EQUIPA DA ADF
Os investigadores estão a alertar sobre problemas crónicos de saúde que ocorrem muito depois que os pacientes contraem a COVID-19. Mesmo os casos ligeiros podem aumentar o risco de problemas cardiovasculares por pelo menos um ano depois de ser diagnosticado, de acordo com os autores de um recente estudo.
“A infecção pelo SARS-CoV-2 esteve associada a um aumento substancial no risco de internamento ou de morte por miocardite, pericardite e arritmia cardíaca,” afirmou o estudo.
O risco foi elevado mesmo para pessoas saudáveis com idades inferiores a 65 anos, sem qualquer factor de risco como obesidade ou diabetes.
O co-autor Ziyad Al-Aly, epidemiologista clínico e investigador da COVID longa, da Washington University in St. Louis, Missouri, disse que as autoridades sanitárias devem preparar-se para este aumento de riscos.
“Não importa se a pessoa é jovem ou idosa. Não importa se fumava ou não fumava,” disse à revista Nature. “O risco estava lá.”
A COVID-19 pode atacar o coração, o cérebro, o fígado, os rins e o tracto digestivo. Os sintomas podem durar meses ou anos.
O estudo examinou 154.000 pacientes de COVID-19 durante um ano e os comparou com grupos de controlo que incluíam mais de 11 milhões de pessoas não infectadas.
Cerca de um ano depois da recuperação de um ataque da COVID-19, os pacientes demonstraram um aumento surpreendente em 20 problemas cardiovasculares.
Eles eram 52% mais propensos a terem derrame, 63% mais propensos a terem ataque cardíaco, 72% mais propensos a terem insuficiência cardíaca.
Mesmo pessoas que evitaram internamento estavam em maior risco de contrair muitas doenças.
Os dados também demonstraram que pessoas reinfectadas pela COVID-19 são mais propensas a sofrerem uma variedade de problemas médicos nos meses subsequentes — ataque cardíaco, derrame cerebral, doenças renais, problemas de respiração e questões de saúde mental.
“A maior revelação é realmente que o risco de problemas cardíacos persistiu um ano depois da infecção inicial,” disse Al-Aly ao site de notícias, Practical Cardiology. “Agora estamos a começar a pensar sobre o SARS-CoV-2 como um vírus que pode realmente ter consequências crónicas que duram muito mais tempo do que a fase aguda.”
Dois anos e meio depois do início da pandemia, as autoridades sanitárias registaram mais de 12 milhões de infecções no continente africano.
Não apenas alguns especialistas estavam correctos quando previram, no início de 2020, que a maior parte das pessoas contrairia a COVID-19, mas tornou-se mais provável que se fique infectado mais do que uma vez.
O epidemiologista Salim Abdool Karim, director do Centro do Programa de Pesquisa da SIDA na África do Sul, viu o impacto de cinco vagas distintas da COVID-19 no seu país.
“Eu pessoalmente conheço muitas pessoas que tiveram a COVID em quase todas as vagas,” disse à revista The Atlantic.
Os cientistas ainda não sabem o que acontece com as pessoas que contraem a COVID ligeira várias e repetidas vezes. A COVID longa continua a ser uma possibilidade sempre que as pessoas são infectadas.
“Mesmo que não seja o cenário da pior hipótese,” disse Abdool Karim, “eu não desejaria colocar-me nessa posição.”
Al-Aly diz que cada infecção é um jogo de sorte.
Com os mais recentes alertas de complicações graves mesmo depois de casos ligeiros, os provedores de cuidados de saúde do continente devem estar preparados para lidar com o aumento no número de problemas cardiovasculares.
Al-Aly está a estudar os danos a longo prazo incorridos por infecções repetitivas. Os dados ainda estão a emergir, mas ele pensa que a COVID longa é um maior risco para aqueles que contraíram o vírus duas ou três vezes, em comparação com aqueles que o tiveram uma só vez.
Ainda lhe preocupa o facto de que as autoridades sanitárias esperam por muito tempo na preparação daquilo que vem depois de uma infecção pela COVID-19.
“Em conjunto, baixámos os braços no que diz respeito à COVID,” disse. “E sinto que estamos a baixar os braços no que diz respeito à COVID longa.”