Aumento do Número de Mortes de Fiscais de Parques Demonstra o Alto Risco de Protecção da Vida Selvagem
EQUIPA DA ADF
A morte do fiscal sul-africano, Anton Mzimba, que foi alvejado quando fazia reparações no seu carro fora da sua casa, no dia 26 de Julho, deixou o país chocado e surpreendido.
Mzimba, de 49 anos de idade, era o chefe de fiscais da reserva natural privada de Timbavati, em Mpumalanga. A zona protegida de 534 quilómetros quadrados alberga rinocerontes, elefantes, leões, chitas e leopardos.
“Informações divulgadas pela inteligência revelam que houve numerosas ameaças contra a sua vida e que o seu assassinato foi em retaliação por recusar-se a fornecer a localização exacta dos rinocerontes ao sindicato de caçadores furtivos do rinoceronte a nível local,” disse a Fundação Wild Heart Wildlife num comunicado.
Num continente conhecido pelas suas vastas reservas naturais, ecoturismo e uma abordagem para a conservação, os caçadores furtivos armados e os grupos de militantes têm tido como alvo os fiscais de parques.
O assassinato de um fiscal de campo altamente condecorado, de 24 anos, destaca os perigos de enfrentar os caçadores furtivos, os traficantes de partes de animais selvagens e grupos criminosos organizados.
Desde 2011, 565 pessoas morreram no cumprimento do seu dever, mais de metade dos quais foram homicídios. Os dados indicam que foram registadas 92 mortes de fiscais em 2021, 46 das quais foram homicídios.
Num outro caso de alto nível, em 2021, o oficial sénior do Serviço da Vida Selvagem do Quénia, Bajila Obed Kofa, foi alvejado mortalmente no seu carro, depois de acompanhar a sua filha para a escola. Em 2020, o Tenente-Coronel Leroy Bruwer, um detective da polícia sul-africana, especializado na investigação de sindicatos de caçadores furtivos do rinoceronte, foi alvejado fatalmente no seu carro quando se dirigia ao serviço.
O director-executivo da Associação de Fiscais de África, Andrew Campbell, chamou a morte de Mzimba de um aumento em relação à norma e disse que provavelmente ele foi alvejado por causa do seu alto perfil na comunidade de segurança e conservação da vida selvagem.
“Actualmente, estes sindicatos sentem-se confortáveis, literalmente entrando e fazendo os seus ataques ao estilo da máfia,” disse Campbell ao The New York Times.
Cerca de 150 fiscais no mundo inteiro morrem anualmente protegendo a vida selvagem e o habitat, de acordo com a fundação The Thin Green Line (TGL), uma instituição de caridade internacional que apoia os fiscais e os familiares de fiscais mortos.
Os conflitos com os caçadores furtivos são responsáveis por 50% a 70% das mortes de fiscais no local de trabalho, de acordo com dados que a TGL compilou nos últimos 10 anos. A restante percentagem é atribuída a desafios diários, como ambientes e animais perigosos.
Em África, 82% dos fiscais disseram já terem enfrentado alguma situação que ameaça a sua vida no cumprimento dos seus deveres, de acordo com pesquisas realizadas em 2016 pela organização não-governamental World Wildlife Fund (WWF), um dos maiores grupos de conservação do mundo.
A organização afirma que os fiscais e os caçadores furtivos geralmente pertencem às mesmas comunidades.
No único inquérito extensivo que examina as condições de trabalho dos fiscais, a WWF entrevistou 570 fiscais africanos e concluiu que 75% afirmou que membros das suas comunidades locais os tinham ameaçado por causa do seu trabalho.
Francis Massé, um investigador pós-doutorado da Universidade de Sheffield, viveu com e estudou as forças de combate à caça furtiva de Moçambique durante cinco meses como parte do seu doutoramento.
Ele viu muitos dos fiscais lidarem com ameaças e ataques.
“Vi homens a receberem ameaças de morte e não saberem como lidar com elas,” disse ao site de notícias sobre conservação, Mongabay. “Eles não sabem se as pessoas que os ameaçam também conhecem a localização dos seus familiares na cidade.
“[Os caçadores furtivos] são presos e em duas semanas voltam a sair para as comunidades imediatamente do lado de fora do parque, por onde os fiscais entram e saem.”
O trabalho torna-se um fardo pesado para os fiscais, cuja maioria reclama de stress pelas condições de trabalho, formação e equipamento insuficientes. Muitos sentem-se isolados e afastados das suas comunidades.
“A pressão é contínua, não há tréguas,” Elise Serfountain, directora e fundadora do Stop Rhino Poaching, disse à Mongabay. “A fadiga física e mental deixa-nos sobrecarregados.”
Na década passada, os mercados de chifre de rinoceronte e marfim ilegais registaram aumentos a nível mundial.
Para os fiscais, o trabalho que já é perigoso intensificou-se à medida que os seus adversários passaram a ter melhor financiamento e melhores armas.
Num sector de segurança que cada vez mais se torna militarizado, os Estados Unidos trabalharam directamente com vários serviços de parques em países como Chade, Gabão, Tanzânia e Uganda.
Sam Mwandha, director-executivo da Autoridade de Vida Selvagem do Uganda, agradeceu o Exército dos EUA por ensinar 25 fiscais sobre os crimes e ética da vida selvagem, como realizar tácticas de pequenas unidades, navegar em terrenos difíceis e tratar de ferimentos.
A formação “ajudou-nos a melhorar as nossas habilidades para impedir a caça furtiva, eliminar as ameaças da vida selvagem e ajudar o nosso pessoal a sobreviver por mais tempo,” disse Mwandha na cerimónia de graduação do curso que teve a duração de quatro semanas.
“Um dos desafios de ser fiscal é realmente enfrentar a morte diariamente.”
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