EQUIPA DA ADF
Tal como um grande pirata informático, o vírus da COVID-19 muda constantemente as suas tácticas para descobrir aquela que irá ajudá-lo a ultrapassar a imunidade humana e criar novas infecções.
Cada infecção é uma nova oportunidade para que o vírus melhore o seu código contra as defesas do organismo.
A imunidade — quer tenha sido desenvolvida de forma natural, através de uma infecção, ou adquirida através de medicamentos — continua a ser a melhor protecção contra futuras infecções.
Novas pesquisas sugerem que a imunidade híbrida, que combina o poder da imunidade natural e o da imunidade adquirida, oferece a defesa mais eficaz contra infecções futuras. Um estudo feito na Suíça, publicado na revista The Lancet, demonstrou que a imunidade híbrida reduz o risco de reinfecção entre 58% e 66%.
Contudo, a maior parte dos estudos sobre a imunidade híbrida ocorreu antes do aparecimento das mutações da BA.4 e BA.5 da variante Ómicron, que são capazes de ultrapassar a protecção criada por infecções anteriores.
Um estudo recente, que analisou a BA.5, concluiu que a imunidade híbrida é uma protecção contra a altamente transmissível estirpe da Ómicron se o lado natural da imunidade tiver ocorrido dentro de cerca de nove meses. O estudo analisou os registos médicos de doentes da COVID-19 em Massachusetts.
Deve-se pensar na imunidade híbrida como um sistema de autenticação de segurança de dois factores. Para infectar alguém com imunidade híbrida, a COVID-19 deve enganar dois níveis diferentes de protecção.
Os dois factores são diferentes para cada pessoa, dependendo de quando a pessoa ficou infectada durante a pandemia e do tipo de medicamento que activou a sua imunidade adquirida.
A combinação de infecção e medicamentos (doses múltiplas ou doses únicas) possui pouco efeito sobre a qualidade de imunidade híbrida, de acordo com os investigadores Rahul Suryawanshi e Melenie Ott, dos Institutos Gladstone, em São Francisco, Califórnia.
“As trajectórias imunológicas do SARS-CoV-2 (COVID-19) … sugerem que a imunidade híbrida fornece a mais forte e mais duradoura protecção contra infecções sintomáticas,” escreveram recentemente os investigadores na revista Nature.
Ou seja, a imunidade híbrida funciona melhor contra variantes com estruturas semelhantes à versão que activou a imunidade original.
Para continuar a metáfora do computador, assim como um código de segurança desactualizado, quanto mais cedo na pandemia alguém tiver sido infectado, menos a sua imunidade natural a protege contra futuras variantes. A imunidade natural é mais forte num período de seis meses após a infecção e enfraquece depois disso.
A melhor estratégia futura pode ser criar as protecções para os níveis de imunidade de um indivíduo e para as estirpes de COVID-19 que circulam na comunidade, de acordo com Suryawanshi e Ott.
“Pode ser a altura para mudar a abordagem actual de uma única medida para tudo,” escreveram os investigadores.