EQUIPA DA ADF
Em toda a África, aproximadamente 11 milhões de pessoas recuperaram da infecção pela COVID-19, mas novas pesquisas sugerem que menos de um terço destas pessoas podem ter recuperado por completo, com o resto estando em risco de enfrentar uma mistura de problemas de saúde conhecidos como “COVID longa”.
“Sem tratamento adequado, a COVID longa pode tornar-se uma nova condição de saúde a longo prazo altamente prevalecente,” Dr. Christopher Brightling, o co-líder do estudo da Universidade de Leicester, do Reino Unido, disse à Agência France-Presse.
O estudo de Brightling analisou mais de 800 pessoas que foram infectadas com a COVID-19 entre Março de 2020 e Abril de 2021. Cerca de 29% tinha recuperado por completo um ano depois de ter sido infectado. As mulheres tinham menos probabilidade de recuperar por completo, assim como as pessoas obesas.
Pessoas que passaram tempo em ventiladores mecânicos tinham 58% menos probabilidade de chegar a uma recuperação total.
“Depois de cada vaga de infecções, temos pessoas que ficaram com efeitos a longo prazo,” Mosa Moshabela, vice-reitora para pesquisa e inovação na Universidade de KwaZulu-Natal, disse à Newzroom Afrika.
“Não sabemos quem irá apanhar a COVID longa,” acrescentou Moshabela. “Não é preciso ter covid severa para ter COVID longa.”
A COVID longa não possui um diagnóstico definido. Os investigadores concluíram que pessoas que sofrem desta doença queixam-se de fadiga, dificuldade de respiração, confusão mental a qual se tem chamado de “nevoa mental” e outros sintomas.
Os sintomas da COVID longa geralmente começam logo depois que a infecção primária termina. Eles podem durar quatro semanas ou mais. Muito semelhantes às infecções pela COVID-19 em si, os casos de COVID-19 longa podem variar amplamente de ligeiros a graves.
“É verdade que a maior parte das pessoas que são infectadas não ficaram muito doentes, mas é impossível saber quem irá recuperar rapidamente e quem terá sintomas persistentes,” disse o Dr. Murray Dryden, um antigo investigador do Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis da África do Sul.
Uma equipa liderada por Resia Pretorius, a cientista-chefe do departamento de ciências da Universidade de Stellenbosch, na África do Sul, concluiu que a COVID longa está ligada à formação de coágulos microscópicos na corrente sanguínea de pessoas que se recuperam da infecção.
Os “micro-coágulos” não se desfazem como deviam, num processo conhecido como fibrinólise. Em vez disso, bloqueiam o oxigénio proveniente de certas células do organismo, levando à hipoxia.
“A hipoxia generalizada pode determinar a ocorrência de vários sintomas debilitantes registados” de COVID-19 longa, escreveu Pretorius, na sua análise.
De agora em diante, a COVID longa representará um desafio crucial para os países de baixa e média renda, que enfrentam a falta de recursos para diagnosticar e tratá-la, Dr. Otto Nzapfurundi Chabikuli, director do escritório regional para África Oriental e África Austral da organização sem fins lucrativos, FHI 360, escreveu no Devex.
“Todos os futuros planos precisam de ter em consideração a COVID longa,” Maria Van Kerkhove, técnica-chefe da Organização Mundial de Saúde para a COVID-19 disse durante uma recente conferência de imprensa. “Ainda não temos uma compreensão global sobre este assunto.”