TPLF jogou as suas poucas cartas de forma perspicaz,” disse Lashitew. “O acordo faz voltar o tempo e coloca a TPLF na mesma posição que estaria se tivesse cedido o poder de forma pacífica… antes do início da guerra em Novembro de 2020.”
A maior ameaça para a paz no Tigré provavelmente seja a presença contínua de milícias e soldados da vizinha Eritreia.
Os combatentes Amhara, alinhados com as milícias étnicas, começaram a retirar-se de Tigré no dia 13 de Janeiro, mas não existem sinais de que as tropas da Eritreia irão seguir.
A terra historicamente disputada do oeste de Tigré, cujas forças Amhara continuam a ocupar, parece que continua a ser um perigo desestabilizador.
A instabilidade económica é outra preocupação para a manutenção da paz na Etiópia.
A União Africana estima que cerca de 600.000 etíopes foram mortos no conflito. Grandes partes de Tigré precisam de ser reconstruídas. Algumas estimativas de construção irão custar mais de 20 bilhões de dólares nos próximos três anos.
Os pesquisadores da Universidade de Oxford, Stefan Dercon e Christian Meyer, questionaram se os financiamentos seriam utilizados de forma justa em todas as áreas afectadas pelo conflito.
“A retoma do apoio económico internacional deve ser vista como parte dos esforços de edificação da paz, uma forma de proteger os meios de subsistência e um meio para garantir que haja estabilidade política,” escreveram para a revista Foreign Policy.
Outros observadores criticaram a falta de responsabilização pelos crimes de guerra no acordo de paz.
As Nações Unidas e os grupos de direitos humanos concluíram que todas as partes cometeram crimes contra a humanidade, limpeza étnica e actos de genocídio.
Dr. Mehari Taddele Maru, um pesquisador de matérias ligadas a segurança, governação e direitos humanos, enfatizou a necessidade de providenciar mecanismos de remediação eficazes para as vítimas.
“A responsabilização e a justiça são ferramentas poderosas para prevenir a repetição de atrocidades e conflitos no futuro,” escreveu para a Al-Jazeera em meados de Dezembro.
“Investigar de forma adequada as atrocidades e posteriormente iniciar um processo de responsabilização é a única forma de garantir uma paz duradoura na Etiópia. O acordo de paz de Pretória não irá permanecer por muito tempo sem estes passos.”