EQUIPA DA ADF
Depois do declínio a nível global, em Maio e Junho, as infecções pela COVID-19 voltaram a aumentar, desta vez, impulsionadas pelas estirpes BA.4 e BA.5 da variante Ómicron, que se propagam rapidamente.
“As novas vagas do vírus demonstram, mais uma vez, que a COVID-19, de nenhuma forma, está próxima do fim,” disse o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, director-geral da Organização Mundial de Saúde, durante uma recente conferência de imprensa.
As novas estirpes, que impulsionaram uma vaga de infecções na África do Sul este ano, estão a propagar-se em 110 países em condições muito diferentes do que as suas predecessoras.
Por exemplo, quase todos os países do mundo relaxaram ou eliminaram os protocolos de prevenção da pandemia, como o uso de máscaras e o distanciamento social.
Ao mesmo tempo, as taxas de testagem para a COVID-19 reduziram drasticamente, deixando os cientistas com menos informação sobre a propagação das estirpes BA.4 e BA.5 e o potencial aumento de novas variantes diferentes da Ómicron.
“O vírus está a propagar-se a níveis muito intensos a nível mundial, e a nossa capacidade de detectar casos reduziu,” Dra. Maria van Kerkhove, técnica-chefe da OMS para COVID-19, disse na mesma conferência de imprensa.
As subvariantes BA.4 e BA.5 estão a tornar-se a estirpe dominante da COVID-19 em muitos países. De acordo com a OMS, a BA.5 representou 52% de novos casos em Junho último.
Em África, as subvariantes BA.4 e BA.5 foram encontradas em 19% e 21% de amostras, respectivamente, em todo o continente, de acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC). A subvariante BA.2, que produziu as subvariantes BA.4 e BA.5, representa 25% dos casos de África, referiu o Africa CDC.
Embora as infecções pelas subvariantes BA.4 e BA.5 não sejam mais severas do que as estirpes anteriores, elas são mais capazes, do que qualquer outra estirpe da COVID-19 anterior, de sobrecarregar a imunidade existente de uma pessoa para a COVID-19. Isso acontece especialmente se uma pessoa tiver ganho a imunidade a partir de uma variante anterior.
Esta característica, que os cientistas chamam de “escape imunológico,” pode levar a mais casos de reinfecção, aumentando o risco de casos de COVID longa nesse processo, afirmam os especialistas.
Os novos casos de COVID-19 em África aumentaram constantemente desde meados de Maio até meados de Julho. As testagens baixaram embora as taxas de positividade continuem em cerca de 11%, de acordo com o Africa CDC.
Com aproximadamente 98% da sua população tendo algum nível de imunidade à COVID-19, a vaga das subvariantes BA.4 e BA.5 da África do Sul revelou-se mais ligeira do que as vagas anteriores. Outros países estão a ter experiências diferentes numa altura que as estirpes altamente contagiosas estão a causar internamentos e mortes.
“As mortes aumentaram de forma constante nas últimas semanas,” disse a Dra. Matshidiso Moeti, directora regional da OMS para África. “Este é claramente um sinal de alerta de que os hospitais dos países mais afectados estão a alcançar um ponto de ruptura.”
Os sistemas nacionais de saúde com poucos recursos estão a enfrentar sérios problemas de insuficiência de profissionais de saúde, materiais, equipamentos e infra-estruturas necessários para cuidar de doentes graves da COVID-19, disse Moeti.
Entre as regiões africanas, a África do Norte registou um aumento mais acentuado de novos casos de COVID-19 — cerca de 85% nas últimas semanas — com Marrocos e Tunísia a suportar o maior fardo deste aumento. Outras regiões comunicam aumento de casos na metade destas taxas ou menos. A África Austral, que experimentou a vaga das subvariantes BA.4 e BA.5 antes do resto do continente, viu a sua taxa de aumento de novos casos a registar um declínio.
Moeti e outros especialistas de saúde pública continuam a apelar as pessoas para tomarem precauções para evitar infectar-se a si mesmas, aos idosos da comunidade e outros cujos problemas de saúde os deixam particularmente vulneráveis.
“Existe uma grande desarticulação na percepção do risco de COVID-19 entre a comunidade científica, os líderes políticos e o público em geral,” disse Tedros.
Cada nova infecção é uma possibilidade para o vírus da COVID-19 criar uma nova variante. Os cientistas acreditam que a variante Ómicron desenvolveu-se num indivíduo com um sistema imunológico comprometido, cujo corpo passou muito tempo a tentar eliminar o vírus. Cada tentativa do corpo de um paciente resultou numa nova variante do vírus, até que a Ómicron apareceu e foi capaz de propagar-se.
Tedros apelou os países a aumentarem as precauções e as testagens numa altura em que as subvariantes BA.4 e BA.5 ganham espaço.
“O vírus está a propagar-se livremente e os países não estão a fazer uma gestão eficiente deste fardo da doença com base na sua capacidade,” disse Tedros. “Quando o vírus nos pressiona, devemos resistir.”