EQUIPA DA ADF
Aproximadamente um terço da população que vive na África Subsaariana pode encontrar-se em grande risco de morrer por COVID-19 por portar uma marca genética da anemia falciforme, de acordo com um novo estudo que analisa como as duas doenças interagem.
O estudo que analisa os problemas de saúde relacionados com a COVID-19 e o traço falciforme centrou-se em veteranos do exército dos EUA de descendência africana que portavam marcas genéticas conhecidas como traço falciforme (SCT) — a condição de aproximadamente 300 milhões de pessoas em África, do Senegal ao Madagáscar.
O SCT não é o mesmo que a anemia falciforme. Indivíduos com o SCT portam a genética da anemia falciforme e podem transmiti-la aos seus filhos.
A anemia falciforme é uma condição genética que faz com que as células dos glóbulos vermelhos com má formação (falciformes) sejam incapazes de transportar oxigénio. As pessoas com a doença sofrem de anemia e derrame causado por coágulos de sangue criados quando as células mal formadas morrem.
“Os indivíduos com SCT tinham uma série de condições pré-existentes dos rins que estavam associadas aos resultados não favoráveis que se seguiram depois da COVID-19,” os investigadores, liderados por Anurag Verma, escreveram na revista Journal of the American Medical Association.
Embora o SCT represente um risco de saúde menor em relação à real anemia falciforme, pessoas com SCT enfrentam riscos de saúde como doença crónica dos rins e cancros relacionados com os rins.
Agora os médicos podem acrescentar a COVID-19 nessa lista.
De acordo com a pesquisa de Verma, 22% das pessoas do estudo com uma combinação de falhas renais agudas e SCT morreram dentro de 60 dias depois da recuperação da COVID-19.
Durante a pandemia da COVID-19, a doença respiratória teve o seu maior impacto em idosos e pessoas com uma variedade de problemas de saúde, desde diabetes, obesidade até à tuberculose. Antes do estudo de Verma, não havia clareza da relação entre o traço falciforme e a COVID-19.
O estudo de Verma tem implicações importantes para África, onde aproximadamente 300 milhões de pessoas portam o gene que pode produzir o traço falciforme, aumentando o seu risco de complicações fatais pela COVID-19.
Mais de 300.000 bebés nascem com anemia falciforme anualmente no continente — um número que pode aumentar para 400.000 até 2050, de acordo com o investigador Frédéric Piel, da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Os casos de anemia falciforme estão concentrados nos trópicos de África, com a Nigéria e a República Democrática do Congo a apresentarem o maior número de casos.
No passado, as coagulações e a anemia associadas à anemia falciforme mataram cerca de 90% das crianças africanas nascidas com esta doença. Melhorias no diagnóstico e no tratamento da doença nos momentos iniciais estão a ajudar essas crianças a crescerem até à idade adulta, de acordo com Piel.
Entre as pessoas que vivem com a anemia falciforme, a COVID-19 tornou-se uma sentença de morte antecipada. De acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA, as mortes causadas pela anemia falciforme nos EUA registaram um aumento de aproximadamente mais de dez vezes, entre 2019 e 2020, o primeiro ano da epidemia.
A COVID-19 teve o seu maior impacto em pessoas com idade igual ou superior a 65 anos, mas entre as pessoas com a anemia falciforme, as mortes relacionadas com a pandemia atingiram mais as pessoas com 25 a 59 anos, de acordo com o CDC.
Verma apelou para que os especialistas de saúde prestassem mais atenção ao impacto mortal que a COVID-19 pode ter sobre as pessoas que vivem com problemas de saúde relacionados com SCT.
“As nossas conclusões sugerem que o SCT pode contribuir também para piorar os resultados nos indivíduos de descendência africana,” escreveu Verma. “Existe uma necessidade de novas estratégias de tratamento para melhorar os resultados clínicos da COVID-19 em indivíduos com SCT.”