Massacre da RDC Pode Provocar Mais Derramamento de Sangue
EQUIPA DA ADF
Os residentes de Kishishe e Bumba, pequenas aldeias no leste da República Democrática do Congo (RDC), fugiram para salvar as suas vidas quando os rebeldes do grupo terrorista M23 massacravam os seus familiares, em finais de Novembro de 2022.
Os rebeldes mataram entre 130 e mais de 270 pessoas, na sua maioria civis, no ataque, de acordo com os relatórios da ONU, da imprensa e do governo local. Pelo menos 27 mulheres e raparigas foram alegadamente violadas, algumas pessoas foram sequestradas e casas foram pilhadas. Os sobreviventes caminharam 40 a 60 quilómetros para chegar a um acampamento para pessoas deslocadas em Kitshanga.
Um jovem de nome Samuel disse que viu seis pessoas mortas, incluindo três membros da sua família.
“Os rebeldes do M23 começaram a disparar para todos os lados,” disse Samuel à Agence France-Presse (AFP). “Eu decidi fugir e levei uma semana para chegar a Kitshanga a pé.”
Tuyisenge, uma mãe de 30 anos de idade, disse que estava na igreja quando o ataque começou e conseguiu escapar. Chorando, ela disse que viu nove pessoas mortas.
“Tenho sete filhos, mas vim para cá [para o acampamento de Kitshanga] com três,” Tuyisenge disse à AFP. “Os outros quatro desapareceram, e não tenho notícias do meu marido.”
A informação é limitada devido ao isolamento extremo da aldeia que fica situada do lado de fora do Parque Nacional de Virunga e é inacessível por estrada. Um jornalista do The East African, que visitou Kishishe em Janeiro e entrevistou residentes locais, comunicou que o número de mortes era muito inferior ao que tinha sido declarado.
O M23 concordou com um cessar-fogo no dia 12 de Janeiro, depois de reunir-se com o antigo Presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, facilitador do processo de paz da Comunidade da África Oriental, no leste da RDC. Nos termos do acordo, o grupo deve retirar os seus combatentes da província do Kivu do Norte, onde estão localizados Kishishe e Bumba, de acordo com o jornal queniano The Daily Nation.
O M23 também pediu que Kenyatta garantisse que todos os grupos armados do leste da RDC cessassem qualquer combate e ataque contra o M23. O M23 ignorou um anterior cessar-fogo assinado seis dias antes do massacre.
Os soldados da multinacional Força Regional da África Oriental, conhecida por EACRF, comprometeram-se em continuar a garantir a segurança das áreas abandonadas pelos grupos rebeldes.
“As forças da CAO irão continuar a coordenar a retirada sistemática do M23 e pedir que outros grupos armados entreguem as suas armas,” disse o General Emmanuel Kaputa Kasenga, comandante-adjunto do contingente da África Oriental.
Mas os analistas alertaram que o M23 anteriormente já se tinha retirado de certas zonas apenas para se reagrupar e ocupar novos territórios. De acordo com Jean-Mobert Senga, investigador da RDC da Amnistia Internacional, para que a paz ganhe ímpeto, o país precisa de implementar por completo o programa de desarmamento, desmobilização e reintegração (DDR) para os combatentes e lidar com as preocupações locais, como os direitos de terra, o acesso aos recursos naturais e os problemas ligados à etnicidade.
“Ao fim ao cabo, a questão está em realmente abordar as causas do M23 e de outros grupos armados, e nós estamos extremamente longe desse objectivo,” Senga disse na Al-Jazeera. “Enquanto estes problemas não forem resolvidos, eles podem retirar-se, mas podem na verdade regressar mais tarde.”
Receios de continuação da violência foram sentidos no dia 15 de Janeiro, quando o Estado Islâmico reivindicou a responsabilidade pelo bombardeamento de uma igreja em Kasindi que resultou na morte de 14 pessoas enquanto oravam.
Os observadores acreditam que os Soldados de Manutenção da Paz devem oferecer o espaço e a estabilidade para que os esforços diplomáticos possam progredir. Até hoje, o governo da RDC recusou-se em sentar-se à mesa das negociações com os rebeldes do M23.
“O desafio latente criado pelo relançamento do M23, em 2021, agora tornou-se numa verdadeira crise de segurança e humanitária,” escreveu o Grupo Internacional da Crise, observando que 180.000 pessoas ficaram deslocadas no mês de Novembro. “É de vital importância avançar na caminhada diplomática para paralisar o avanço do M23, que neste momento está a agitar outros grupos armados …”
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