EQUIPA DA ADF
Uma década depois de ter sido declarado um supermercado para os traficantes de armas ilegais, a Líbia voltou a ser uma fonte de armas ilegais que fluem para os conflitos em todo o Sahel e nos Estados costeiros vizinhos.
“A alta demanda de armas e munições oferece aos traficantes uma oportunidade de continuar o seu comércio lucrativo,” o investigador Hassane Koné escreveu numa recente análise do Instituto de Estudos de Segurança.
Assim como foi com o caso da primeira guerra civil da Líbia, em 2011, os grupos terroristas estão a adquirir armas que possuem fraca segurança através de rotas de contrabando que atravessam o Saara para o Níger e para o Mali. A partir daqueles pontos, as armas são distribuídas para zonas de conflito em toda a região.
As armas são um legado do ditador deposto Muamar Kadhafi, que distribuiu arsenais por todo o país para armar civis em caso de um ataque. Segundo algumas estimativas, ele tinha acumulado cerca de 1 milhão de espingardas Kalashnikov na altura em que iniciou a primeira guerra civil, em 2011.
Muitos desses arsenais encontravam-se desguarnecidos quando os conflitos começaram.
Entre 2011 e 2016, de acordo com uma pesquisa compilada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, Líbia e seus vizinhos interditaram mais de 1.100 armas e 330.000 munições confirmadas ou suspeitas de terem sido provenientes de arsenais líbios.
As armas da Líbia ajudaram a alimentar a rebelião que irrompeu no norte do Mali, em 2012, que levou a mais de uma década de instabilidade naquele país.
O tráfico proveniente da Líbia reduziu em 2013 quando iniciou a segunda guerra civil daquele país, mas armas que se suspeitam serem da Líbia apareceram nas mãos de combatentes na República Centro-Africana, Chade, Nigéria e no Sudão.
Enquanto os líderes líbios procuram voltar a unir o país dividido, a diminuição de conflitos está a fornecer um novo abastecimento de armas para o comércio ilícito de armas, de acordo com Koné.
O novo fluxo de armas não é tão substancial quanto os anteriores, mas os países vizinhos podem ser afectados, escreveu.
“Uma solução para a actual crise da Líbia pode aumentar o tráfico para os países vizinhos enquanto as necessidades locais diminuem,” acrescentou.
Em Fevereiro, as autoridades nigerinas prenderam 10 pessoas na região de Tchin-Tabaradene por transportar armas pela fronteira a partir da Líbia. Eles traziam 12 espingardas AK-47 e milhares de munições de vários tamanhos. Outros suspeitos foram presos em Kao e Kalfou.
Como a rota primária de trânsito de armas ilícitas provenientes da Líbia, o Níger enfrenta pressão internacional para acabar com o fluxo nas suas fronteiras.
Falando na Conferência Internacional de Paz e Segurança de Dakar, em África, em Dezembro, o Presidente do Níger, Mohamed Bazoum, apelou para uma maior cooperação dos vizinhos e aliados do Níger na forma de partilha de inteligência, apoio aéreo e fortalecimento das forças armadas.
“A maior falha dos parceiros foi o seu fraco envolvimento na luta contra o contrabando de armas da Líbia, que é o maior factor de prevalência deste terrorismo,” disse Bazoum.