Pescadores Serra Leoninos Perdem a Luta Contra os Arrastões Estrangeiros
Aidu Williams passou 40 anos a pescar no cais de Goderich, no eixo oeste da península de Freetown, Serra Leoa.Ele habitualmente ia para o mar e regressava com grandes recipientes cheios de garoupa e pargo na sua canoa de madeira, mas esses dias chegaram ao fim. Nas últimas três décadas, arrastões industriais estrangeiros diminuíram as unidades populacionais de peixe próximo da costa. Williams e os pescadores artesanais agora devem aventurar-se para mais distante no mar, muitas vezes, regressando com pouco ou nenhum pescado.
Com muito dinheiro gasto em combustíveis, às vezes, as tripulações ficam sem pagamentos depois de longas horas de trabalho extremamente árduo na água.
“Anteriormente, tínhamos boas capturas, mas agora reduziram,” Williams disse à Mongabay, um site de notícias que cobre assuntos liados às ciências ambientais. “Agora estamos a sofrer por causa dos arrastões [estrangeiros] e as redes que utilizam.”
Williams descreveu “muitos conflitos” com os arrastões industriais estrangeiros que são capazes de capturar centenas de vezes mais peixes do que as canoas artesanais. Cerca de 75% dos arrastões industriais que pescam próximo da Serra Leoa são provenientes da China, de acordo com a União Europeia.
“Eles vêm incomodar-nos,” disse Williams. À noite, eles desligam as suas luzes e cortam as nossas âncoras. Depois surgem problemas.”
A frota de pesca em águas longínquas (PAL) da China é conhecida por envolver-se na pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (INN) na Serra Leoa e em toda a África Ocidental. A China possui a maior frota de PAL do mundo e é o pior infractor de pesca INN do mundo, de acordo com o Índice de Pesca INN.
Os resultados foram devastadores para as aproximadamente 500.000 pessoas que trabalham na pesca de pequena escala na Serra Leoa. Os locais de pesca representam 12% da economia e fornecem
O Presidente da Serra Leoa, Julius Maada Bio, disse que a pesca INN lesa o país em 50 milhões de dólares por ano.Na Serra Leoa, os arrastões industriais não têm autorização para pescar próximo de uma distância de 9 a 11 km (5 a 6 milhas náuticas) a partir da costa. Mas, Williams e outros pescadores locais afirmam que os arrastões estrangeiros, de forma rotineira, contornam a lei, muitas vezes, à noite, quando é mais difícil vê-los, comunicou a Mongabay. Muitas vezes, embarcações maiores passam por cima e afundam os barcos dos residentes locais.
É difícil determinar a quantidade de peixe remanescente nas águas da Serra Leoa. Devido à falta de financiamentos, uma avaliação há muito planificada não chegou a ser realizada. Contudo, um investigador disse à Mongabay, em 2019, que conclusões preliminares demonstraram que os locais de pesca daquele país estavam a “aproximar-se do nível crítico.”
“O dinheiro que geramos não é, na verdade, suficiente para financiar uma pesquisa de peixe,” Sheku Sei, director-adjunto do Ministério das Pescas e Recursos Marinhos da Serra Leoa, disse ao site. “Temos de fazer pesquisas duas vezes por ano para contar as nossas unidades populacionais de peixe e conhecer a sua abundância, mas não fomos capazes de fazer isso.”
Nem sequer o país tem barcos suficientes para fazer a patrulha da costa. Quando a Mongabay visitou Goderich, a única embarcação governamental estacionada no cais era um barco de motor único, incapaz de interceptar um arrastão de pesca industrial há quilómetros de distância ao largo da costa.
Sei disse à Mongabay que o governo tentou acabar com a pesca ilegal. Os arrastões devem instalar aparelhos GPS que se ligam aos Sistemas de Identificação Automática (AIS) ou outras redes de monitoria via satélite, mas os operadores podem desligar os seus AIS a qualquer altura, disse Sei. Também existem planos para utilizar drones para detectar a pesca ilegal.
Contudo, os pescadores locais ficaram enfurecidos, em 2021, quando tiveram conhecimento de um plano de 55 milhões de dólares para a construção de um porto de pesca industrial, no local de atracção turística da Serra Leoa, a Praia de Black Johnson.
Os residentes locais e grupos ambientais começaram a campanha “Salvem a Praia de Black Johnson” no ano passado e conseguiram pressionar o governo a fazer uma avaliação do impacto ambiental, de acordo com um comunicado de imprensa de Maio de 2022. O grupo afirma que criou bases legais para contestar a implementação do projecto.
Prevê-se que o porto seja construído em 100 hectares de praia e florestas preservadas, que são o habitat de espécies de animais em vias de extinção. O porto irá essencialmente processar peixe capturado por arrastões chineses, que irão posteriormente exportá-lo para a China. Os residentes locais não tinham conhecimento sobre o acordo, que pode incluir uma fábrica de produção de farinha de peixe, até a altura em que o mesmo foi assinado.
O governo “sabe que não pode avançar com o projecto, mas recusa-se a admitir, por isso, a praia e o meio ambiente ainda correm um grande perigo,” lê-se no comunicado.
Em Fevereiro, o governo realizou verificações do local, na praia, para poder compensar os proprietários de terras afectados pelo projecto.
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