Animais e seres humanos que sofreram de infecções crónicas de COVID-19 podem estar a causar o surgimento de uma nova variante do coronavírus.Mas este não é motivo para se entrar em pânico, dizem os especialistas.
A COVID-19 crónica é rara e foi registada apenas em pessoas com sistemas imunológicos gravemente comprometidos. Ela difere da “COVID longa,” que é quando os sintomas persistem depois de os pacientes se recuperarem da sua infecção inicial, de acordo com Grace C. Roberts, assistente de pesquisa em virologia na Universidade de Leads, Inglaterra.
“Embora as novas variantes da COVID pareçam ser mais propensas a formar-se em pacientes com infecções crónicas, a boa notícia é que elas não parecem representar uma ameaça significativa,” Robert escreveu no The Conversation.
Citando um estudo publicado no nature.com, Robert escreveu que a maioria das novas variantes em pacientes infectados de forma crónica tem menor probabilidade de propagar-se para outras pessoas.
Desde o dia 10 de Agosto, os especialistas de saúde estiveram a analisar a variante BA.2.75 da COVID-19 — também chamada “centauro” — que esteva a registar um rápido aumento na Índia. Vários estudos sugeriram que a BA.2.75 e a altamente transmissível variante BA.5 tinham capacidades semelhantes de escapar da imunidade.
Mas especialistas como Shahid Jameel, um virologista da Universidade de Oxford, dizem que o centauro pode não aumentar de forma drástica o número de casos de COVID-19 fora da Índia, se a imunidade da população naquele país for elevada e a variante não adquirir muitas mutações extras.
“Estamos a chegar a um ponto em que estas variantes estão de certa forma a competir umas contra as outras e elas quase que são equivalentes,” disse Jameel ao nature.com. “Penso que as pessoas que tiveram a BA.5 não irão registar um progresso de infecções pela BA.2.75 e vice-versa.”
Surtos Zoonóticos e Zoonóticos Reversos
As doenças zoonóticas, que podem propagar-se de animais para seres humanos, são comuns, uma vez que cerca 75% de doenças contagiosas emergentes em pessoas de todo o mundo provêm de animais.
Em Dezembro de 2020, por exemplo, o Instituto Satens Serum, na Dinamarca, identificou sete mutações únicas na proteína spike da COVID-19 entre variantes transmitidas de martas para agricultores. Ninguém morreu durante o pequeno surto e não houve provas de outro contágio dos trabalhadores das machambas para a comunidade em geral, comunicou Roberts.
Em Julho, a Organização Mundial de Saúde registou um aumento de 63% no número de surtos zoonóticos em África nos últimos dez anos.
Dias depois, o Ministro da Saúde da Tanzânia, Ummy Mwalimu, confirmou 20 casos de leptospiroses, três dos quais resultaram em morte, de acordo com o jornal canadiano, The Standard. A leptospirose é uma doença bacteriana que os humanos podem contrair entrando em contacto com a urina de um animal infectado.
Em Junho, a União Africana criou o seu grupo interagências na One Health para desenvolver formas de fazer uma melhorar monitoria e avaliar as doenças zoonóticas. A One Health promove uma abordagem colaborativa multidisciplinar para melhorar os resultados de saúde.
Um estudo feito em finais de 2021, pela Biblioteca Nacional de Medicina, dos EUA, demonstrou que a variante Ómicron da COVID-19 pode ter sido propagada de seres humanos para ratos, onde mutações no vírus se acumularam por mais de um ano antes de serem transmitidas de volta para os seres humanos, em 2021. Esta situação é conhecida como evento zoonótico reverso.
Essas transmissões são muito menos comuns do que os eventos zoonóticos, embora um estudo inicial da Biblioteca Nacional de Medicina tenha concluído que eram necessárias mais investigações sobre eventos zoolóticos reversos. Embora o Ómicron seja uma variante mais altamente transmissível do que as estirpes anteriores da COVID-19, ela causa sintomas mais ligeiros e um menor número de internamentos e de mortes.