EQUIPA DA ADF
O Tenente-Coronel Paul-Henry Sandaogo Damiba estava sentado em silêncio, trajado de uma boina vermelha e uma expressão séria, nos estúdios da televisão de Ouagadougou, no dia 24 de Janeiro, quando o porta-voz do exército do Burkina Faso anunciava o golpe de Estado que depôs o presidente eleito democraticamente naquele país.
A junta, que designou a si própria de “Movimento Patriótico para a Garantia da Restauração,” tomou o poder e Damiba foi nomeado o seu presidente.
O porta-voz disse que Damiba citou as falhas de segurança daquele país como a razão primária para a deposição do Presidente Roch Marc Christian Kaboré.
Um mês depois, a junta de Damiba conferiu-lhe o título de Presidente do Burkina Faso e, com ele, a tarefa de trazer a segurança e a estabilidade.
“Contudo, três meses depois do golpe de Estado, o exército ainda não foi capaz de reverter a crescente insegurança e os incidentes de violência que ocorrem quase que diariamente,” investigador Fahiraman Rodrigue Koné, escreveu no início de Maio para o grupo de reflexão sul-africano, Instituto de Estudos de Segurança.
“Em meio a uma emergência de segurança quase que sem fim e apesar das justificações oferecidas, os burquinabês já não estão dispostos a esperar mais. Se não forem atendidas de forma adequada, as suas expectativas podem levar a uma nova crise política que pode mergulhar o país numa outra instabilidade.”
Autor do livro “Exércitos da África Ocidental e o Terrorismo: Respostas Incertas?,” Damiba apresentou-se como um especialista em combate ao terrorismo que compreende as estratégias — tanto as bem-sucedidas como as malsucedidas — empregues na conturbada região do Sahel.
As notícias sobre o golpe de Estado de Janeiro foram recebidas com celebrações nas ruas por parte de alguns burquinabês que estavam fartos da crescente vaga de violência extremista.
Agora o governo de Damiba carrega a responsabilidade de garantir a segurança.
Ataques feitos por vários grupos extremistas islâmicos armados, que começaram a entrar no Burkina Faso a partir do vizinho Mali, mataram mais de 2.000 pessoas desde 2015.
Contudo, desde o golpe de Estado de Damiba, a segurança piorou. Incidentes de violência quadruplicaram e as mortes triplicaram em comparação com o mesmo período de 2021.
Entre 25 de Janeiro e 8 de Abril, houve 610 incidentes violentos e 567 mortes, na sua maioria causadas por grupos terroristas, de acordo com dados do Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED).
O país também está a lidar com a maior crise de refugiados na região do Sahel, com o Burkina Faso a apresentar uma parcela surpreendente de 64% de todos os deslocados da região.
A deslocação forçada de pessoas aumentou em 72.628 num mês, saindo de 1.741.655 no fim de Janeiro para 1.814.283 no fim de Fevereiro, de acordo com o Conselho Nacional de Ajudas de Emergência e Reabilitação.
No seu discurso de investidura, no dia 16 de Fevereiro, Damiba comprometeu-se em derrotar os terroristas. Ele prometeu reorganizar as forças de segurança do Burkina Faso e fortalecer as ligações entre a inteligência militar e as operações no terreno.
Com violência a continuar a aumentar, Damiba mudou o discurso durante uma transmissão nacional, no dia 1 de Abril, ligando a falta de progresso militar às instituições transicionais do governo que ainda devem ser compostas.
Ele também anunciou uma nova estratégia de segurança que disse que iria produzir resultados dentro de cinco meses. As grandes mudanças irão incluir a substituição dos chefes de comando, a criação de uma nova unidade nacional de operações, a melhoria do equipamento e chamar as tropas reformadas para fortalecerem a capacidade militar.
Num relatório do dia 16 de Maio, a organização sem fins lucrativos internacional, Human Rights Watch (HRW), alertou que novos problemas estão a emergir com a contínua carnificina.
“Documentei dezenas de casos de raparigas e mulheres que foram violadas sexualmente e agredidas fisicamente quando procuravam lenha, iam e voltavam dos marcados e fugiam das suas aldeias por causa da luta,” disse a Directora da HRW para África Ocidental, Corinne Dufka.
As forças de segurança do governo e milícias voluntárias pró-governo abusaram, raptaram e mataram civis.
Terroristas atiraram contra aldeias com recurso a morteiros e enterraram dispositivos explosivos improvisados nas estradas principais, matando dezenas de pessoas nestas últimas semanas enquanto reprimiam a ajuda humanitária.
A violência descontrolada também está a alimentar o recrutamento de crianças-soldado.
O aumento da instabilidade leva os burquinabês a olharem para Damiba impacientes à espera de respostas, o que a página da internet de notícias, Burkina24, exigiu no editorial do dia 11 de Abril.
“Fica-se com a impressão de que a situação de segurança não melhorou,” lê-se. “Cabe àquele que invadiu o Kossyam [Palácio Presidencial de Burkina Faso] tranquilizar rapidamente os seus compatriotas, não apenas com discursos belicistas, mas também com resultados concretos e visíveis.”