Grupos Terroristas do Lago Chade Recrutam Crianças

EQUIPA DA ADF

O Boko Haram já destruiu mais de 5.000 salas de aulas, no nordeste da Nigéria, desde o lançamento da sua insurgência, em 2009.

É uma parte da sua estratégia global para obrigar crianças a juntarem-se aos grupos terroristas extremistas, na região da Bacia do Lago Chade.

A pesquisa publicada pelo projecto de Gestão de Saídas de Conflito Armado (MEAC), em Dezembro de 2022, examinou as tácticas, as práticas e as condições que resultaram no recrutamento de milhares de crianças.

“Sequestros em massa, ataques nas escolas, casamentos forçados e uso de crianças-soldado destacam as várias violações graves que têm sido cometidas contra crianças pelo Boko Haram,” afirmou o relatório.

“Na década seguinte, depois do começo da insurgência, o UNICEF comunicou que aproximadamente 8.000 crianças tinham sido recrutadas pelo Boko Haram, embora os verdadeiros números sejam provavelmente maiores.”

O grupo de reflexão independente United Nations University Center for Policy Research levou a cabo o projecto MEAC. Em 2023, o projecto irá continuar no Instituto da ONU para Pesquisa sobre Desarmamento.

Desde que o Boko Haram foi originalmente criado e centrou-se no nordeste da Nigéria, o grupo armado eventualmente alastrou-se através dos limites fronteiriços porosos da Bacia do Lago Chade até Camarões, Chade e Níger.

Mais recentemente, o grupo dividiu-se em duas facções: Jama’tu Ahlis Sunna Lidda’awati wal-Jihad (JAS) e a Província da África Ocidental do Estado Islâmico (ISWAP).

Malik Samuel, um investigador do Instituto de Estudos de Segurança (ISS), sediado na África do Sul, disse que o uso de crianças em combates, deixar as crianças passarem fome e a escravização de raparigas encontravam-se entre os principais motivos pelos quais o ISWAP se tenha separado do Boko Haram.

“Alguém podia esperar que o ISWAP agisse de forma diferente,” escreveu Samuel para o ISS, em 2022, “mas as recentes perdas de combatentes em batalha, os conflitos com o JAS e as deserções de membros podem tê-lo compelido a repensar o seu posicionamento no referente a crianças-soldado.”

O ISS noticiou a presença de cerca de 50 campos de treinamento para crianças nas ilhas do Lago Chade, com jovens provenientes de Camarões, Chade, Níger e Nigéria. No JAS e no ISWAP, as crianças são utilizadas como combatentes, serventes, bombistas-suicidas, mensageiros e para casamentos.

Enquanto o recrutamento de crianças constitui um sinal claro do desespero de ambos os grupos e da ideologia radical, as suas tácticas têm sido refinadas ao longo dos anos.

O projecto MEAC realizou milhares de inquéritos com antigos membros do JAS e do ISWAP, de Maio de 2021 a Junho de 2022.

O relatório de Dezembro de 2022 centrou-se em antigos militantes que tinham menos de 18 anos quando foram recrutados. As entrevistas demonstraram que as necessidades económicas e factores comunitários foram os principais motivos de adesão.

Factores económicos

Aproximadamente um terço das crianças nigerianas participam em alguma forma de trabalho. O país também representa 20% do universo das crianças fora das escolas no mundo, o que destaca como os grupos terroristas destroem as escolas para fazer com que as crianças fiquem mais vulneráveis.

O estudo do MEAC demonstrou que, nos Camarões, Chade, Níger e Nigéria, 34% das crianças que terminaram no Boko Haram tinham recebido alguma educação formal, em comparação com 53% de crianças que nunca foram associadas.

Os rapazes da região da Bacia do Lago Chade que lidavam com a insegurança alimentar tiveram 40% maior probabilidade de adesão.

“O Boko Haram promete-nos que iremos obter bens materiais como motorizadas, bicicletas, dinheiro e gado,” contou um rapaz que disse que tinha 16 anos de idade na altura em que foi recrutado. “Estas coisas atraíram-nos para o grupo, mas nós nunca recebemos qualquer destas promessas.”

Um outro rapaz disse que tinha 13 anos quando o Boko Haram pagou-lhe 300.000 nairas ou 660 dólares para aderir.

“Quando as crianças têm dificuldades de pagar pelas suas necessidades básicas e não têm qualquer outro acesso a rendimento, alistar-se a um grupo armado pode parecer a sua melhor opção para a sobrevivência,” afirma o relatório.

Factores comunitários

A influência política, o isolamento e a falta de um sentido de pertença, muitas vezes, aumentam a vulnerabilidade das crianças para organizações extremistas violentas. Alguns inquiridos citaram encorajamento por professores e líderes religiosos como um factor principal para o seu recrutamento.

Os sistemas de apoio parental e comunitário protegem as crianças e promovem a resiliência ao extremismo violento.

O estudo do MEAC demonstrou que as crianças nigerianas que tinham alguém que as ouvia, as aconselhava ou as ajudava a fazer planos para o futuro, tiveram 19% a 21% menos probabilidade de juntarem-se ao Boko Haram ou uma das suas facções.

Em alguns casos, famílias inteiras foram recrutadas.

As ocupações da comunidade pelo Boko Haram foi um factor óbvio, conforme 47% dos inquiridos do estudo do MEAC em toda a Bacia do Lago Chade comunicaram.

“Quando a nossa aldeia foi atacada pelo Boko Haram, a maior parte das pessoas fugiram para Maiduguri e apenas poucos de nós ficamos para atrás,” disse um participante do inquérito nigeriano, que tinha 17 anos de idade na altura do seu recrutamento.

“Um dia, reuniram a todos nós que não tínhamos fugido e pediram-nos para nos juntarmos a eles ou morrer nas suas mãos. Eu juntei-me a eles por medo da morte.”

Comentários estão fechados.