Enfermeiros Demonstram a Sua Resiliência nas Linhas da Frente da Pandemia

EQUIPA DA ADF

Desde os primeiros dias da pandemia da COVID-19, os enfermeiros foram a base dos sistemas de saúde em toda a África, muitas vezes, colocando as suas próprias vidas em risco para tratar das pessoas infectadas pelo coronavírus.

“Eles demonstram ter uma resiliência fora do comum,” Winnifred Groves, uma enfermeira registada de origem camaronesa, disse ao Brookings Institution no seu podcast Foresight Africa. “Demonstraram ser corajosos. Demonstraram não serem egoístas. Demonstraram ser versáteis e trouxeram soluções para os problemas.”

No caso dos Camarões, onde o sistema de prestação de cuidados de saúde é um conjunto de hospitais privados, clínicas sob gestão de instituições religiosas e farmácias privadas, os enfermeiros serviram nas linhas da frente da prestação de cuidados para os pacientes nas clínicas a nível da comunidade, disse Groves.

A prestação de cuidados de saúde nos Camarões enfrenta o problema relacionado com a destruição de cerca de um terço das instalações no norte do país, conflitos e falta de materiais, disse Groves.

Uma falta de médicos implica que os enfermeiros devem fazer ainda mais do que os seus colegas em outras partes do mundo. Uma falta de equipamento médico básico, e até de electricidade, implica que os enfermeiros devem ser criativos e flexíveis enquanto cuidam das necessidades dos seus pacientes, acrescentou Groves, uma professora da Universidade de Kingston, em Londres.

Contudo, nenhuma destas experiências preparou os enfermeiros camaroneses para a rápida propagação e para o impacto drástico da COVID-19.

Com relação a este assunto, a experiência dos Camarões reflectiu-se em toda a África, onde os sistemas de saúde frágeis rapidamente tiveram de enfrentar dificuldades para a provisão de equipamento de protecção suficiente para os funcionários, assim como oxigénio suficiente e camas para as unidades de cuidados intensivos para os pacientes.

Na África do Sul, o esgotamento mental e físico, muitas vezes, deixou hospitais com poucos enfermeiros quando mais deles precisavam. Esta situação agravou-se com a situação de funcionários que contraíram a COVID-19 e tiveram de ficar em quarentena. Era praticamente impossível substituir os enfermeiros por outros no hospital, porque carências semelhantes ocorreram em todo o quadro de pessoal, de acordo com um inquérito de gestores de enfermeiros, realizado pela Universidade da África do Sul.

“Não conseguia fazer uma alocação alternativa, porque havia uma grande carência de pessoal em todos os lugares,” um gestor de enfermeiros disse aos investigadores. “Não podia sequer pedir as outras enfermarias para utilizar o seu pessoal temporariamente ou pedir um substituto proveniente de outras enfermarias.”

Nalguns casos, gestores com pouco pessoal mantiveram enfermeiros em serviço mesmo enquanto esperavam pelos resultados do seu próprio teste de COVID-19. Pelo menos um enfermeiro sul-africano permaneceu em serviço mesmo depois de ter testado positivo para o vírus.

“Eu também testei, mas não tinha ninguém para me substituir,” um gestor de enfermeiros disse aos entrevistadores da Universidade da África do Sul. “Eu não podia ir para casa antes de receber os meus resultados. Tive de permanecer porque simplesmente não existia ninguém que eu podia deixar para fazer a gestão da enfermaria.”

De acordo com os investigadores, enfermeiros e gestores que testaram positivo para a COVID-19 enfrentaram estigma e discriminação. Eles também se arriscaram a sofrer de problemas de saúde mental devido à pressão e ao stress das suas condições de trabalho no início da pandemia.

As condições pioraram com a segunda vaga de infecções pela COVID-19 na África do Sul, que atingiu primariamente os jovens e também matou muitos profissionais de saúde, comunicou o estudo.

Apesar de suas dificuldades iniciais para confrontar a pandemia, os enfermeiros perseveraram e encontraram formas para superar as limitações, disse Groves.

Enquanto os sistemas de saúde respondiam à pandemia, aumentando equipamento de protecção, oxigénio e camas de unidades de cuidados intensivos, enfermeiros de toda a África utilizaram tecnologias, como conferências virtuais, para aprender de colegas de outros lugares do continente e para partilhar as suas práticas de tratamento de pacientes.

“Agora o uso da tecnologia está avançado,” disse Groves. Enfermeiros camaroneses agora trabalham com enfermeiros que se encontram na Nigéria, África do Sul, e em outros lugares, para melhorar as suas habilidades em lidar com a COVID-19, acrescentou.

Groves recomendou que os governos invistam muito mais na formação e na tecnologia para apoiar os seus enfermeiros. A pandemia demonstrou o poder dos enfermeiros para manter as suas comunidades saudáveis e seguras face a ameaças de saúde pública, disse.

“Existe a ideia de que os enfermeiros são os empregados dos médicos,” disse Groves. “Isso precisa de ser desmistificado.”

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