Apesar dos Esforços de Manutenção da Paz, o Leste da RDC Continua Enterrado na Lama de Violência
EQUIPA DA ADF
Um novo relatório do painel de especialistas das Nações Unidas sobre a República Democrática do Congo (RDC) revelou os desagradáveis desafios de segurança no campo de batalha activo que é a região leste daquele país.
Um batalhão de 750 soldados do Sudão do Sul foi o último a ser enviado para aquele país, numa tentativa de restaurar a segurança.
Eles fazem parte da Força Regional da Comunidade da África Oriental (EACRF), criada para ajudar a conter a onda de violência de grupos armados.
“Protejam os civis e seus bens de qualquer perigo,” o Presidente Salva Kiir disse às suas tropas, numa cerimónia, no dia 28 de Dezembro.
Os cidadãos da RDC, das províncias do leste, nomeadamente Ituri, Kivu do Norte e Kivu do Sul, continuam à espera de qualquer sinal de paz, calmaria ou ordem.
As forças do Burundi, Quénia, Sudão do Sul, e Uganda compõe a EACRF e estão a trabalhar para desarraigar o grupo rebelde M23, as Forças Democráticas Aliadas afiliadas ao Estado Islâmico, a Cooperativa Para o Desenvolvimento do Congo (CODECO) e mais de 100 outros grupos armados e milícias.
Com o seu mandato tendo sido recentemente prorrogado até 2023, a missão de manutenção da paz da ONU, MONUSCO, está activa naquele teatro, a proteger os civis enquanto também fornece apoio logístico, operacional e táctico às forças armadas congolesas (FARDC) e à polícia nacional da RDC para combater os grupos armados.
“A situação de segurança no leste da RDC deteriorou-se drasticamente,” o chefe da MONUSCO, Bintou Keita, disse ao Conselho de Segurança da ONU, em Dezembro.
Centenas de milhares de pessoas foram obrigadas a sair das suas casas na região, incluindo aquilo que Keita disse serem “uma estimativa adicional de 370.000 pessoas que foram extirpadas… na última ronda de hostilidade envolvendo o M23.”
Depois de negociações com o M23, a CAO anunciou, no dia 16 de Janeiro, que os rebeldes tinham acordado em fazer uma retirada organizada da província do Kivu do Norte, da RDC, seguida de um cessar-fogo rigoroso.
Um dia depois, o presidente da RDC, Félix Tshisekedi, disse que tem pouca fé de que o M23 irá cumprir a suas promessas.
“Apesar da pressão internacional, o grupo ainda está lá,” disse durante uma sessão plenária no fórum económico mundial, em Davos, Suíça.
“Eles fingem estar a movimentar-se, agem como se estivesse a movimentar-se, mas não estão. Simplesmente mudam de lugar, transferem-se para um outro lugar e continuam nas cidades que capturaram.”
Abordando a questão dos grupos armados locais do leste da RDC, o especialista da ONU mencionou dois deles que estão a disputar as minas de ouro e o comércio naquela região rica em minerais.
“As facções da CODECO continuam a expandir as suas áreas de controlo, muitas vezes, atacando civis e as FARDC,” comunicou o relatório. “Por sua vez, o grupo armado Zaire aumentou a sua organização e força e atacou as forças de segurança congolesas e civis.”
O mais preocupante, contudo, foi o exame do relatório da ONU sobre uma mudança nas recentes tácticas das Forças Democráticas Aliadas, um grupo terrorista que surgiu no Uganda e já matou milhares de residentes das aldeias da RDC, desde 2014.
O relatório afirma que o grupo “continuou a expandir a sua área de operação e a atacar civis em Beni e Lubero, no Kivu do Norte e no sul de Ituri” e começou a utilizar dispositivos explosivos improvisados nas zonas urbanas para chamar a atenção dos canais de imprensa do grupo islâmico.
Fez exactamente isso no dia 15 de Janeiro, quando um bombardeamento de uma igreja, em Kasindi fez aproximadamente 14 vítimas mortais e dezenas de feridos. O grupo do Estado Islâmico reivindicou o atentado.
O relatório da ONU destacou os crescentes problemas do leste da RDC: A violência ainda se encontra a aumentar apesar do aumento do exército e um contínuo estado de sítio, que esteve em vigor nas províncias de Ituri e do Kivu do Norte desde Maio de 2021.
Os exércitos do Congo e do Uganda estiveram a realizar operações conjuntas desde Novembro de 2021, mas os especialistas da ONU observaram como “a quarta fase da operação Shujaa, em Setembro de 2022, chegou até a levar a um aumento de ataques das Forças Democráticas Aliadas contra civis, em retaliação.”
Paluku Kivugha, que perdeu um familiar no bombardeamento da igreja, resumiu o horror que viveu no leste da RDC.
“Sempre que existirem grandes grupos de pessoas, existem riscos,” disse Kivugha à Reuters. “Pedimos que as autoridades nos tragam segurança para que tais actos não aconteçam de novo.”
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